Em meio a um cenário um tanto difícil para o mundo, a temporada de premiações este ano tem acontecido de forma um pouco diferente do que estamos acostumados. Depois de ser adiada e com adaptações no formato da cerimônia, o maior prêmio do cinema, o Oscar, finalmente acontece no próximo domingo, dia 25 de Abril.

Em 2021, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood deve celebrar como o cinema encontrou maneiras de perseverar e se reinventar diante de um ano bastante desafiador para a indústria. Com isso em mente, listamos nossas tradicionais apostas para os vencedores da premiação.

Relembre nossa análise da cerimônia do ano passado

A lista será dividida em duas partes. Nesta primeira matéria você confere as categorias mais técnicas, incluindo som, figurino e fotografia, e também os curtas-metragens e documentários. Os prêmios mais cobiçados serão abordados na Parte 2.

Melhor Canção Original

Em um ano com concorrentes especialmente políticos, os longas Judas e o Messias Negro, Os 7 de Chicago e Uma Noite em Miami trazem canções originais que complementam bem a luta representada nos filmes. Aqui, “Speak Now” de Leslie Odom Jr. tem além do fator político o momentum de seu compositor e intérprete ser o vencedor do Tony por seu papel no musical Hamilton, configurando-o como um queridinho e trazendo talvez a única vitória da noite para o filme de Regina King.

“Husavik” e  “Io Sí” são as únicas indicações de suas respectivas produções, e enquanto o primeiro foi uma surpresa por seu fator cômico, o segundo carrega o nome da compositora veterana Diane Warren, indicada onze vezes na categoria mas sem nenhuma vitória até o momento. Tendo faturado o Globo de Ouro este ano, ela corre por fora aqui.

• “Io Sí” – Rosa e Momo
• “Fight for You” – Judas e o Messias Negro
• “Speak Now” – Uma Noite em Miami
• “Hear my Voice” – Os 7 de Chicago
• “Husavik” – Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

Melhor Trilha Sonora Original

Trent Reznor e Atticus Ross são os nomes a serem batidos este ano. Acumulando indicações por seu trabalhos em Mank e Soul, duas trilhas um tanto distintas entre si, a dupla que também integra a banda Nine Inch Nails é a favorita da noite por suas composições para a animação da Pixar (que respira música) e também é assinada pelo músico Jon Batiste.

Minari teve uma das trilhas mais belas da temporada e foi reconhecida com uma indicação para o pianista Emile Mosseri. Já Destacamento Blood, de Spike Lee, recebeu sua única indicação este ano aqui, sendo que Terence Blanchard havia sido indicado em 2019 por Infiltrado na Klan, outra colaboração com o diretor.  Quem já devia ter uma estatueta também é James Newton Howard, indicado oito vezes na categoria mas ainda sem nenhuma vitória. Este ano o compositor concorre por Relatos do Mundo.

• James Newton Howard – Relatos do Mundo
• Trent Reznor, Atticus Ross e Jon Batiste – Soul
• Terence Blanchard – Destacamento Blood
• Emile Mosseri – Minari
• Trent Reznor e Atticus Ross – Mank

Melhores Efeitos Visuais

Para bem ou para mal, Tenet foi um dos filmes mais comentados durante o auge da pandemia em 2020. Como um dos poucos blockbusters de grande orçamento dos estúdios a serem lançados nos cinemas, o ambicioso longa de espionagem de Christopher Nolan tem o caminho praticamente aberto para a vitória aqui – garantindo uma única estatueta ao filme.

Quem pode surpreender é O Céu da Meia-Noite, da Netflix. A ficção científica dirigida e estrelada por George Clooney tem cenas de grande beleza durante uma viagem espacial e possui um momento (trágico) específico do qual é impossível desviar o olhar.

• O Céu da Meia-Noite
• Tenet
• Mulan
• O Grande Ivan
• Amor e Monstros

Melhor Fotografia

Utilizando-se largamente de luz natural, Joshua James Richards confere a Nomadland uma abordagem visual quase documental, que complementa e realça o roteiro naturalista de Chloé Zhao.

Quem ameaça roubar o seu favoritismo é a fotografia em preto-e-branco de Mank, assinada por Erik Messerschmidt. Filmado em câmeras monocromáticas que emulam a Hollywood de 1930, a decisão influenciou diversos outros departamentos de arte do longa, que tiveram de pensar em como destacar seu trabalho sem cor. A composição de cenas e iluminação também foram um grande trunfo do longa, mas que ainda corre por fora.

• Phedon Papamichael – Os 7 de Chicago
• Dariusz Wolski – Relatos do Mundo
• Joshua James Richards – Nomadland
• Sean Bobbitt – Judas e o Messias Negro
• Erik Messerschmidt – Mank

Melhor Documentário

Mantendo a tendência das temporadas passadas de fortes concorrentes, a categoria de Documentário não decepciona em 2021. Novamente, a Netflix ganhou duas indicações (Professor Polvo e Crip Camp) e tem boas chances de levar a estatueta de novo com histórias sensíveis que cativam o público em suas conclusões.

Entretanto, a Amazon não fica atrás com Time, carregado de um discurso político importante contra o sistema penitenciário e jurídico dos EUA, o que deve impulsionar os votos da Academia na reta final.

Mais interessante dentre os cinco indicados, a produção romena Collective acompanha um trabalho de investigação jornalística incrível que chacoalhou o governo nacional com apurações sobre irregularidades no sistema de saúde do país. Porém, a obra não teve a mesma projeção que seus adversários e não deve ser contemplada – mas merece atenção. 

• Professor Polvo
• Collective
• Time
• Crip Camp: Revolução pela Inclusão
• O Agente Duplo

Melhor Documentário em Curta-metragem

Também pela força do streaming, a Netflix sai na frente na corrida desta categoria com Uma Canção de Amor para Latasha, lembrando a morte de uma menina negra nos EUA com relatos emocionantes de uma amiga. Na briga mais direta, A Concerto is a Conversation, produzido pelo The New York Times, fica no páreo pela abordagem mais pessoal e por referenciar o próprio Oscar, mas não deve atingir o suficiente nesta semana derradeira para levar o prêmio.

• Do Not Split
• Uma Canção de Amor para Latasha
• A Concerto is a Conversation
• Hunger Ward
• Collete

Melhor Direção de Arte

Líder de indicações em 2021, o mais provável é que Mank garanta apenas esta categoria pelo seu belo trabalho de ambientação da Hollywood nos anos de 1940. Vencedor em 18 prêmios nesse quesito, incluindo o Bafta e a Art Directors Guild, o longa dirigido por David Fincher não deve sair de mãos abanando como O Irlandês terminou no ano passado.

• Tenet
• Meu Pai
• Mank 
• A Voz Suprema do Blues
• Relatos do Mundo

Melhor Curta em Animação

Esta é outra categoria de curta-metragem em que a Netflix sai na frente. If Anything Happens I Love You, disponível no streaming,  é uma animação simples, sem diálogos e a mais impactante da lista.

A Disney+ também marca presença com Toca, o mais curto e fofo dentre os cinco. Apesar de Genius Loci superar todos no quesito beleza visual, a produção da Netflix deve levar por seu forte discurso.

• Genius Loci
• Toca
• Opera
• Yes-Peoploe
• If Anything Happens I Love You

Melhor Figurino

Com o resultado do prêmio do Sindicato dos Figurinistas, anunciado na última semana, A Voz Suprema do Blues confirmou seu favoritismo ao vencer a categoria de Melhor Figurino em Filme de Época, vencendo Emma, seu maior concorrente.

As figurinistas de ambos os longas já possuem um Oscar em suas prateleiras, mas Ann Roth, do filme da Netflix, ajudou na transformação de Viola Davis não só nos vestidos e acessórios usados pela personagem, mas também junto ao departamento de Cabelo e Maquiagem, tendo grandes chances de ter seu trabalho valorizado aqui.

• Mulan
• Mank
• Emma
• A Voz Suprema do Blues
• Pinóquio

Melhor Curta-metragem

Uma das categorias mais imprevisíveis e fracas se comparada às últimas edições, os curtas-metragem costumam surpreender pelas histórias instigantes e mais diretas, causando grande impacto. Dessa vez, três estão sendo cogitados como principais candidatos: Two Distant Strangers, The Letter Room e Feeling Through. 

Por estar disponível na Netflix, o primeiro é o mais acessível e o mais controverso da lista. Ao tratar a morte de negros nos EUA por policiais como situação inalterável e expor isso de forma muito gráfica, derrapa em sua já clara mensagem e homenagem a George Floyd, escolhendo sempre assassinar a sangue frio seu jovem protagonista, mostrando uma cena que não precisa mais ser repetida para passar um recado óbvio.

Portanto, nossa aposta fica com Feeling Through por inovar com um dos protagonistas sendo interpretado por um ator surdo-cego, escolha inédita e que funciona em sua narrativa simples.

• White Eye
• Two Distant Strangers
• Feeling Through
• The Letter Room
• The Present

Melhor Maquiagem e Cabelo 

Aqui a corrida fica entre as transformações de Viola Davis e Glenn Close em A Voz Suprema do Blues e Era uma Vez um Sonho, respectivamente. Ambas as produções da Netflix apresentaram suas estrelas de uma forma destemida com perucas e maquiagem pesadas, no primeiro caso, e com o uso de próteses complexas, no segundo caso, com o intuito de aproximar as atrizes de suas figuras da vida real em que as personagens foram baseadas.

Enquanto Mank e Emma fazem um ótimo trabalho com caracterizações de época mais clássicas, Pinóquio chama a atenção por um surrealismo híbrido entre menino e marionete, além de outras criaturas mágicas, e pode ser um azarão na categoria. No fim, com a vitória do sindicato, A Voz Suprema do Blues reafirma seu posto de favorito este ano e deve sair campeão no dia 25.

• Pinóquio
• A Voz Suprema do Blues
• Era uma Vez um Sonho
• Emma
• Mank

Melhor Som

40 anos depois, a categoria de Melhor Som volta a ser uma só em meio a controvérsias quanto à mudança. Enquanto uma parte defende que a Edição (criação e captação) é um exercício distinto da Mixagem (edição do conteúdo coletado), outra afirma que ambos andam juntos e pouco se diferenciam nos últimos anos.

De qualquer forma, são categorias que, tradicionalmente, acabam nas mãos de filmes de guerra. Neste ano, Greyhound é o candidato que se encaixa nesse perfil, porém, O Som do Silêncio nos entrega uma nova percepção sonora de deficientes auditivos, manipulando o som do longa de forma dinâmica e criativa, saindo na frente de qualquer adversário.

• Mank
• O Som do Silêncio
• Relatos do Mundo
• Soul
• Greyhound