Veredito de Era uma vez um sonho

09/12/2020 - POSTADO POR EM Filmes

Era uma vez um sonho de concorrer ao Oscar. A piada é ruim, mas se aplica perfeitamente ao projeto dirigido por Ron Howard (diretor de Uma Mente Brilhante, de 2001, e Han Solo: Uma História Star Wars, de 2018) estrelando Amy Adams e Glenn Close para tentar garantir uma nomeação da Academia. 

O longa chegou à Netflix no fim de novembro e gerou muita polêmica tanto para quem leu o livro do qual foi adaptado quanto para quem não conhecia a história de seu autor, J.D. Vance, produtor do filme. Confira nosso veredito.

Indo e voltando

Adaptação do best seller homônimo publicado em 2016, o autor/produtor J.D. Vance conta sua história de vida com uma família conturbada no fim dos anos 1990 nos EUA. Saltando entre a adolescência e a fase adulta do jovem, Ron Howard embarca em uma tentativa apelativa de fisgar o público pelo exagero.

O longa demonstra como o vício da mãe de J.D. (Owen Asztalos/Gabriel Basso), Bev (Amy Adams), em drogas e o embate constante com Mamaw (Glenn Close), matriarca de um núcleo familiar instável e grosseiro construíram uma infância difícil para o garoto.

Agora estudante de Direito da Universidade de Yale, J.D. precisa voltar para sua cidade natal para ajudar sua mãe em outra recaída, largando compromissos profissionais que podem definir seu futuro no mercado profissional.

Imagem: Divulgação

Superdramatização 

A estrutura narrativa partida acaba sendo usada para reforçar as complicações de cada personagem para reiterar um fato do presente. Em vez de seguir uma linha cronológica e focar na construção dos protagonistas, o filme aposta numa relutante repetição de gritaria e sofrimento gratuito para catapultar o teor dramático aos ares de forma desnecessária.

O ambiente é suficientemente pesado pelas circunstâncias da família desmembrada e endividada com uma responsável a ponto de um colapso mental. Expor conflitos verbais – e até físicos – com um menino de 13 anos a cada 15 minutos de filme é forçar demais. O público já entendeu a problemática do contexto. 

As presenças de Adams e de Close, que merecem e aguardam um Oscar há anos, contribui para o diretor justificar essa atitude. Se há duas grandes atrizes no elenco, por que não abusar do talento dramático delas? É aí que tudo passou do ponto.

Imagem: Divulgação

Valor das atuações

A performance de Close causou dúvidas na própria equipe da produção. A atriz assumia uma interpretação mais exagerada do que no roteiro para se aproximar da figura real, o que gerou controvérsias nas primeiras críticas do longa: enquanto uns reclamavam da atuação, outros aplaudiam. 

“Na tentativa de sermos autênticos, tivemos dificuldades porque ela era muito acima do limite de como a estávamos retratando. Se fôssemos muito abaixo, não pareceria com a avó, mas se fôssemos muito próximos, pareceria loucura para outras pessoas. Era irônico: quanto mais autênticos nós íamos, menos autêntico parecíamos”, relatou a roteirista Vanessa Taylor em entrevista à IndieWire.

Já Adams está em seu papel mais fora do eixo recente como uma enfermeira que vai contra tudo e contra todos em busca do prazer pessoal. Cogitar indicações aos prêmios tradicionais é precipitado, mas não descartável. Afinal, quem viu Rami Malek ser coroado por Bohemian Rhapsody em 2019 não se surpreende tão facilmente.

Imagem: Divulgação

Veredito

Era uma vez um sonho é o famoso Oscar bait. Faz de tudo para fisgar indicações, nem que precise elevar o tom do filme para um drama que nem entrega a melhor das histórias.

O roteiro também mostra um J.D. como um exemplo clássico do “não importa de onde você seja, se você se esforçar e lutar pelos seus sonhos, vai conseguir”. O arco de garoto traumatizado para se tornar um advogado seguro configura um discurso meritocrático sem sal e que tem em seu protagonista apenas um conector entre os dois destaques da história: sua mãe e sua avó.

Howard, diretor do exaltado Uma Mente Brilhante e dos questionáveis Solo e adaptações de livros do Dan Brown, mirou no Oscar e acertou o Framboesa de Ouro neste ano. Incômodo e esquecível. 

Pontos negativos

  • Dramatização além do ponto
  • Discurso meritocrático duvidoso

Pontos positivos

  • Presenças de Glenn Close e de Amy Adams

Nota: 4