Veredito de Os Sete de Chicago

28/10/2020 - POSTADO POR EM Filmes

O nova longa de Aaron Sorkin, roteirista de A Rede Social e diretor de A Grande Jogada, chegou à Netflix em outubro. Os Sete de Chicago explora um episódio emblemático da política norte-americana na década de 1960, com um elenco recheado de estrelas e um ritmo alucinante. Será que é tão bom quanto dizem? Descubra agora.

A Convenção

Os Sete de Chicago não segue uma ordem narrativa cronológica dos fatos, escolha que tanto beneficia quanto prejudica seu ritmo. O julgamento dos sete jovens mais o líder dos Panteras Negras, que caiu de paraquedas no tribunal por escolha política, ocorreu cinco meses após o protesto durante a Convenção do Partido Democrata dos EUA. 

O encontro reúne milhares de pessoas de todos os estados do país para definir o candidato do partido às eleições gerais de quatro em quatro anos. Um palanque perfeito para uma grande manifestação em 1968, no começo da Guerra do Vietnã, que exigia participação de jovens norte-americanos para lutar e morrer em nome da pátria.

Porém, até chegar ao momento do protesto, causa maior do julgamento, Sorkin opta por alternar as cenas no tribunal com os flashbacks do planejamento dos organizadores. De acordo com o desenrolar dos julgamentos, somos apresentados ao que de fato ocorreu para o atrito com a polícia de Chicago, que terminou em mais de 700 feridos.

Imagem: Divulgação

O conflito entre as esquerdas

Os oito envolvidos no caso foram acusados pelo Governo por crime federal por conspiração para cruzar as linhas estaduais e incitar distúrbios. As cenas no tribunal exigiam um elenco de peso para o filme, com Mark Rylance como um defensor público de atitude, Joseph Gordon-Levitt como o promotor em conflito e Frank Langella como o juiz parcial.

Os holofotes recaíram sobre as duas principais lideranças progressistas do julgamento: Tom Hayden (Eddie Redmayne), presidente do Estudantes por uma Sociedade Democrática e Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen), fundador do Partido Internacional da Juventude, os yippies.

A disputa pelo domínio discursivo entre os dois lados é um ponto muito explorado pelo roteiro. Enquanto Abbie aposta em uma “revolução cultural” para acabar com a Guerra, Tom acredita que esse movimento atrasa a “verdadeira revolução”. O embate entre as visões dos dois líderes, porém, não é aprofundado como deveria, sendo apenas um recurso narrativo para criar embate entre os protagonistas.

Imagem: Divulgação

Dinâmica em cena

Um problema visto em A Grande Jogada se repete aqui: muitos diálogos não parecem naturais. A impressão que fica é de uma troca de discursos sarcásticos e velozes coreografada, em um ritmo tão frenético que é difícil assimilar o peso dramático das cenas. 

Sorkin esbanja um texto construído com fluidez e alfinetadas, mas não consegue transpor isso à tela de maneira que não pareça robótico. Um estilo que até diverte, mas perde potência nas interpretações e momentos decisivos ao longo da trama.

Imagem: Divulgação

Veredito

O elemento “tribunal” e toda a sua construção se sobrepõe aos próprios personagens e suas motivações, ideologias e lutas. Sorkin os usa como meras peças de um jogo bem planejado e articulado, com foco apenas no cenário do julgamento, não nas particularidades políticas dos grupos. 

A crítica ao sistema jurídico norte-americano da época é tão estampada que a análise de conjuntura necessária para entender os motivos que resultaram naquele momento é insuficiente. Uma aula de história de pouco mais de duas horas sem aprofundamento. Como entretenimento é ótima. Agora, como obra para incitar reflexão, é rasa.

A qualidade das atuações alavanca o ritmo, com Rylance puxando boa briga como advogado de defesa contra o juiz Julius (Langella), que insufla raiva a quem assiste em cada vez que discursa. 

A decepção – não por culpa dele – fica para Michael Keaton, introduzido como uma espécie de Deus ex machina para os acusados na figura de Ramsey Clark, procurador-geral dos EUA na época dos protestos. Sua presença salvadora no julgamento – SPOILERS À FRENTE – promete uma esperança de reviravolta, mas é rapidamente cortada, e sua participação é desperdiçada.

O desfecho de Os Sete de Chicago, embora não seja surpresa por ser um fato histórico, não segue o que realmente ocorreu em sua cena final, cafona e forçada. 

Pontos negativos

  • Falta de profundidade nas críticas políticas
  • Diálogos robóticos pouco críveis

Pontos positivos

  • Elenco de destaque segura o ritmo

NOTA: 6,5