Oscar 2020: uma esperança em meio ao caos

12/02/2020 - POSTADO POR and EM Conteúdo

E não é que o Oscar veio e foi sem grandes traumas? Coroando “Parasita” como o melhor filme do ano, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas finalmente indicou ser capaz de reconhecer que um filme em língua estrangeira pode ser melhor que os esforços de seus próprios conterrâneos. Além de mostrar que ainda há esperança para vozes diversificadas, quais outras conclusões tiramos desta edição do maior prêmio do cinema? Confira nosso veredito do Oscar 2020.

Foto: Divulgação

Busca por se manter relevante

Não é de agora que a Academia tem lutado contra uma queda constante de público. Após um recorde de audiência negativo histórico em 2018, ano de “A Forma da Água”, as coisas haviam melhorado com o formato sem apresentador ano passado. Mas é possível que muita gente só tenha ligado a televisão para assistir Lady Gaga e Bradley Cooper na performance de “Shallow”, uma vez que esse ano o mesmo formato não foi um sucesso.

Com 23.6 milhões de espectadores, contudo, a noite do Oscar continua sendo a premiação televisionada mais assistida do entretenimento, e muito do público tem migrado para meios digitais. A emissora americana ABC tem feito de tudo para entregar a cada ano uma cerimônia que engaje o público, coisa que esta edição não fez tão bem.

Sem apresentações musicais capazes de atrair uma fanbase muito grande (Beyoncé e Taylor Swift foram barradas na categoria de Canção Original), quem chegava mais perto de fazê-lo era o veterano Elton John e a novata Billie Eilish, que, recém-laureada no Grammy, ficou encarregada de prestar tributo aos artistas que Hollywood perdeu no último ano. Mas a transmissão havia guardado uma surpresa das grandes: 17 anos depois de ter ignorado a Academia, Eminem subiu ao palco da premiação para apresentar sua música vencedora do Oscar “Lose Yourself”. Sem dúvidas o momento mais wtf!? da noite.

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Altos e Baixos

Com um sistema novo de “recapitulação” dos indicados, foram veiculados vídeos que intercalaram as atuações dos concorrentes, estendendo a cerimônia. Outro recurso desnecessário foi utilizar apresentadores para introduzir outros apresentadores, algo que não fez muito sentido.

Como de praxe, a cerimônia se fez política de forma a compensar a falta de diversidade nos indicados (esse ano, dos 20 indicados nas categorias de atuação, havia 1 negro). Mas, com o tempo, essa atitude de protesto acaba perdendo o impacto quando não são sentidos resultados reais no Oscar. Por mais incrível e empolgante que tenha sido a abertura de Janelle Monáe e Billy Porter, fica a sensação de que todo aquele show é apenas isso – um show.

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Resultados agridoces

As surpresas negativas deste ano (felizmente) não foram tão grandes quanto as do ano passado, com os prêmios mais questionáveis ou inesperados sendo entregues a “Ford v Ferrari” pela Montagem, a “Indústria Americana” por Documentário e a “Toy Story 4” por Animação. Trabalhos decentes, mas que concorriam com obras cuja vitória seria mais significativa.

No quesito de Animação, a condecoração de “Toy Story 4” é compreensível devido ao primor técnico e ao lobby da Pixar, puxando a estatueta para uma saga amplamente conhecida. “Klaus”, com um história natalina diferenciada e uma animação mais experimental, foi um dos grandes injustiçados da noite.

Em Documentário, a derrota de “Democracia em Vertigem” já era esperada, enquanto o único filme americano na categoria, abordando a indústria dos EUA, garantiu o favoritismo como mandante. Uma decepção para o forte “For Sama” e para “Honeyland”, primeira produção a ser indicada simultaneamente em Documentário e na categoria de Filme Estrangeiro.

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O Efeito Parasita

O longa de Bong Joon-Ho se tornou o 1° de língua não inglesa a levar o prêmio e somente o 3° a conquistar, no mesmo ano, a Palma de Ouro de Cannes e o Oscar. Os últimos haviam sido “The Lost Weekend” (1945) e “Marty” (1955). O reconhecimento pelo já consagrado cinema oriental finalmente chegou à mente da Academia. Nos famosos bolões, esse ano a maioria votou por “1917” pela desesperança dos votantes premiarem “Parasita”, embora o merecimento do filme fosse quase consenso entre quem apostava.

A saída do eixo EUA-Europa gera uma expectativa pelos próximos anos. Como a fileira da frente do Oscar tão bem torceu para que o microfone subisse novamente e deixasse o elenco do filme terminar seus agradecimentos, parece que não se pode mais silenciar a força do cinema internacional. Será que veremos um longa latino finalmente levando o prêmio? Interpretações em outros idiomas, como a do elenco do grande vencedor deste ano, continuarão sendo ignoradas? 

Bem, depois deste domingo, uma coisa podemos confirmar: como o repórter Justin Chang havia escrito para o Los Angeles Times, “o Oscar precisava mais de ‘Parasita’ do que o filme precisava do Oscar”. Quem estava na cerimônia parecia reconhecer isso: a alegria obtida do prêmio final era visível – um contraste marcante com o vencedor do ano passado, recebido com aplausos mornos. Em meio a um marasmo sem rumo na premiação, o filme coreano trouxe novo fôlego para a indústria. Que venham outros “parasitas” pela frente.