Veredito de Nomadland

17/04/2021 - POSTADO POR EM Filmes

Indicado ao Oscar 2021  em 6 categorias, incluindo Melhor filme e Melhor atriz para a protagonista Frances McDormand, Nomadland é um retrato do nomadismo moderno. A produção recém estreou no Brasil e contamos a vocês se o favoritismo à premiação é merecido ou não.

Vida na estrada

Fern (Frances McDormand) é uma mulher na casa dos 60 que perdeu seu marido e seu lar durante a Grande Recessão. Agora ela viaja pelos Estados Unidos em sua van, trabalhando em empregos temporários ao redor do país e conhecendo todo tipo de pessoa nos encontros promovidos pela comunidade nômade.

O longa é baseado no livro Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century (2017), uma obra de não ficção escrita pela jornalista americana Jessica Bruder. A direção e o roteiro são de Chloé Zao, uma diretora novata de filmes independentes, mas que já garantiu bons elogios da crítica por seus dois trabalhos anteriores. E vale lembrar que ela está no comando de Os Eternos, produção da Marvel cotada para sair ainda este ano.

Momentos de contemplação

Vamos começar aqui dizendo que esse filme não é para todo mundo. Normalmente se fala isso de produções controversas, com humor peculiar ou que seriam consideradas muito diferentes pelo grande público. No caso de Nomadland isso acontece pela escolha narrativa e da direção de dar ao filme um grande ar de contemplação.

Explicando melhor, o que temos aqui são, em geral, cenas longas, com poucos diálogos, intercaladas por cenas mais curtas mostrando momentos muito específicos do dia a dia. O filme todo tem um ar de documentário, mas não de um jeito que busque emular o gênero como os mockumentaries, apenas de uma maneira em que nos parece estarmos apenas acompanhando o recorte na vida de uma pessoa.

Isso é reforçado pela escolha de Zao de colocar não-atores como parte do elenco. Personagens como Linda May, Swankie e Bob Wells são nômades da vida real que emprestaram elementos de suas histórias para fazerem parte da narrativa do longa. A equipe de filmagens esteve presente de verdade em todas as locações, eles passaram meses viajando pelo interior dos Estados Unidos e morando em vans para entenderem melhor sobre o nomadismo.

Foto: Divulgação

As falhas do capitalismo

Ao mostrar a vida nômade de Fern, que é o reflexo de uma grande crise econômica, o filme não pode deixar de dar aquela cutucada no sistema capitalista. Nem todos da comunidade adotaram esse estilo de vida por razões financeiras, alguns simplesmente escolheram o nomadismo para ter mais liberdade ou conhecer mais lugares antes de morrer, mas mesmo assim é impossível não chegar à conclusão que esse tipo de retrato vai contra tudo que o tão falado “sonho americano” prega.

Essas pessoas não criam raízes, elas não almejam ter uma casa no subúrbio, com tudo que puderem comprar dentro e um carro na garagem. As suas vidas buscam uma alternativa a esse modo mais capitalista, elas trabalham em empregos sazonais e consomem apenas o essencial. Mas essa é uma visão que cabe ao espectador refletir sobre, como dito antes, o filme é um recorte de uma vida, mas ele não se aprofunda em críticas ao sistema.

Veredito

Nomadland é o típico filme de Oscar com diversas características impecáveis: roteiro, direção, fotografia, trilha sonora e atuações. Frances McDormand está muito à vontade fazendo uma personagem mais silenciosa e que não encara grandes conflitos em cena, mesmo assim a atriz consegue passar tudo que a trama necessita para Fern e o faz muito bem. O trabalho dos não-atores também merece destaque por sua veracidade em tela.

A direção de Zao nos fornece cenas exteriores incríveis e isso em um momento em que passamos meses dentro de casa, o que só torna a experiência ainda mais bonita aos nossos olhos. Porém o seu aspecto contemplativo tende a afastar o espectador comum, que geralmente precisa de mais estímulos visuais para se prender a uma trama.

O nomadismo não deixa de ser uma prática pouco existente em lugares como o Brasil, o que também deve dificultar uma conexão maior com o público daqui. Mas no todo é uma boa experiência, vemos o recorte da vida de alguém, é algo simples e com preocupações cotidianas. O longa deixa algumas reflexões para o espectador, mas não vai a fundo em suas críticas, preferindo focar na visão da protagonista.

Na corrida para o Oscar e com base na temporada de premiações, é quase certo que Nomadland leve Melhor filme e Melhor direção para Zao. Nas demais categorias, temos chance para McDormand levar Melhor atriz, embora a disputa esteja acirrada, e também para Fotografia.

Foto: Divulgação

Pontos positivos

  • Direção, fotografia, trilha e roteiro impecáveis
  • Uso de não-atores
  • Ótima entrega de McDormand ao papel

Pontos negativos

  • Não vai à fundo nas críticas que propõe
  • Contemplativo, pode afastar o espectador regular

NOTA: 9,0