Oscar 2019: Prevendo os vencedores – Parte 2

22/02/2019 - POSTADO POR and EM Filmes E Oscar

Agora que já fizemos nossas apostas nas categorias mais técnicas do Oscar, chegamos enfim aos prêmios mais aguardados da noite – incluindo a cobiçada estatueta de Melhor Filme. Confira a seguir nossas previsões para a premiação que ocorre no próximo domingo (24), a partir das 22h. Lembrando que você também poderá acompanhar a cobertura pelas nossas redes sociais.

Melhor Animação

A Disney conta com duas sequências indicadas em sua categoria cativa. A continuação de “Detona Ralph” (2012) acabou não encantando o público como o primeiro filme, enquanto a parceria com a Pixar 14 anos depois de “Os Incríveis” foi suficientemente divertida e digna da espera, mas que poderia ter ousado mais.

É sempre bom ver animações estrangeiras concorrendo aqui, caso da fantasia “Mirai”, do estúdio japonês Chizu. Quem também explora o ambiente do Japão é “Ilha dos Cachorros”, de Wes Anderson, com diversos momentos sem tradução do japonês, deixando o filme em stop motion ainda mais realista, além do conhecido visual simétrico dos filmes de Wes, e uma excelente trilha sonora, pela qual recebeu indicação neste ano.

Porém, quem se tornou o favorito na disputa foi o lançamento da Sony Pictures Animation, que aproveitou seus direitos sobre a franquia do Homem-Aranha e finalmente fez algo de bom com isso. Homem-Aranha no Aranhaversoacerta ao trazer Miles Morales, o primeiro aracnídeo negro da Marvel. A animação emprega técnicas não convencionais inspiradas nas HQs, e fazem com que o espectador sinta-se assistindo uma história em quadrinhos.

  • “Ilha dos Cachorros” 
  • “Os Incríveis 2”
  • “Mirai”

  • “Homem-Aranha no Aranhaverso”

  • “Wifi Ralph – Quebrando a Internet”

 

Foto: Divulgação

Melhor Filme Estrangeiro

Em uma categoria onde alguns filmes são melhores do que os indicados a Melhor Filme, temos “Cafarnaum” com uma interpretação infantil forte e uma história difícil de digerir. É a segunda indicação do Líbano nesta categoria na história, com “O Insulto” representando na edição passada.

Indicado também a Melhor Fotografia, “Nunca Deixe de Lembrar” se baseia em uma história real sobre um pintor durante e depois do nazismo na Alemanha. O longa é obra de Florian Von Donnersmarck, vencedor nesta categoria em 2006, por “A Vida dos Outros”.

O retrato da classe operária do Japão em “Assunto de Família” traz uma análise das relações que constroem e perpassam uma família disfuncional. Sua abordagem quieta e progressivamente devastadora humaniza casos que normalmente seriam retratados de forma vil na mídia, e questiona o que realmente constitui os laços familiares.

Paweł Pawlikowski está indicado pela direção do longa polonês “Guerra Fria”, que conta 21 anos da vida de um casal durante o período de tensão política. Embora curto e em preto e branco, a simples história é executada com calma e com grande intensidade visual, aliado a interpretações incríveis.

Uma possibilidade para fazer justiça à qualidade dos filmes desta edição seria “Guerra Fria” levar o prêmio e “Romao Oscar de Melhor Filme, porém não temos certeza se Cuarón vencerá. Portanto, a Academia deve, pelo menos, premiar o longa mexicano nesta categoria.

  • “Guerra Fria” (Polônia) 
  • “Roma” (México)
  • “Assunto de Família” (Japão)
  • “Nunca Deixe de Lembrar” (Alemanha)
  • “Cafarnaum” (Líbano)

Melhor Roteiro Adaptado

Nasce uma Estrelaé a quarta versão de uma história clássica que foi atualizada nas mãos de um diretor estreante e de uma atriz inexperiente no cinema. Mas isso não impede dessa previsível história ser bem executada e emocionar seu público, garantindo uma merecida indicação por Roteiro Adaptado.

Adaptado do livro de mesmo nome, “Se a Rua Beale Falasse” é forte na disputa, com uma história comovente, atuações firmes e uma bela trilha sonora, além de ter o vencedor do Oscar por “Moonlight”, Barry Jenkins, como roteirista.

Baseado nas memórias da autora Lee Israel, “Poderia me perdoar?” investe em criar uma empatia por personagens que não deveriam merecê-la, e ganhou o prêmio de mesma categoria no WGA, o Sindicato de Roteiristas dos EUA.

A Balada de Buster Scruggs” reúne 6 contos clássicos do Velho Oeste. Pela sua natureza “episódica”, especulava-se que a obra seria dividida em uma minissérie, mas a Netflix lançou a produção de fato como um filme, na forma de um livro de contos que passeia pelas histórias de tragicomédia. Vale lembrar que os irmãos Coen já venceram a categoria duas vezes, por “Fargo” (1996) e “Onde os Fracos Não Têm Vez” (2007).

Em 2014, Ron Stallworth, protagonista de “Infiltrado na Klan”, publicou seu relato de como fingiu ser um racista para entrar na Ku Klux Klan. Nas mãos de Spike Lee, a improvável história ganhou forma nas telonas e cativa pela sua premissa descontraída e impactante. É a chance da Academia condecorar Lee, esnobado em tantos anos, e que não deve levar mais nada neste ano. O longa também venceu o BAFTA de melhor roteiro adaptado, aumentando ainda mais suas chances no Oscar.

  • Barry Jenkins (“Se a Rua Beale Falasse”)
  • Spike Lee, Charlie Wachtel, David Rabinowitz e Kevin Willmott (“Infiltrado na Klan”)

  • Nicole Holofcener e Jeff Whitty (“Poderia me perdoar?”)

  • Eric Roth, Bradley Cooper e Will Fetters (“Nasce uma Estrela”)

  • Joel e Ethan Coen (“A Balada de Buster Scruggs”)

 

Foto: Divulgação

Melhor Roteiro Original

Numa categoria difícil, o único concorrente não indicado a Melhor Filme aqui é “No Coração da Escuridão”, texto denso e filosófico do roteirista Paul Schrader, um veterano da indústria que escreveu grandes filmes como “Taxi Driver” (1976) sem nunca ter sido premiado.

Com “Vice”, Adam McKay recebe sua segunda indicação em roteiro com mais um filme intrinsecamente americano que aborda temas complexos de forma educativa e ao mesmo tempo cômica-inventiva. Ele levou o prêmio de Roteiro Adaptado em 2016, por “A Grande Aposta”.

Quem possui mais força aqui são os candidatos que têm mais chances de levar Melhor Filme. “Roma” possui um texto suave, contemplativo e autoral de Cuarón, que acaba tendo mais chances na categoria de diretor. “Green Book: o Guia” levou o Globo de Ouro, mas as controvérsias do roteirista e do diretor podem estar afetando o momentum do filme. Resta “A Favorita”, que recentemente levou o BAFTA e tem como benefício não ter o usual selo “estranho” do diretor Yorgos Lanthimos.

  • Alfonso Cuarón (“Roma”)
  • Nick Vallelonga, Brian Currie e Peter Farrelly (“Green Book: o Guia”)
  • Deborah Davis e Tony McNamara (“A Favorita”)
  • Adam McKay (“Vice”)
  • Paul Schrader (“No Coração da Escuridão”)

Melhor Atriz Coadjuvante

Amy Adams já se tornou figurinha carimbada nas indicações ao Oscar, mas seu papel em “Vice” não foi tão proeminente e parece que ainda não é dessa vez que a Academia está disposta a premiá-la. A surpresa das categorias de atuação foi que não só Yalitza Aparicio foi indicada como Melhor Atriz, mas Marina de Tavira, também por “Roma”, conseguiu uma vaga em Atriz Coadjuvante. Apesar de ser um belo gesto, as mexicanas não devem levar o prêmio.

Se Rachel Weisz e Emma Stone brigam pela atenção da rainha em “A Favorita”, aqui elas disputam pelo reconhecimento da Academia. Entre elas, Weisz parece levar a melhor, mas levando em conta que ambas já possuem um Oscar e seus votos podem ser divididos (e acabarem se cancelando), Regina King tem grandes chances de levar a estatueta por seu papel em “Se a Rua Beale Falasse”, já tendo levado o Critic’s Choice e o Globo de Ouro.

  • Marina de Tavira (“Roma”)
  • Rachel Weisz (“A Favorita”)
  • Emma Stone (“A Favorita”)
  • Regina King  (“Se a Rua Beale Falasse”)
  • Amy Adams (“Vice”)

 

Foto: Divulgação

Melhor Ator Coadjuvante

Indicados pela primeira vez, Sam Elliot e Richard E. Grant roubam a cena em “Nasce uma Estrela” e em “Poderia me Perdoar?”, respectivamente. Sam se torna quase um antagonista ranzinza no filme de Gaga, e Richard se opõe sendo o espontâneo – e único – amigo da personagem de Melissa McCarthy. Porém, nenhum deles deve levar a estatueta.

Enquanto Adam Driver tem a complexa missão de fingir ser um extremista conservador em “Infiltrado na Klan”, Sam Rockwell mal aparece em “Vice” como o ex-presidente dos EUA, George W. Bush. Vencedor da mesma categoria ano passado, sua atuação se baseia somente em enrugar a testa, bem abaixo de seu papel em “Três Anúncios para um Crime”.

O favorito dessa vez, e que arrastou praticamente a vitória todos os prêmios, é Mahershala Ali. Interpretando Shirley, um culto músico que cria uma amizade com um italiano preconceituoso, Ali carrega, junto a Viggo Mortensen, o controverso porém esperançoso “Green Book: o Guia”.

  • Adam Driver (‘‘Infiltrado na Klan”)
  • Sam Rockwell (“Vice”) 
  • Mahershala Ali (“Green Book: o Guia”)
  • Richard E. Grant (“Poderia me perdoar?”)
  • Sam Elliott (“Nasce uma Estrela”)

Melhor Ator

Enquanto no ano passado o Oscar para Melhor Ator não teve surpresa, desta vez esta é, provavelmente, a categoria mais difícil. Não por termos atuações tão brilhantes que fizesse justiça a qualquer vencedor, mas o contrário.

O nível foi muito abaixo do esperado, com Bradley Cooper entregando a performance mais convincente de um astro da música alcóolatra em “Nasce uma Estrela”, onde também foi diretor. Assim como Ethan Hawke, foi esquecido pelas premiações. Quem mais ganhou destaque na corrida pelo Oscar foram Christian Bale e, pasmem, Rami Malek.

Ambos são grandes artistas, com atuações marcantes em “Psicopata Americano” e em “Mr. Robot”, por exemplo. A questão é que nenhum deles entregou o necessário para merecer o ápice do reconhecimento na carreira de um profissional do cinema. Embora seja difícil imaginar a Academia entregando o prêmio por uma interpretação de um velho político gordo dois anos seguidos, também é complicado de engolir uma dublagem junto de uma dentadura saliente recebendo a honra.

Desse modo, optamos por escolher os dois mais prováveis a levar a estatueta, pela dificuldade de chegar a um consenso.

  • Christian Bale (“Vice”)
  • Viggo Mortensen (“Green Book: o Guia”)
  • Bradley Cooper (“Nasce uma Estrela”)
  • Rami Malek (“Bohemian Rhapsody”)
  • Willem Dafoe (“No Portal da Eternidade”)

 

Foto: Divulgação

Melhor Atriz

Conhecida por seus papéis em comédias, Melissa McCarthy impressiona pela mudança em “Poderia me perdoar?”, como uma autora em declínio que busca de qualquer forma se sustentar, e faz do espectador seu torcedor embora crie, ao mesmo tempo, um sentimento de revolta por suas ações. Curiosamente, a atriz conseguiu o feito de ser indicada no mesmo ano ao Oscar e ao Framboesa de Ouro (que premia os piores trabalhos da indústria), por seu papel na sátira obscura aos Muppets “Crimes em Happytime”.

Temos duas atrizes praticamente estreantes indicadas esse ano, de trajetórias totalmente distintas. Apesar de Lady Gaga já estar acostumada com as câmeras e os holofotes, este foi o seu primeiro  papel de protagonista no cinema, para o qual ela apareceu de cara limpa e trouxe uma imagem refrescante para o público. A artista é uma performer nata, mas ainda tem uma distância a ser percorrida para se tornar uma grande atriz.

Enquanto isso Yalitza Aparicio era uma professora de pré-escola no México, que foi descoberta pelo diretor Alfonso Cuarón e teve de aprender o dialeto Mixteca utilizado em “Roma”. Foi seu primeiro trabalho como atriz, e uma indicação merecida – que acabou despertando a ira e a inveja de atrizes consolidadas na televisão mexicana.

No fim do dia, porém, os melhores trabalhos foram entregues por duas personalidades maduras que se encontram no ápice de seus talentos. Esta é a sétima indicação de Glenn Close, que foi peça central e a melhor coisa do filme “A Esposa”. Há um sentimento geral entre os votantes de que esse é o ano dela, enquanto Olivia Colman, que interpretou uma rainha Anne atormentada por conflitos internos e subverteu de forma fantástica um jogo de poderes e dissimulação, corre por fora.

  • Lady Gaga (“Nasce uma Estrela”)
  • Olivia Colman (“A Favorita”)
  • Yalitza Aparicio (“Roma”)
  • Glenn Close (“A Esposa”)
  • Melissa McCarthy (“Poderia me perdoar?”)

Melhor Diretor

Se o nível dos filmes desta temporada estão abaixo da média, a qualidade na direção continua a mesma. Com 3 estrangeiros concorrendo por obras magníficas, surge a dúvida se o melhor cinema de fato é feito pelos EUA. Lanthimos e Pawlikowski estão aqui para provar o contrário. Enquanto o grego extrai de suas protagonistas o melhor de suas atrizes, o polonês nos leva a um cinema da década de 50, com proporções de tela reduzidas e um foco afiado no desenvolvimento de uma história de amor.

Spike Lee finalmente recebe sua primeira indicação por um filme ao mesmo tempo cômico, polêmico e impactante, unindo a técnica a uma trama incitante. Já McKay novamente traz um longa quase documental, embora ágil e esclarecedor de temas tão complexos como a política internacional.

Quem merece toda a exaltação lançada sobre ele é Alfonso Cuarón pela sensibilidade de “Roma”, uma obra de um enredo “simples” executado com maestria e calma para mostrar o ordinário de uma visão diferente. Um manifesto pessoal de um artista que produziu, escreveu, dirigiu e fotografou o filme. Aliás, é a primeira vez que uma pessoa é indicada a Fotografia e a Direção num mesmo ano. Todo mérito a Cuarón é pouco.

  • Spike Lee (“Infiltrado na Klan”)
  • Yorgos Lanthimos (“A Favorita”)
  • Pawel Pawlikowski (“Guerra Fria”)
  • Alfonso Cuarón (“Roma”)
  • Adam McKay (“Vice”)

 

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Melhor Filme

E chegamos ao Oscar mais esperado da noite. Em meio à discussão de quem deveria ou não estar nesta lista, a Academia optou por 8 indicações, seguindo um padrão que se repete há 10 anos.

Uma boa surpresa dessa vez foi o primeiro longa de super herói indicado a Melhor Filme: “Pantera Negra. Após uma década do Universo Cinematográfico da Marvel, finalmente uma de suas produções tem a honra de concorrer ao prêmio mais cobiçado da indústria. Presente em 7 categorias, o representante de Wakanda une uma criação de ambiente meticulosa com personagens bem desenvolvidos. As chances são baixas, mas seria incrível vê-lo subindo ao palco.

Há quase um consenso geral que Bohemian Rhapsody” seja o mais fraco da categoria. Apesar de divertida, é uma produção elevada pelas músicas do Queen, mas que não se sustenta como um filme digno de tamanho reconhecimento – e que não faria falta se estivesse fora desta lista. Outra obra musicada é “Nasce uma Estrela”, que, em contraste, contou com performances ao vivo que contribuem para a autenticidade do longa ainda que não o tornem merecedor do maior prêmio de Hollywood.

“Vice” é competente no que se propõe, mas a obra de Adam McKay é inconvencional demais para a Academia, e premiar um filme sobre a ascensão ao poder de um político branco no governo Bush não seria uma escolha muito esperta. Quem também perde um pouco pelo caráter exótico é “A Favorita”, do diretor Yorgos Lanthimos. De caráter essencialmente britânico, a grande vitória do longa no BAFTA fez sentido, mas não deve se repetir na América.

A questão racial é abordada de forma oposta por dois diretores esse ano. “Green Book: o Guia”, é de Peter Farrelly, diretor branco que tem no currículo filmes como “Débi e Lóide” (1994) e traz um retrato mais feel good movie da amizade entre um branco e um negro nos EUA de 1960.

“Infiltrado na Klan” é de Spike Lee. Tido como um dos maiores diretores negros dos Estados Unidos, o veterano entregou uma obra que retrata uma amizade semelhante, mas com um aprofundamento e uma visibilidade questionadora maior para ambos os lados. Mostrando o quanto o assunto ainda é atual, o filme de Lee pode ter impactado mais, enquanto o de Farrelly pode ter acalentado os corações, de forma que ambos podem conseguir um bom número de votos.

Fechando a lista, “Roma” é a obra com mais indicações neste Oscar, ao lado de “A Favorita”, totalizando 10 menções. O drama narra o dia a dia de uma doméstica em um México dos anos 70. Por trás de todo o processo de criação e de execução está Alfonso Cuarón, vencedor do Oscar de direção em 2014 por “Gravidade”, e que toma a liberdade em “Roma” de relembrar sua infância no bairro de mesmo nome da Cidade do México.

Sendo a manifestação mais pura do cinema como arte desta lista, alinhada à uma demonstração de técnica primorosa ,“Roma” pode representar mais uma grande vitória para o México em Hollywood, ao mesmo tempo em que seria o reconhecimento final de que a era do streaming (afinal, estamos falando de um filme da Netflix) veio para ficar e transformar a indústria.

  • “Roma”
  • “A Favorita”
  • “Nasce uma Estrela”
  • Bohemian Rhapsody
  • “Green Book: o Guia”
  • “Infiltrado na Klan”
  • “Pantera Negra”
  • “Vice”

 

Foto: Divulgação