Mundo em Caos: um caos de adaptação

13/05/2021 - POSTADO POR EM Filmes

Adiada algumas vezes por conta da pandemia, a adaptação do romance homônimo de Patrick Ness chega aos cinemas munida de um ótimo elenco e com um roteiro do próprio autor do livro. Mas será que isso foi o suficiente para fazer de Mundo em Caos um bom longa de ficção científica? Descubra agora no nosso veredito.

Novos e antigos colonos

A editora Intrínseca é a responsável pelo lançamento nacional das obras que inspiraram essa adaptação. Até agora estão disponíveis os dois primeiros volumes da trilogia literária, intitulados Mundo em Caos (2019) e A Pergunta e a Resposta (2021).

O filme tem uma premissa semelhante à do primeiro volume da série: Todd Hewitt (Tom Holland) é um garoto que vive em um planeta recém-colonizado pela raça humana. Neste lugar todos os homens foram contaminados por uma coisa chamada Ruído, que permite a qualquer um ver os seus pensamentos. Não há mulheres em seu vilarejo e Todd vê uma garota pela primeira vez ao conhecer Viola (Daisy Ridley), que chegou do espaço.

A partir desse ponto é que a trama se difere do seu material de origem, se utilizando de outros recursos para avançar a narrativa e também mudando a dinâmica da relação entre Todd e Viola, assim como os desafios que ambos enfrentam. Portanto é seguro dizer que se você for um fã do livro, essa é uma adaptação que irá lhe decepcionar. Mas irei falar melhor dessa parte depois.

Imagem: Divulgação

Dinâmica do Novo Mundo

Ignorando o fato de ser uma adaptação literária, já que nem todo mundo que assistir ao longa terá a bagagem do livro antes, vamos falar sobre o que o filme tem a nos oferecer por si só.

Como construção de mundo, o longa faz um ótimo trabalho. Os ambientes são bastante convincentes e a computação gráfica é competente. A partir da ambientação podemos entender que aquele planeta reúne pessoas avançadas tecnologicamente o bastante para viajar entre mundos, mas que ao chegar nele precisam criar o básico para ser o ponto de partida da sua sociedade. Por isso, vemos muitas ruínas resultantes de tentativas que falharam, seja por falta de recursos ou por conflitos entre as pessoas.

Quanto aos personagens, mesmo que seus atores estejam em boa forma, eles simplesmente são rasos demais para criar empatia. O prefeito Prentiss (Mads Mikkelsen), que deveria ser o grande antagonista, em nenhum momento consegue soar ameaçador, assim como o seu filho David (Nick Jonas), que nada mais é do que um jovem bobo e sem utilidade para a narrativa.

Outro largado e que faz parte do time do prefeito é o fanático Aaaron (David Oyelowo). Sua obsessão com a ligação entre religião e a chegada de Viola são extremamente caricatas, além de não levarem a nada. Passando para ela e Todd, o que falta aos dois é motivação. O fato de iniciarem uma jornada juntos não contribui para construir uma relação entre ambos, que soa bastante forçada

Imagem: Divulgação

Livro x Filme

Como já falado anteriormente, o livro se utiliza apenas da premissa básica de Mundo em Caos para iniciar sua narrativa. Depois que Todd e Viola partem de Prentisstown, a trama se envereda para outros lados, seguindo passos bem diferentes do livro.

Isso não seria necessariamente um problema: já acompanhamos obras que se diferem do material original ou até o expandem e fazem isso de maneira competente. A questão aqui é que o longa não consegue atingir esse feito, soando mais como uma sombra da narrativa literária por querer simplificar demais a história para quem não a conhecia previamente. Isso faz com que ela não se sustente por si própria.

A meu ver os dois maiores problemas estão no antagonista, que no livro não é o prefeito diretamente. A presença deste é apenas sugerida, o que contribui para se criar uma aura em torno do personagem e quando ele finalmente aparece é muito impactante, além de ameaçador. Embora Mikkelsen seja um grande ator, não há como comparar as duas aparições. 

O outro ponto é a relação de Todd e Viola. Na série literária temos uma excelente construção do relacionamento de ambos; eles demoram pra confiar um no outro, há vários altos e baixos, mas é isso que torna a relação crível. O filme os mostra juntos meio porque sim, além de criar uma obsessão de Todd pela garota apenas para cumprir a obrigação de um romance.

Imagem: Divulgação

Veredito

Mundo em Caos enquanto filme não se sustenta e está muito abaixo do seu material original em qualidade. É estranho pensar que o roteiro foi criado pelo próprio autor do livro, porém não sabemos até que ponto podem ter acontecido interferências externas para modificar o resultado final. Até porque o fim do longa não é em aberto como na obra literária, o que pode indicar que o estúdio não quis arriscar no caso de não haver uma continuação.

O fato é que ele só consegue acertar na ambientação, mas o roteiro não nos dá chances de empatizar com os personagens, tampouco de criar relações plausíveis entre eles. Tom Holland e Daisy Ridley se esforçam, ambos são carismáticos por si só, mas, seja por falta de uma boa direção ou pela trama em si, eles não conseguem ser uma dupla dinâmica em cena.

Infelizmente, Mundo em Caos fica aqui como mais uma adaptação que falhou em honrar seu material original e que também não irá satisfazer aqueles que só querem assistir uma boa ficção científica. Entretanto, caso a história tenha lhe chamado a atenção, sugiro que dê uma chance aos livros: são dois volumes lançados e em breve a Intrínseca deve anunciar a chegada do último da trilogia.

Pontos positivos:

  • Boa ambientação
  • Atuações competentes 

Pontos negativos:

  • Roteiro fraco
  • Personagens com motivações pobres
  • Relação mal construída entre os protagonistas

Nota: 4,0