Veredito de Mundo em Caos

18/01/2021 - POSTADO POR EM HQs/Livros

Com uma adaptação prevista para chegar aos cinemas ainda em 2021, Mundo em Caos é o primeiro livro de uma trilogia que chega em terras brasileiras pelas mãos da Intrínseca. A editora nos disponibilizou o volume e vamos contar para vocês tudo sobre essa distopia caótica.

Ruído

Em Prentisstown não há segredos, todos os homens foram há muito infectados com uma praga conhecida como Ruído, que faz com seus pensamentos sejam expostos 24h por dia. Essa mesma infecção acabou com todas as mulheres e agora os residentes desta cidade são o último remanescente humano no Novo Mundo.

Todd Hewitt tem 12 anos e falta um mês para que vire um homem, ele nunca viu uma garota na vida, a não ser no Ruído de seus compatriotas. Isso até dar de cara com um silêncio no meio do pântano, algo tão poderoso e quieto que o faz querer chorar. Todd encontra uma menina escondida nos confins da cidade e não consegue ouvir seus pensamentos, o que o perturba demais. 

Devido esse segredo, o garoto é obrigado a deixar Prentisstown e junto a sua nova companheira e seu cachorro Manchee, Todd irá partir para descobrir que há muito mais no Novo Mundo do que aquela velha cidade abandonada. E também que todos os homens de lá compartilham mais de um segredo sombrio.

“Então eu escuto.
E escuto.
Viro um pouco para o lado e escuto de novo.
Tem um buraco no Ruído.
Não pode ser.”

Mundo em Caos, pág. 21.

Novo Mundo

O primeiro grande ponto a favor de Mundo em Caos é a sua diagramação. O livro tem 426 páginas, mas com suas letras grandes e linhas espaçadas a leitura flui muito fácil. Outro motivo para isso é que tudo ocorre do ponto de vista do nosso protagonista e de uma maneira que parece que estamos lendo os pensamentos dele, assim como faríamos com seu Ruído caso estivéssemos frente a frente.

A princípio essa parece uma escolha narrativa estranha, pois leva a páginas de frases curtas, ou então a parágrafos longos e quase sem ponto ou vírgula, para simular uma linha de pensamento contínua. Porém, logo que você se acostuma e entende o valor dessa escolha para a história fica mais fácil compreender o relato. 

O que também evidencia isso é a forma como Todd pronuncia muitas palavras de maneira errada. Veja bem, ele é um garoto de uma cidade do interior com poucos habitantes, logo descobrimos que por conta do Ruído não há escola e sua educação foi limitada, pouco sabendo ler ou escrever, assim faz sentido a sua narração simplória. Quando observamos o conjunto desses elementos, podemos ver o quanto eles são importantes para uma melhor imersão na história e uma escolha acertada do autor.

“- Todd.- O latido de Manchee sobre um tom.
Viro pra ele.
– Quié?
– Todd! TODD!!!
Então todos ouvimos. Passos pesados esmagando arbustos e quebrando gravetos caídos e Ruído, Ruído, Ruído e ah, droga, Ruído.”

Mundo em Caos, págs. 78 e 79.

Altos e baixos

Com um início muito forte e que te prende logo de cara pela mudança de paradigma, – Todd tinha uma vida estabelecida e agora será lançado ao desconhecido – o livro consegue manter uma narrativa frenética quase que o tempo todo. Com capítulos curtos e de fácil leitura, vemos a maioria deles terminar com um gancho ou um plot twist que te fará querer ver o que aguarda os protagonistas nas próximas páginas. 

Infelizmente a narrativa esbarra em alguns pontos fracos no caminho. Mesmo que alcance seu propósito posteriormente, é estranha a maneira como um determinado personagem sempre consegue encontrar Todd, Manchee e a garota. Parece um recurso repetitivo para manter a sensação de perigo, mesmo que inúmeras outras ameaças sejam encontradas no caminho também.

Outro ponto baixo é a famigerada revelação importante deixada para o final. Mesmo que uma informação ou outra seja novidade, o panorama geral da coisa pode ser facilmente captado pelo leitor pelas pistas deixadas ao longo da história. Então quando chega o momento de todos sentarem e darem suas devidas explicações parece que é como alguém fazer um alarde pra te contar um segredo que no final você já sabia.

“E eu estou olhando para ela, o sol brilha em cima da gente, e enquanto eu estou pensando essas coisas os olhos dela ficam cada vez mais arregalados, e é nesse momento que eu entendo outra coisa idiota, outra coisa óbvia.
Só porque eu  não ouço nenhum Ruído dela, não significa que ela não ouça cada palavra do meu.”

Mundo em Caos, pág. 103.

Imagem: divulgação

Veredito

Mundo em Caos consegue prender o leitor com sua narrativa fluida e frenética. Para aqueles que estão acostumados com histórias em que o protagonista parte em uma jornada, enfrentando vários desafios até seu objetivo final, essa é uma boa pedida. Mesmo se passando em um planeta diferente, não há nada de muito estranho em sua ambientação, o que deixa os lugares por onde os protagonistas passam mais palpáveis.

Mesmo com a repetição e a falha na revelação final apontadas anteriormente, essa ainda é uma boa leitura e que conta uma história com temas pertinentes. É um mundo novo, mas com problemas que são nossos velhos conhecidos, como a falta de privacidade, relacionamento com a natureza, masculinidade tóxica e machismo. Vendo pelos olhos de um garoto jovem e que ainda está descobrindo o mundo, nós somos levados a refletir sobre todas essas questões.

A má notícia é que o livro termina com um gancho que irá te fazer querer ler a continuação imediatamente, mas a boa notícia é que o próximo volume da trilogia, chamado de A Pergunta e a Resposta, deve chegar em março no Brasil. Iremos aguardar ansiosos por esse lançamento e também pela adaptação cinematográfica estrelada por Tom Holland e Daisy Ridley, qual dos dois chegar primeiro.

Pontos positivos

– Leitura fluida
– Reflexões importantes
– História instigante

Pontos negativos

– Repetição de uma mesma ameaça
– Momento de explicações tardio

NOTA: 9