Doctor Who: Operação Rosa Parks

27/10/2018 - POSTADO POR EM Séries

No terceiro episódio da 11ª temporada de “Doctor Who”, tivemos o encontro da Doutora e companhia com uma personalidade do mundo real que mudou o rumo da história. Estamos falando de Rosa Parks, símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.

Agora, contamos aqui o que achamos de “Rosa”, um episódio inspirador e cheio de emoção. Embarque nessa história que mistura ficção e realidade com a gente!

* Confira o review dos episódios anteriores: “The Woman Who Fell to Earth” e “The Ghost Monument”.

Alabama, 1955

Se você pensa que a Doutora tem controle total sobre a TARDIS, está muito enganado. Muitas vezes, a nave é quem escolhe o destino/lugar em que nossa heroína deve estar. E, desta vez, enquanto tentavam voltar para Sheffield, nosso time é levado para Montgomery, nos Estados Unidos, dos anos 1950.

Enquanto o grupo explorava o local tentando entender porque a nave os levou para lá e para aquela época, acaba esbarrando na rua com Rosa Parks (Vinette Robinson), uma costureira negra que tornou-se o símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, quando a sociedade ainda era extremamente segregacionista.

Um pequeno evento causa grandes consequências

Descobrindo que havia outro viajante do tempo em Montgomery, Krasko (Josh Bowman), com planos de mexer com a linha do tempo de Rosa para mudar o futuro, nossos heróis encontram sua missão da vez. Eles precisam estragar os esforços do vilão, impedindo qualquer alteração na linha cronológica da história e evitando consequências sérias no futuro.

A narrativa peca um pouco no quesito “vilão da semana”, pois o desenvolvimento é fraco, os confrontos são mornos e a derrota é rápida e fácil. Além disso, o antagonista não mostra uma motivação relevante para querer mudar o futuro, mostrando-se apenas como um neonazista espacial. Só podemos esperar e especular que, com o passar da temporada, descubramos que existe alguma ligação entre Krasko e o arco principal como um todo, pois seu passado traz referências a elementos já conhecidos pelos fãs.

Foto: Divulgação/BBC

Racismo escancarado

O terceiro episódio retrata um momento bastante delicado da história: quando pessoas negras eram totalmente separadas dos brancos. Podemos sentir esse tapa na cara desde a primeira cena até a última. (#Demms)

Em reencarnações anteriores, o Doutor viajou para o passado com companheiras negras, como Martha Jones e Bill Potts. As viajantes mostravam-se receosas de como seriam recebidas em um período em que pessoas “de cor” tinham pouca ou nenhuma liberdade, mas as situações vividas por elas não chegaram a ser tão fortes.

Martha encarou uma versão racista do Doutor, que por ter perdido a memória acabou influenciado pelo contexto. Bill pode ver que existiam mais negros do que o esperado, afinal, a história que “embranqueceu” tudo. Apesar disso, as situações vividas por elas na questão “cor da pele” não chegaram a ameaçar suas integridades físicas.

Desta vez, o capítulo abordou de forma direta as várias problemáticas inerentes do racismo e da segregação observadas na sociedade da época. Ryan Sinclair, teve de encarar situações extremamente constrangedoras por ser negro: nosso amigo foi xingado, ameaçado e chegou a ser agredido. Em outro momento, a nossa gangue foi enxotada de um estabelecimento pelo simples motivo de “não servirmos negros”. Se, a gente ficou com uma dor no peito, imagina a Doutora que tem dois corações?

Foto: Divulgação/BBC

Uma história jamais vista na sala de aula

“Doctor Who” foi criada com o propósito de ser um programa educativo, mas com o sucesso obtido, acabou tornando-se algo voltado mais para a aventura. Ainda assim, nunca deixou de ensinar algo ao trazer personalidades históricas de verdade para o universo da série, misturando o ficcional com o real.

Chris Chibnall, showrunner atual da série, demonstrou grande interesse de trazer de volta esse tom e assim o fez. Tivemos uma verdadeira aula de história vestida de entretenimento. Nossos heróis ficcionais entraram no mundo real e fizeram parte de um momento histórico. A pior parte é que, diante de uma situação crucial, estavam proibidos de interferir no curso dos acontecimentos, mesmo que fosse de partir o coração. Foi notável a interpretação dos atores, especialmente a de Bradley Walsh (Graham), e pudemos não só enxergar como sentir a dor e a emoção de ter estar presenciando tudo aquilo sem poder fazer nada.

Ao final, ainda pudemos assistir a uma Doutora, em seu momento bem professoril. De forma encantadora, ela conta para os seus companheiros e para nós, espectadores, sobre as dificuldades enfrentadas e as vitórias conquistadas por Rosa, como ela se tornou um ícone de resistência e luta, e o legado deixado por ela para a sociedade e para o universo.

Foto: Divulgação/BBC

Veredito

“Rosa” não é um típico episódio de “Doctor Who”, pois a ficção científica é só um pretexto para contar outra coisa. Embora se passe nos anos 1950, a história trata-se de um tema bastante atual que deve ser discutido. E nada melhor do que o entretenimento para trazer a tona assuntos tão delicados, porém importantes para as rodas de conversa.

Por isso, o episódio torna-se extremamente relevante e necessário, para que nunca esqueçamos do que realmente importa e de que a luta nunca deve parar, pois ainda temos muito o que caminhar como seres viventes em um universo tão vasto. (#Demms)

Além de tudo, é interessante notar que Grace (avó de Ryan e esposa de Graham), apesar de não estar viajando nessa aventura com o grupo, continua tendo uma forte presença, sendo mencionada sempre. Será que ela volta? #VoltaGrace