Após conquistar quatro Oscars com Pobres Criaturas (2023), Yorgos Lanthimos volta aos cinemas com seu novo filme, Tipos de Gentileza (2024). Este longa, que marca a quinta colaboração entre Lanthimos e Emma Stone, promete explorar temas complexos com a assinatura única do diretor.
Fomos convidados para assistir à produção em uma sessão especial e vamos contar nossas impressões. Acompanhe.
Enredo
Três tramas compõem o enredo de Tipos de Gentileza. A primeira segue um homem sem livre-arbítrio, disposto a tudo para agradar outra pessoa que escolhe tudo acerca de seu destino.
Na segunda, acompanhamos um policial cuja esposa, dada como desaparecida no mar, retorna com um comportamento que o intriga. Já a terceira trama mostra uma mulher que tenta encontrar algo muito específico capaz de torná-la líder da seita a qual participa.
Abordagens diferentes
Ao abordar o tema das seitas, Lanthimos não se limita a questionar se elas são certas ou erradas, mas investiga o que leva uma pessoa a se submeter a esse tipo de controle e até onde alguém pode ir em nome de suas crenças. O mais interessante dessa história é imaginar que ela nem é tão surreal assim, já que várias seitas já viraram notícias por suas práticas absurdas.
A segunda história mostra o quanto a intuição humana é algo que pode ser um tipo de gentileza consigo mesmo. Escutar e acreditar naquilo que pensamos é imprescindível para evitar sofrimento individual e coletivo. No entanto, ela também alerta para o perigo de deixar essa intuição se transformar em obsessão.
No primeiro enredo a gentileza é mostrada do ponto de vista de agradar alguém e até onde uma pessoa pode ir, a ponto de se anular como indivíduo e passar o controle da sua vida. Embora o enredo seja uma extrapolação, ele reflete situações reais, muitas vezes vividas por mulheres, algo já normalizado em nossa sociedade. Por isso, a escolha do diretor de mostrar um homem nessa posição torna a história ainda mais impactante.
Pontos que se destacam
As histórias são interessantes, mas nem todas são tão fluidas. A primeira, embora a menos envolvente, possui um ritmo coeso. A segunda, apesar de ser a mais intrigante, parece se prolongar desnecessariamente, sem saber muito bem onde parar. Já a última, com uma temática atual, prende o espectador com sua concisão e ritmo acelerado.
A fotografia está simplesmente impecável, mesclando de maneira inteligente o preto e branco nos momentos de reflexão e o uso de cores nos acontecimentos propriamente ditos. Os enquadramentos misturam cenas abertas com momentos em close de forma acertada.
O elenco, com exceção de um ator que repete o mesmo papel nas três histórias, interpreta personagens diferentes em cada trama. Essa escolha combinou bastante com a ideia geral do filme.
Veredito
Tipos de Gentileza não é o primeiro filme a mostrar enredos diferentes em um único longa, entretanto esse é talvez o mais provocativo. É impossível ficar indiferente, especialmente diante de situações tão esdrúxulas que parecem inverossímeis, mas que provocam reflexão sobre convivência em sociedade e as concessões feitas para ser aceito.
Dessa forma, o longa não é tão inovador quanto tenta se vender, mas tem um olhar mais artístico e provocativo sobre os temas que traz em tela. Lanthimos não teme chocar e causar desconforto, e sua direção autoral é evidente, mesmo dentro de sua zona de conforto, o que é um ponto positivo. O longa consegue ser surpreendente sem ser previsível.
Pontos positivos:
- Elenco
- Direção
- Fotografia
- Tramas
Pontos negativos:
- A primeira história não é tão provocante quanto as outras
- A segunda história dá voltas desnecessárias na sua trama.
NOTA: 8/10