Veredito: Tudo o que achamos da segunda temporada de 3%

05/05/2018 - POSTADO POR EM Séries

A segunda temporada de “3%” já está disponível na Netflix! Com uma proposta distópica de um mundo justo para uma pequena parcela da humanidade, a série brasileira de ficção científica se reinventa em seu novo arco, trazendo novos personagens e bons dilemas morais.

Confere aí o que achamos!

O Maralto é logo ai

Depois de passarem no Processo 104, Michelle e Rafael, que fazem parte dos 3% que chegam ao outro lado, alcançam, finalmente, o tão almejado Maralto, lugar onde as pessoas do Continente têm a oportunidade de uma vida melhor. Entretanto, apesar de passarem nesse sistema meritocrático bastante concorrido, os dois personagens, que possuem uma relação quase antagônica, encontram-se nutridos de um sentimento de insatisfação para com o lugar em que se encontram. Insatisfação essa baseada em seus dilemas morais e pessoais, com os quais precisam lidar para encontrarem a justiça que tanto buscam. Mesmo que isso signifique o fim do sistema do qual são beneficiados.

Em contrapartida aos participantes selecionados para “o lado de lá”, Joana e Fernando continuam no Continente, passando pelas injustiças e desigualdades presentes nesse lugar quase sem lei e que, sequer, possui estruturas básicas para a população. Marginalizados pelo sistema, os dois personagens que provaram suas capacidades na primeira temporada, retornam neste arco para tentar encontrar um meio de subverter o sistema e destruir o Processo.

Foto: Divulgação

A insatisfação e a realidade social  

Em sua segunda temporada, “3%”, que sempre possuiu enfoque em questões de cunho moral, expande as discussões de seu primeiro arco e cria novos enfoques e histórias, aproximando-se mais da realidade político-social na qual o Brasil se encontra. Assim, a série se monta em uma clara alegoria das injustiças sociais presentes na sociedade, questionando o falso sistema de meritocracia e a comum marginalização das massas.

É clara a dicotomia entre a realidade do Maralto – uma civilização rica, organizada e eficiente; e o Continente – um lugar marcado pela miséria, com inúmeras injustiças e frequentes demonstrações de subjugamento do Maralto. São dois extremos, onde quem viverá neles é selecionado por meio de um Processo, que, no caso em questão, representa o mérito das pessoas de ascender ou não para uma vida melhor do “outro lado”.

Os protagonistas, Michelle, Joana, Rafael e Fernando, são personificações das insatisfações com esse sistema subdividido de mérito. Eles, apesar de discordarem do que seria o Estado, possuem visões diferentes de seus problemas e possíveis soluções, o que cria, durante a série, inúmeras discussões ideológicas que expõe uma diversidade bastante rica na personalidade e motivações de cada personagem.

Não só o núcleo principal, mas outros personagens também demonstram uma complexidade moral e social dentro da trama, o que só aprimora o valor das discussões trazidas pela série e reitera o seu ponto mais forte: as questões sociais que ela aborda.

Não só o núcleo principal, mas outros personagens também demonstram uma complexidade moral e social

Aline Ramos

Foto: Divulgação

A criação de um mundo melhor

Além do já citado desenvolvimento da série no que seria a preparação para o Processo 105, a obra apresenta curtos flashbacks sobre a história da criação do Maralto e do sistema de avaliação para alcançá-lo. Somos, então, apresentados ao Trio Fundador e seus ideais para criar uma civilização “perfeita”, nos primórdios dessa realidade que conhecemos na série.

Coberta de mistérios, a história mostra os dilemas e os questionamentos a respeito da essência humana e do comportamento desviante da sociedade, entrando no mérito de discutir o que seria uma sociedade perfeita e de como ela deveria ser construída. O que se mostrou, pela realidade alcançada, ser um método segregacionista e questionável, onde apenas os selecionados têm direito a esta utopia, restando às “maçãs podres” a marginalização e o descaso.

Por fim, “3%” é uma série brasileira inovadora, com uma proposta diferente e instigante, que apesar de seguir um tom, às vezes, novelesco, apresenta uma história profunda e bem desenvolvida. É uma obra que, em sua segunda temporada, amadurece tecnicamente e narrativamente, expandindo seu universo e suas histórias, além de enriquecer suas discussões e reflexões. Traz personagens complexos, contraditórios e interessantes, que são capazes de emocionar e instigar o telespectador para entender suas motivações e atitudes. Se constrói, assim, como uma série forte, atual e importante.

“3%” é uma série brasileira inovadora, com uma proposta diferente e instigante

– Aline Ramos

Foto: Divulgação