Veredito da 2ª temporada de Yellowjackets

29/05/2023 - POSTADO POR EM Séries

Se você curte produções que dão um nó na sua cabeça e são propensas a te fazer criar mil teorias, como Westworld (2016-2022) ou Lost (2004-2010), então já deve conhecer Yellowjackets. Lançada em 2021 e com um elenco cheio de musas dos anos 90, a série fisgou o público logo de cara com sua trama à la Senhor das Moscas (1954), mas com protagonistas femininas.

Este ano a produção voltou para sua segunda temporada, exibida no Brasil pela Paramount+, prometendo trazer mais respostas para as perguntas deixadas pelo ano anterior. Mas será que Yellowjackets conseguiu manter o mesmo nível da primeira temporada? É o que você vai descobrir nesse veredito.

De volta à floresta

No novo ano de Yellowjackets continuamos acompanhando nossas protagonistas em duas linhas temporais: a queda de avião em 1996 e a sua vida atual em 2021. Em ambas vemos que as vidas de Natalie (Juliette Lewis/Sophie Thatcher), Shauna (Melanie Lynskey/Sophie Nélisse), Misty (Christina Ricci/Sammi Hanratty) e Taissa (Tawny Cypress/Jasmin Savoy Brown) só vão de mal a pior.

No passado os sobreviventes precisam lidar com a dificuldade de sobrevivência escalonando, o que os leva a apelar ao canibalismo. Já no presente o grupo procura entender como lidar com esses traumas que foram ignorados por tanto tempo, em meio a uma tentativa de escapar da polícia e de um misterioso culto. E tudo isso embalado por uma excelente trilha sonora, fica a dica para vocês ouvirem as músicas da série.

Imagem: Divulgação

Altos e baixos

Apesar da grande quantidade de mistérios, a primeira temporada da série soube como equilibrá-los de forma a trazer boas revelações ao mesmo tempo que não deixava nossa curiosidade esfriar. E apesar dos pontos altos que o novo ano trouxe, no geral ele não mantém um ritmo tão satisfatório quanto o anterior.

Principalmente quando vai se aproximando do final, fica claro que a temporada enrolou o espectador mais do que deveria. Não por falta de matéria, até porque algumas narrativas foram simplesmente abandonadas e outras tiveram um hiperfoco

Certo, vamos aos exemplos na prática. O desenvolvimento de Shauna no primeiro ano era cativante nas duas linhas do tempo, mas depois de ter assassinado seu amante, sua versão adulta ficou presa em um envolvimento com a polícia que teve avanços pontuais e muita repetição. Em contrapartida, toda a questão da dupla personalidade de Tai em determinado momento parou de ter desdobramentos, escanteando até mesmo a sua família da narrativa.

Infelizmente as outras adultas ficaram em pontos parecidos, talvez a exceção sendo a introdução da versão mais velha de Lottie (Simone Kessell), o que possibilitou a revelação de novas camadas sobre a personagem, impactando também na visão que temos sobre ela no passado.

Imagem: Divulgação

O que restou para o passado?

Agora, voltando aos acontecimentos de 1996, a sensação de repetição também surge, o que muito se deve ao fato de não termos saído do inverno. Na primeira temporada houve um avanço mais rápido das estações, já nessa permanecemos presos no momento mais difícil do grupo. Sim, aqui tivemos um divisor de águas para os sobreviventes – vide canibalismo -, porém não dá pra escapar da sensação de que muitas das cenas que estão acontecendo se repetem.

Mas, para não ser injusta, talvez a intenção da série seja de acompanhar de forma devagar mesmo a perda de humanidade dos sobreviventes. É inegável ali que temos ótimos momentos que revelam a crueza que tomou conta do grupo e como todos ali ficam cada vez mais delirantes, precisando apelar realmente para os instintos de sobrevivência para continuarem vivos.

Lembrando que o número total de sobreviventes no presente ainda pode mudar, como essa própria temporada revelou, mas ainda há muito chão para essas pessoas até a primavera e várias coisas ainda devem rolar até chegarmos ao ponto do que foi mostrado no início da série. Se você não se lembra, a cena que abre o primeiro ano de Yellowjackets mostra uma garota sendo caçada na floresta durante o inverno, depois ela é morta e consumida de uma forma um tanto ritualística. Essa temporada definitivamente deixou o grupo mais perto disso, mas ainda não chegamos lá.

Imagem: Divulgação

Veredito

Yellowjackets apostou em uma temporada que revela o pior de seus personagens, e mesmo sendo intencional fica difícil acompanhar acontecimentos tão pesados sem a perspectiva de ser recompensado com algo positivo (The Handmaid’s Tale que o diga). Por isso, os roteiristas precisam tomar muito cuidado em como vão conduzir essas histórias e como manter o interesse do público por mais tempo.

O segundo ano falhou em manter a trama coesa e bem amarrada, deixando uma série de pontas soltas ao longo dos episódios em si e não apenas no final. Porém continua acertando ao mostrar a decadência moral do grupo de sobreviventes em ambas as linhas do tempo, deixando eles muitas vezes apelando apenas para o instinto em vez da racionalidade.

Inclusive o embate entre o sobrenatural e o racional foi um pontos altos da temporada, trazer acontecimentos bizarros e depois levantar explicações dúbias é algo que a série faz desde o ano anterior, deixando pano pra manga para várias teorias. Afinal, tem mesmo algo de sobre humano naquela floresta? Ou o grupo simplesmente passou por traumas demais e se refugiou em uma espécie de culto próprio para justificar suas atitudes amorais? Existem bons argumentos em ambos os lados e vamos esperar que mais revelações sobre esse embate surjam na próxima temporada – além da retomada dos plots abandonados, façam esse favor.

Pontos positivos:

  • Trilha sonora
  • Novas camadas para Lottie
  • Interessante embate entre sobrenatural e racional

Pontos negativos:

  • Trama cheia de altos e baixos
  • Muitas repetições
  • Plots abandonados

NOTA: 7,5