Veredito da 2ª temporada de Euphoria

01/03/2022 - POSTADO POR EM Séries

Com uma mistura de emoções do começo ao fim, Euphoria (2019 – ) é uma das poucas séries da atualidade que consegue fazer seu espectador sentir raiva, tristeza, euforia e alegria dentro de um mesmo episódio. 

Retratando uma adolescência que pode parecer muito distante para quem já tem mais de 25, mesmo assim a série, desde seu início, conseguiu abordar de forma muito crua temas bastante pertinentes à juventude, como a sexualidade, busca por identidade, relacionamentos, auto aceitação e outros.

Com isso, chegamos cheios de expectativas para o novo ano do fenômeno que garantiu à sua estrela, Zendaya, seu primeiro Emmy como Melhor Atriz. Mas o que vimos foi que, talvez, adicionar tantas emoções a esse caldeirão possa ter feito tudo transbordar de maneira inesperada.

Onde foi que paramos?

O novo ano iniciou pouco depois dos eventos da primeira temporada. Como não poderia ser diferente, vemos nosso grupo de jovens em uma festa, prestes a comemorar a virada do ano. Um ótimo pontapé para mostrar em que lugar se encontrava cada trama individual.

Rue (Zendaya) continua se drogando e agora encontrou um novo amigo para ajudá-la com isso. Jules (Hunter Schafer) está tentando mudar, mas ainda se sente ligada à antiga namorada. Cassie (Sydney Sweeney) está desolada e encontra conforto nos braços de Nate (Jacob Elordi), ao passo que Maddy (Alexa Demie) fica alheia à situação. Kat (Barbie Ferreira) se sente infeliz na relação com Ethan (Austin Abrams). E Lexi (Maude Apatow) e Fez (Angus Cloud) conversam pela primeira vez.

Tudo que é apresentado no episódio inicial se firma como o primeiro passo de todas as tramas individuais da temporada, com exceção de uma ou outra mudança de rumo que vemos nos capítulos posteriores. 

Imagem: Divulgação

Tramas abandonadas

Essa forma de introdução por si só não é necessariamente ruim, pois podemos acompanhar os desenvolvimentos desses personagens. O problema é que nem sempre o roteiro parece saber para onde levá-los.

Algumas tramas iniciadas na primeira temporada foram essencialmente barradas no segundo ano. Para citar algumas temos a exploração do que é feminilidade para Jules, sua questão não-resolvida com Nate, a própria discussão sobre a sexualidade dele, os conflitos internos de Kat e a masculinidade tóxica em volta de McKay (Algee Smith). 

Esses foram alguns dos pontos totalmente abandonados pela temporada para focar em tramas novas, nem todas interessantes. Umas das personagens que conseguiu manter um rumo mais natural em sua trajetória foi Rue, que estabeleceu um ponto mais baixo em sua relação com as drogas, proporcionando momentos desesperadores para ela, sua família e o público. Certamente Zendaya deve receber outra indicação ao Emmy.

Infelizmente perdemos outras construções que poderiam ser igualmente interessantes. Dando a impressão que Euphoria só foca no que lhe é pertinente no momento, deixando de lado o desenvolvimento natural que seus personagens deveriam ter.

Imagem: Divulgação

Primor técnico x roteiro

A temporada começa muito bem, os arcos são apresentados de maneira satisfatória, mas em algum momentos as coisas simplesmente param de fazer sentido. Recebemos cenas excelentes, disso não há dúvida, até porque o primor técnico da série se mantém, o que já não podemos dizer do roteiro

Infelizmente os rumores sobre problemas de produção e o fato de que Sam Levinson acumula as funções de roteirista, produtor e diretor devem justificar a queda de qualidade vista na narrativa dessa temporada. 

As atuações continuam excelentes, a direção nem se fala, porém o que dizer do rumo que tomaram esses personagens? Infelizmente pouco ali condiz com o que foi previamente apresentado. E o que é feito de bom, fica pincelado apenas.

Imagem: Divulgação

Veredito

É nítido que tivemos uma densidade maior de sentimentos esse ano, pois conseguimos ver traumas serem abertos e explorados à exaustão. Individualmente, Euphoria nos apresentou cenas marcantes, assim como temas a serem refletidos, infelizmente o todo se encaixa em uma forma desconjuntada.

O que fica evidente principalmente nos episódios finais, que tem uma infeliz escolha de montagem ao nos tirar de uma cena absurdamente impactante de forma abrupta, não sabendo balancear os cortes para permitir uma fluidez natural na atenção do espectador. 

É uma pena ver que a segunda temporada se firma como mais densa, mais caótica e também menos fechada do que a sua antecessora. O final, contudo, é esperançoso, nos deixando com a perspectiva de que a série possa voltar a brilhar como antes em seu próximo ano (programado apenas para 2024).

Pontos positivos

  • Excelente direção
  • Boas atuações

Pontos negativos

  • Roteiro bagunçado
  • Tramas escanteadas
  • Escolha de montagem infeliz

NOTA: 7