Tudo que achamos sobre She-Ra e as Princesas do Poder

22/05/2020 - POSTADO POR EM Séries

Cercada de polêmicas antes mesmo do seu início e depois coroada por uma narrativa atrativa e personagens bem desenvolvidos, “She-Ra e as Princesas do Poder”, animação da Netflix que revive a clássica série animada, chega ao fim na sua 5ª temporada. Vamos contar aqui o que achamos da produção como um todo.

Polêmicas e passado

O título original de 1985, “She-Ra: A Princesa do Poder”, teve apenas duas temporadas lançadas. Nele, vemos Adora,irmã gêmea de He-Man, como a guerreira She-Ra. Ela luta em Etheria com seu companheiros em uma rebelião contra o maléfico Hordak. E algo importante a saber sobre a personagem é que ela foi criada para ser a contraparte feminina do seu irmão musculoso e deixar a história atrativa também para garotas jovens, isso por si só já tira um pouco da originalidade que sua personalidade poderia ter.

Quando a Netflix anunciou um reboot da série animada e divulgou a primeira imagem da nova heroína, aí veio a confusão. As reclamações que pipocaram na internet diziam respeito ao visual da personagem como She-Ra, que ela havia perdido sua feminilidade e tinha um corpo masculinizado. Basta fazer uma comparação entre o desenho antigo e o novo para ver uma diferença, a versão atual possui um visual mais prático que conferiu à guerreira um short por baixo da saia e retirou as botas de salto alto. 

Isso já faz parte de um longo debate que questiona o motivo de super-heroínas usarem peças nem um pouco práticas para um combate e que na vida real poderiam atrapalhar o seu desempenho. Então, o visual de She-Ra se tornou um pouco mais realista e dinâmico, e a heroína em nada perdeu na sua força.

Imagem: Divulgação

História

Nessa nova versão acompanhamos Adora, uma garota órfã que pouco sabe de seu passado e vive na Zona do Medo com a melhor amiga Felina. Supervisionadas por Sombria e num lugar que segue as ordens de Hordak, a garota acredita estar ajudando o povo de Etérnia contra a tirania das princesas. Porém, durante uma incursão até a floresta, ela acha uma espada mágica, além da Princesa Cintilante e seu companheiro Arqueiro. A partir daí Adora recebe os poderes da guerreira She-Ra e se junta à Rebelião para combater a Horda.

Adora encarna uma clássica jornada de super-herói com seus companheiros. Ao longo das temporadas ela luta para descobrir mais sobre seu passado, já que o planeta está coberto de ruínas de um povo antigo e tecnológico ao qual She-Ra parece estar relacionada. Nesse meio tempo conhecemos as outras princesas da Rebelião, que aos poucos vão se reunindo novamente em um antiga aliança. Enquanto isso, na Zona do Medo, está Felina, que sentindo-se abandonada por Adora, mergulhar cada vez mais em uma espiral de maldade e autodestruição.

Falando assim até parece que a série tem um tom sombrio, porém na Netflix a sua classificação é livre e está na categoria de animações para crianças. A questão é que a produção consegue tocar em temas mais profundos quando necessário, mas a aura que rege os episódios não é negativa, eles tem vários alívios cômicos e cenas bonitas de amizade entre os personagens. Ao longo das temporadas os momentos engraçados vão se diluindo conforme os problemas de Eternia se agravam, mas nunca chega a adquirir um tom demasiadamente pessimista.

Imagem: Divulgação

Representatividade

Uma coisa positiva que “She-Ra e as Princesas do Poder” conseguiu trazer de muito positivo foi diversidade, basta uma olhada na animação antiga para perceber que quase todos os personagens foram feitos a partir de um mesmo molde, com mudanças de figurino. E na produção da Netflix podemos ver o quanto as princesas são diferentes umas das outras, elas tem corpos, personalidades e pensamentos distintos o suficiente para que os espectadores possam se identificar mais com essa ou aquela.

Isso é trabalhado de uma maneira que traz conflitos para muitos episódios, pois mentes diferentes dificilmente vão concordar com a mesma estratégia. Então a história usa esse detalhe para mostrar como essa diversidade pode ajudar, se cada uma utilizar seu ponto forte durante a luta.

Outro ponto que é abordado de um jeito bastante natural são os relacionamentos, logo no início percebemos que duas das princesas formam um casal e em nenhum momento se questiona o motivo disso acontecer. As personagens de Adora e Felina foram apontadas como mais que amigas pelo público já na primeira temporada, e mesmo que ambas tenham questões a ser resolvidas nesse relacionamento, nenhuma delas é sobre questionar sua sexualidade, é simplesmente natural ver a parceira como um possível interesse amoroso.

Isso é algo extremamente positivo que a série conseguiu trazer, pois em tempos que o conservadorismo está em alta, ter a oportunidade de mostrar o amor entre duas mulheres como algo natural (nem se engane, tem cena de beijo sim) é uma conquista. O que esperamos é que cada vez mais produções voltadas para o público jovem não tenham receio de retratar protagonistas LGBTQ+ e deem o espaço que essa comunidade merece.

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Crescimento pessoal

ATENÇÃO! ESSA PARTE CONTÉM SPOILERS DA SÉRIE, SE VOCÊ AINDA NÃO VIU TUDO É MELHOR PULAR DIRETO PARA O VEREDITO.

“She-Ra” nos apresenta uma gama de diversos personagens muito interessantes e identificáveis. Alguns, é claro, recebem mais atenção que outros na questão de desenvolvimento, mas é possível observar conflitos internos em quase todo o elenco principal e secundário. 

Com Adora, por exemplo, podemos vê-la migrar de uma pessoa insegura, para alguém que faz do seu objetivo de vida salvar a todos. É bastante nítido que ela encara a She-Ra como seu destino, e mesmo quando essa conexão se perde, a garota continua focada em sua missão. Porém, o que Adora realmente precisa aprender é que não há a necessidade de sempre se sacrificar pelos outros e que ela merece felicidade tanto quanto aqueles que defende. Isso finalmente acontece quando Felina declara seu amor e as duas ficam juntas, um gesto que ajuda a libertar o planeta.

E falando na vilã, ela é outra que merece destaque, pois depois de uma longa jornada finalmente conseguiu sua história de redenção na última temporada. Durante os episódios da animação percebemos que Felina era uma pessoa com passado difícil, ela nunca teve amor por ninguém que não fosse Adora e quanto esta se juntou à Rebelião, a garota foi confrontada com um sentimento de abandono tão grande que só machucava a si e a qualquer um que tentasse se aproximar. Porém, no final vemos uma progressão dessas questões internas, que a permitem se declarar para a amiga.

Cintilante passa a ser a melhor amiga de Adora ao longo da série, porém a garota enfrenta problemas ao tentar se provar uma governante digna depois de sofrer a perda da mãe. Os conflitos entre ela e She-Ra são duros e levam a decisões egoístas, mas ela aprende a lidar com as consequências de seus atos e volta a exercer um bom papel de liderança. Seu amigo Arqueiro não possui tantas questões, mas se torna mais confiante de suas habilidades ao longo da série, além de mostrar orgulho delas ao revelar aos seus pais sua verdadeira vocação.

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Veredito

“She-Ra” é uma animação sensível, diversa e divertida. Ela com certeza chama a atenção do público infantil, mas também sabe tocar em questões mais profundas de uma maneira bem traduzida em tela. A narrativa é boa o suficiente para que pudesse haver ainda mais episódios, mas as 5 temporadas fecharam com maestria o arco de seus personagens e não deixou nada a desejar.

É importante destacar também como a produção conseguiu tratar bem até os seus vilões, mostrando que eles eram pessoas com problemas, nunca passando pano para suas ações, mas entendendo que havia uma possibilidade de redenção. Isso talvez irrite algumas pessoas durante a temporada final, achando que tal personagem não merecia se redimir depois de tudo o que fez, porém olhando em retrospecto dá para ver que a série se construiu para esse fim.

De todo modo, essa é uma animação que vale a pena conferir e se emocionar. Se você ainda não assistiu, aproveite o tempo em casa e faça a sua maratona, os episódios são curtos, assim como as temporadas. Você com certeza não irá se arrepender de acompanhar um trabalho feito com tanto primor.

Pontos positivos

  • História sensível e divertida
  • Diversidade de personagens
  • Bom desenvolvimento de personagens

Pontos negativos

  • Um pouco demorado para chegar em certos pontos
  • A história tinha abertura para mais temporadas

NOTA: 9,5