Review do primeiro episódio de His Dark Materials

10/11/2019 - POSTADO POR EM Séries

Novembro mal começou e já nos presenteou com a estreia da aguardada “His Dark Materials”, produção desenvolvida em parceria pela BBC e HBO. Baseada na obra do escritor inglês Philip Pullman, a série é escrita por Jack Thorne, também responsável pela comédia “Shameless” e o drama adolescente “Skins”. A produção conta com oito episódios na primeira temporada e, mesmo antes de sua estreia, confirmou-se uma segunda, já em produção, nos garantindo mais oito episódios.

Depois de “Game of Thrones”, o público ficou apreensivo se a HBO iria entregar uma outra série com a mesma qualidade de produção. À primeira vista, podemos afirmar que sim, porém HDM traz uma pegada totalmente diferente do que rolava em Westeros. Assistimos ao primeiro episódio e vamos contar tudo o que você precisa saber para entrar junto com a gente nessa aventura.

Já vi isso antes?

Para quem não sabe (ou não lembra), “His Dark Materials” é originalmente uma trilogia de livros de fantasia e ficção, que ficou conhecida no Brasil pelo nome de “Fronteiras do Universo”. Lançada entre 1995 e 2000, obteve grande sucesso e compreende os títulos “A Bússola de Ouro”, “A Faca Sutil” e “A Luneta Âmbar”, tendo o primeiro sido adaptado em 2007 para as telonas.

Na época, o longa recebeu duras críticas dos fãs pelo roteiro ter abrandado demasiadamente questões cruciais relacionadas à religião, abordadas por Pullman em sua obra literária. Ao mesmo tempo, organizações religiosas, como o Vaticano, ao saber do conteúdo do livro, mesmo que fictício, também atacaram pelo outro lado, inclusive fazendo campanhas contra a adaptação e estimulando boicotes às salas de cinema.

Infelizmente, devido a isso, tornou-se inviável a produção das sequências. Depois de quase 10 anos, em novembro de 2015, a BBC, juntamente com a HBO, anunciou a adaptação televisiva da trilogia e, finalmente, em novembro de 2019, pudemos adentrar novamente nesse mundo fantástico e misterioso.

Foto: Divulgação

Peculiaridades de HDM

Dentre toda a magia e mistério residente no universo alternativo de HDM, três pontos são importantes para entendê-lo. A primeira é que as almas das pessoas se manifestam externamente aos seus corpos humanos. Chamados de Daemons, essas manifestações tem a forma animalesca e com gênero oposto aos seus “donos”, com quem tem uma ligação telepática, podendo até conversar. Durante a infância os Daemons estão em constante mudança, revelando a sua personalidade ainda não formada. Quando alguém atinge a adolescência, a forma do seu “parceiro” é finalmente fixada em um único animal para o resto de suas vidas.

Outro ponto é que a sociedade é comandada pelo sombrio Magistério, que é o maior dos vilões da trama. Com muitas semelhanças às Igrejas Cristãs (católica/ortodoxa/protestante) como conhecemos, trata-se de um governo teocrático que influencia fortemente tudo relacionado ao social, político e religioso. Para se ter uma ideia do alto controle dessa organização, o conhecimento como um todo é um privilégio dos catedráticos, ou seja, pessoas comuns, geralmente tem um grau de instrução bem menor. Além disso, estudos científicos são extremamente restritos e precisam enquadrar-se na doutrina da associação, qualquer coisa fora do eixo é considerada blasfêmia ou heresia.

A terceira e última coisa peculiar desse mundo paralelo é a famosa Bússola de Ouro. Chamada de “aletiômetro”, além de ser um artefato raríssimo (tendo apenas seis exemplares no mundo todo), sua função é dizer a verdade, porém não é qualquer pessoa que sabe perguntar da maneira correta e sabe interpretar a resposta dada pelo objeto.

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Jordan de Lyra

Nossos protagonistas são a destemida Lyra Belacqua (Dafne Keen), uma órfã de 12 anos, e seu cativante Daemon, Pantalaimon (voz de Kit Connor), carinhosamente chamado de Pan. Deixada ainda bebê pelo seu tio e explorador Lord Asriel (James McAvoy) na Faculdade de Jordan, em Oxford (Inglaterra), onde ele acredita que estará segura, a menina cresce sob os cuidados do Reitor (Clarke Peters). Ela ainda tem como seu grande e único amigo, o também órfão Roger Parslow (Ben Walker), que vive e trabalha na cozinha da faculdade.

Dividindo a atenção do espectador, somos apresentados à comunidade dos Gípcios, que moram na região, próximo à água e tem o comércio como seu sustento. Tendo bastante destaque já no primeiro episódio, fica a expectativa de que as personagens e sua cultura como um todo sejam ainda mais explorados daqui pra frente. Finalmente e não menos importante, somos abrilhantados com a presença da elegante e enigmática Sra. Coulter (Ruth Wilson), uma exploradora assim como Lord Asriel, que faz uma visita à Jordan, acompanhada de seu Daemon, um macaco dourado com uma cara nada amigável.

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Veredito

O primeiro episódio de HDM é bem objetivo e constrói toda a mitologia do universo, ambientalizando e aproximando as personagens principais do espectador. Os quase 60 minutos do piloto são bem sucedidos ao mostrar os fatos mais importantes, responsáveis pelo desencadeamento de tudo o que ainda vem pela frente, sem esquecer do suspense necessário para captar a atenção do público. Além disso, traz momentos que complementam a experiência de quem já leu o livro ou viu o filme de 2007.

Sendo impossível de não comparar, felizmente, o programa promete não se intimidar em mostrar o que o filme preferiu deixar superficial. Com isso, a história torna-se mais complexa, explorando assuntos como religião, física, filosofia e política.

Ainda que possa haver falhas no decorrer do projeto, ele demonstra ter tudo para alcançar grande sucesso e ficamos aqui na torcida de que sejam produzidas temporadas suficientes para contar toda a trajetória de Lyra Belacqua e Pantalaimon. Esperamos que, sem muitas voltas ou delongas, correndo o risco de o roteiro sair do controle e tudo se transformar em um fiasco.

No Brasil, “His Dark Materials” vai ao ar pela HBO, toda segunda-feira, às 23h30, além de ser disponibilizado também no aplicativo da HBO GO. Então se você ainda não viu, não perde tempo, corre pra assistir e conta pra gente o que achou.

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