Análise de Death Stranding 2

26/07/2025 - POSTADO POR EM Jogos

Poucos criadores na indústria dos games têm tanta liberdade e coragem autoral quanto Hideo Kojima. Quando Death Stranding chegou em 2019, o jogo virou manchete por sua proposta arriscada: um simulador de entregas em um mundo pós-apocalíptico onde o maior desafio não era vencer um inimigo, mas atravessar a solidão. Para muitos, foi um jogo “estranho” ou “parado”. Para outros, uma das experiências mais marcantes dos videogames modernos.

Seis anos depois, Death Stranding 2: On the Beach surge como a continuação que ninguém sabia exatamente como seria. E, mais uma vez, Kojima não entrega o que esperamos, mas o que precisamos. O novo jogo se afasta da rigidez do original, é mais acessível, tem mais ação, mas sem jamais abrir mão da alma que tornou a franquia única: uma história humana, sobre perdas, conexões, luto, esperança e reconstrução.

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História: conectados, mas ainda sozinhos

Death Stranding 2 começa com uma pergunta poderosa: “deveríamos mesmo ter nos conectado?”. Essa frase ecoa durante toda a jornada, questionando o final do primeiro jogo e o rumo da humanidade após a reconstrução da Rede Quiral. Sam Porter Bridges, que antes foi o herói de uma missão quase messiânica, agora vive recluso no México, tentando viver uma vida comum ao lado de Lou, ou, pelo menos, do que restou dela.

Fragile, em sua nova empreitada com a empresa Drawbridge, retorna para convocar Sam a uma nova missão: conectar o México e, futuramente, a Austrália. O mundo de On the Beach é mais caótico e imprevisível, marcado por novos desastres naturais (enchentes, tempestades de areia, terremotos), e por uma sociedade que já começa a sentir os efeitos colaterais da própria tecnologia que ajudou a restaurar. O surgimento do APAS 4000, uma IA que substitui entregadores humanos, revela um subtexto atual e urgente: a substituição das relações humanas por processos automatizados, a perda de propósito diante do progresso tecnológico.

O roteiro é denso, cheio de metáforas (bastões, cordas, espelhos, praias), mas nunca se torna inacessível. Cada personagem introduzido, como Rainy, Tomorrow, Dollman e Neil, traz camadas emocionais reais e palpáveis. Rainy, com seus poderes ligados à chuva e uma sensibilidade comovente, se destaca como um dos corações emocionais do jogo. Já Higgs retorna mais aterrorizante do que nunca, numa atuação que mistura o exagero teatral de um vilão clássico com traços claros de psicopatia, lembrando em muitos momentos o Coringa de The Dark Knight.

O que impressiona é como a história consegue se equilibrar entre crítica social e drama existencial, sem soar pretensiosa. É uma história sobre perder tudo, se reconstruir, falhar de novo, e continuar seguindo. É uma carta de amor à humanidade, mas também um alerta.

Imagem de Death Stranding 2

Jogabilidade: entre a contemplação e o conflito

A jogabilidade de Death Stranding 2 mantém sua identidade, mas evolui com firmeza. Se o primeiro jogo exigia do jogador uma paciência quase meditativa, a sequência sabe dosar melhor seus momentos. Ainda entregamos cargas, ainda planejamos rotas com atenção aos relevos e aos perigos do ambiente, mas agora há mais opções, mais ferramentas e, principalmente, mais dinamismo.

Desde o início, o jogador já tem acesso a armas, veículos e sistemas de suporte que antes demoravam horas para serem desbloqueados. As entregas não são mais apenas carregar caixas, elas envolvem resgate de reféns, recuperação de animais da fauna australiana, tomada de bases hostis, combate a EPs e até perseguições cinematográficas de moto.

O combate, antes relegado a poucos momentos, ganha protagonismo. As batalhas contra humanos e EPs são mais constantes e variadas, e o sistema de combate, com furtividade, armas tranquilizantes e até um bumerangue feito de sangue, remete diretamente a Metal Gear Solid. A árvore de habilidades do sistema APAS permite personalizar Sam de acordo com o estilo de jogo: mais resistência física, mais capacidade de carga, foco em furtividade ou eficiência no combate.

Além disso, a sensação de progressão é mais recompensadora. Cada Prepper oferece benefícios tangíveis ao se conectar à Rede Quiral, e as recompensas são mais frequentes e úteis. Isso quebra a monotonia do sistema de entregas e deixa o ritmo mais envolvente.

Por fim, o uso do online assíncrono, onde estruturas deixadas por outros jogadores ajudam no seu progresso, continua sendo um dos aspectos mais geniais da série. A ideia de que você não está sozinho, mesmo que nunca veja outro jogador diretamente, reforça de maneira brilhante o tema do jogo: conectar-se.

Imagem de Death Stranding 2

Gráficos: o mundo nunca pareceu tão real

Visualmente, Death Stranding 2 é um deslumbre. O jogo talvez seja o mais bonito do PlayStation 5 até agora, e não é apenas pela fidelidade gráfica. É a direção de arte que brilha: os cenários naturais da Austrália e México são deslumbrantes, com ecossistemas únicos, efeitos climáticos realistas e uma paleta de cores que varia entre o sombrio e o sublime.

Os personagens são praticamente indistinguíveis de seus intérpretes reais. A captura facial e de movimento atinge um novo patamar, permitindo que cada emoção, cada hesitação, cada lágrima ou sorriso seja sentido com intensidade. Isso potencializa a carga dramática do roteiro.

As transições entre gameplay e cutscenes são suaves, reforçando a imersão. E mesmo em momentos de caos, tiroteios, desastres climáticos, perseguições, o jogo se mantém fluido e estável.

Imagem de Death Stranding 2

Trilha sonora: a alma do jogo

Se Death Stranding foi marcado pela trilha de Low Roar, On the Beach encontra novos caminhos sem abandonar sua essência musical. A trilha sonora composta por Woodkid e Ludvig Forssell é absolutamente fenomenal. Suas músicas surgem nos momentos certos, potencializando a emoção, seja numa travessia silenciosa ou numa cena de conflito.

As faixas de Woodkid, em especial, têm um peso poético. Letras que falam de caminhos, rastros, tempo e perda ecoam perfeitamente os temas do jogo. Ao mesmo tempo, Forssell mantém a identidade sonora da franquia com faixas instrumentais carregadas de tensão, melancolia e beleza.

Importante também é o uso do silêncio. Há momentos em que só ouvimos o som da água, do vento, dos passos. E isso também é música, uma trilha que respeita o vazio e faz dele parte da narrativa.

Imagem de Death Stranding 2

Veredito

Death Stranding 2: On the Beach é uma experiência singular. É menos “jogo para todos” do que muitos gostariam, mas é mais “jogo para alguém” do que a maioria dos títulos por aí. Kojima cria uma jornada que não apenas entretém, mas provoca, emociona e questiona.

Não é só um jogo de entregas. É sobre o que carregamos emocionalmente, sobre como lidamos com nossas perdas, sobre o que nos conecta ao outro e a nós mesmos. É um jogo que pede tempo, atenção e, sobretudo, abertura.

Pontos Positivos:

  • Narrativa rica, sensível e profunda;
  • Personagens carismáticos e bem desenvolvidos;
  • Jogabilidade mais variada e recompensadora;
  • Visual de altíssimo nível técnico e artístico;
  • Trilha sonora tocante e bem integrada à narrativa;
  • Maior equilíbrio entre ação e contemplação.

Pontos Negativos:

  • Pode ser arrastado em alguns trechos, especialmente se o jogador não estiver imerso;
  • Combate ainda não tão refinado quanto em jogos focados em ação;
  • Parte do conteúdo secundário é repetitivo;
  • A carga filosófica pode afastar quem busca uma narrativa mais direta.

Nota final: 9.5/10