Veredito do livro Tithe

25/05/2022 - POSTADO POR EM HQs/Livros

A autora Holly Black é conhecida por suas sagas As Crônicas de Spiderwick (2003 – 2009) e O Povo do Ar (2018-2020), porém mais recentemente, Tithe, seu primeiro título, que foi lançado em 2002, ganhou uma nova versão em capa dura, e com isso, nós iremos trazer a vocês nossa resenha a respeito desse conto de fadas moderno. Confira.

Criança trocada

Você já ouviu falar da lenda que diz que algumas fadas trocam bebês à noite por seus próprios? Em Tithe, nós somos apresentados a Kaye, uma jovem de 16 anos, de ascendência asiática, que após sofrer um atentado do namorado da mãe, retorna à sua cidade natal para morar com sua avó. Lá ela reencontra não apenas seus amigos de infância do colégio, mas também aqueles que abriram seus olhos para toda a magia do mundo.

Kaye logo descobre que ela é uma fada e que foi trocada, por algum motivo, no seu berço, além disso seus amigos deixam claro que ela corre perigo. Por conta de um feitiço, que a torna com aparência humana, a jovem conseguiu se esconder por bastante tempo do ritual do Tithe, onde é feito um sacrifício para aplacar o desejo das rainhas das fadas

Contudo, por conta das mudanças que anda sofrendo, seus poderes parecem estar mais fortes. Assim como sua presença e aparência feérica, e sem a ajuda de seus amigos encantados, ela tem que contar apenas com a ajuda de um mortal e de um temível cavaleiro amaldiçoado.

Eu te vi. – disse ele. – Vi o que você fez.

Tithe, pág. 18

Evitando realidades

Facilita muito a vida, ironicamente, já que mesmo não sendo continuação e Tithe ter sido escrito primeiro, se você já tiver lido a saga do Povo do Ar. Isso ajuda a conhecer melhor a dinâmica dos seus personagens e universo, mas é fato que são histórias distintas e Holly Black sabe fazer isso muito bem. 

Mesmo assim, existe uma possibilidade de fazer a linha do tempo entre Tithe e O Príncipe Cruel (calma que já se deixa claro aqui que Cardan não aparece) por conta das consequências da história. Quem leu ambos os livros vai conseguir perceber que o primeiro passa alguns anos antes do que o último.

De toda forma, você não precisa de muito para perceber as intrigas políticas no livro depois que ele engata, e mesmo com o ritmo mais lento no começo, você também vai ficando chocada o quanto Kaye é negligenciada, de diversas formas, na sua família, já que a garota anda por bares e festas, e a escola é um mais conceito do que uma necessidade.

É dessa forma que ela encontra Roiben, o cavaleiro feérico que matou uma das fadas que ela conhecia, e Corny, irmão de uma antiga amiga. Enquanto o primeiro se torna uma paixão (quase obsessão da garota), Corny é um amigo muito bem-vindo a sua vida, ambos, no entanto, de forma bem rápida e pouco trabalhada. Kaye confia muito fácil nas pessoas, e tem muita dificuldade de sair de situações desconfortáveis para ela mesma, preferindo evitar, do que confrontar, a realidade.

Bem, você é uma pixie, se isso ajuda. – Spike coçou a cabeça. – Em geral, isso significa verde.

Tithe, pág. 70

Reinos Feéricos

Porque Kaye foi criada no mundo humano, com um feitiço para que ela se parecesse uma, tudo o que ela descobre do mundo feérico é novo, e assim, a autora resolve o problema de também nos apresentar ao seu universo. O leitor vai aprendendo junto com a garota, o que pode requerer paciência, contudo, os Reinos Feéricos são muito bem apresentados focando nas relações presentes, tais como intrigas, rituais e política.

O reino feérico de Tithe é parte de Elfhame (o reino do Povo do Ar), e é dividido em duas cortes: a Unseelie e Seelie, comandados por duas rainhas. A primeira, também conhecida como Corte da Noite, é comandada pela Rainha Nicnevim, uma fada cruel e mesquinha, que com o ritual, quer ganhar poder. Enquanto a segunda é conhecida como a Corte da Luz, e tem como rainha a irmã de Nicnevim, Silarial, que pretende com o ritual passar a comandar seu reino irmão.

Ambos os reinos precisam de Kaye para o ritual. A partir do momento que temos essa informação na história, no entanto, passamos a perceber que não criamos um verdadeiro vínculo com os personagens, tirando qualquer ânimo para as motivações deles. Outro ponto do livro a partir daí, é que o romance é fraco, e o livro todo não parece querer aprofundar nem nessa questão, ou mesmo em outros tipos de relacionamento. O universo é cheio de detalhes, e bem construído, mas peca com seus personagens.

Talvez eu possa oferecer meu entusiasmo. – argumentou ele. – Você já reclamou de tal ausência.

Tithe, pág. 137

Veredito

Se não fosse o fato de que esse é o primeiro livro de Holly Black, eu não teria como perdoar muita coisa, já que sei o potencial da autora com suas histórias e personagens. Tithe é um livro iniciante para quem curte o mundo das fadas e, por não trazer fortes motivações nas relações dos personagens, pode fazer muitos desistirem da temática. Contudo, é bom ressaltar pontos positivos para o livro, que é a riqueza de detalhes na construção política dos reinos, além de bastante cenas de ação bem construídas.

A recomendação é para que se foque mais na história do que nos personagens. Há também importantes temáticas reais dentro da obra, que fazem o leitor pensar nas atitudes tomadas dentro da narrativa, tais como assédio, consentimento e representatividade.

Tithe é o primeiro livro da trilogia Contos de Fadas Modernos, e seu segundo, Valente, já está em pré-venda no Brasil.

Pontos positivos

  • Construção política bem desenvolvida
  • Cenas de ação
  • Reflexão de temáticas reais

Pontos negativos

  • Personagens pouco desenvolvidos
  • Romance fraco
  • Motivações rasas

NOTA: 6,5