Veredito de Sim, Não, Quem Sabe

24/03/2021 - POSTADO POR EM HQs/Livros

Sim, Não, Quem Sabe é um livro escrito por Becky Albertalli, mesma autora de Simon vs A Agenda Homo Sapiens – que inspirou o filme Com Amor, Simon , em parceria com Aisha Saeed. A obra foi lançada recentemente pela Editora Intrínseca, que enviou um exemplar para nós, e agora trazemos o veredito desta história apaixonante e engraçada.

Tudo é político

O livro gira em torno de Jaime e Maya, dois adolescentes de dezessete anos que são do estado da Georgia, nos Estados Unidos, e estão entrando em seu último ano escolar. A partir desse momento ambos se veem criando uma necessidade de se politizar frente ao cenário em que o país se encontra.

Jaime é judeu, filho de pais separados, que mora com sua mãe, que trabalha no gabinete de um senador; a irmã mais nova, que está prestes a comemorar seu bar mitzvá; e a avó, que está bombando na internet com seu Instagram. O sonho dele é ser um político que faz diferença pro povo, e por isso resolve ser voluntário na campanha de um deputado democrata. Outro motivo para a sua participação é tentar superar seus traumas de socialização, o que acaba sendo um grande problema em seus sonhos.

Enquanto isso, Maya é muçulmana e está passando por vários tipos de questões ao mesmo tempo. Seus pais decidiram se separar, em pleno Ramadã (período de reflexão e jejum), e sua única amiga, está se mudando para iniciar a Universidade.

Reunidos em um comício, as mães de ambos têm a ideia de unir o passado deles ao presente, e utilizam a campanha como motivo. A mãe de Maya suborna a garota com um carro, enquanto Jaime está visivelmente interessado na companhia dela. Mas o que parece ser só uma parceria rápida, se torna algo mais profundo com a criação de um projeto de lei preconceituoso criado pelo adversário republicano.

“- Que projeto de lei?
– O projeto de lei 28 – digo lentamente. – Sabe, a lei racista?”

Sim, Não, Talvez – pág. 151

Motivações

O principal motivo desse livro ser relevante e ter motivação reais está nas autoras. Aisha já possui uma temática muçulmana na sua escrita e pode falar com propriedade do assunto quando se aborda a liberdade religiosa e política. Enquanto Becky consegue trazer a suavidade do assunto sério em um bom romance adolescente.

Jaime é, antes de tudo, um garoto bem comum. Não há qualquer característica que o diferencie de seus amigos, com exceção de seu sonho. Não é qualquer um que tem como motivação em uma campanha trazer aquilo como uma experiência para um futuro cargo político, além de estar sempre tentando ultrapassar seus medos. Assim como ele também possui uma facilidade de admitir erros, o que para a idade dele é impressionante.

Enquanto Maya é quase o oposto de personalidade se comparada ao garoto. Teimosa, decidida e ambiciosa, ela não aceita um não como resposta, e teve que aprender bem rápido a se posicionar, mesmo que às vezes peque nas palavras.

Fazer com que motivações tão efêmeras quanto um carro ou a superação da timidez se tornem algo maior é o que te incentiva a continuar a narrativa. Queremos ver como os adolescentes ainda podem fazer a diferença se realmente se empenharem, mesmo com tudo o que acontece em seu particular. As autoras ainda trazem tecnologia para a narrativa, e explicam, de forma sútil, o poder de um viral.

“- Adorei seu quarto. É tão você. Esse adesivo na sua parede é uma… linha do tempo?”

Sim, Não, Talvez – pág. 204

Veredito

Trazendo narrativas com assuntos atuais, o livro também conta os problemas que a política de Trump trouxe para os Estados Unidos, e não apenas para os estadunidenses, mas para o mundo todo. Por isso é tão importante ultrapassarmos a ideia do romance, tornando o assunto secundário, e buscarmos entender melhor o preconceito existente e de várias formas que o livro mostra.

Outro ponto muito bom da obra é que ela deixa claro que nem sempre o que importa é o resultado, mas sim o que se aprende na jornada, e isso é bastante importante também. Você consegue ver muito bem o desenvolvimento dos protagonistas por causa disso.

Bastante realista, os demais personagens poderiam ser facilmente alguém que o leitor conhece. Narrado em primeira pessoa e com alternância entre o ponto de vista dos dois protagonistas em cada capítulo, torna- se mais fácil ainda criar empatia, pois tudo atualmente se encaixa no contexto político e social.

Sim, Não, Quem Sabe brinca com a resposta comum nas situações que vivemos quando adolescentes. Esse é um ponto em que nem sempre temos a certeza de algo, por isso se torna cada vez mais relevante viver momentos, sejam quais forem, para que possamos aprender e quem sabe ensinar também.

Pontos positivos

  • Alternância de narradores
  • Contexto político-social
  • Crescimento de personagens
  • Representatividade

Pontos negativos

  • Ritmo inicial lento

NOTA: 9