Veredito de Saboroso Cadáver

26/12/2022 - POSTADO POR EM HQs/Livros

Saboroso Cadáver, a obra de horror da autora argentina Agustina Bazterrica sobre o consumo de carne humana num futuro distópico, é uma trama cheia de mistério e com um soco no estômago atrás do outro. Lemos o livro da editora Darkside e vamos contar nossas impressões.

E, como você já percebeu pelo tema, fica aqui o nosso alerta de gatilho para pessoas sensíveis.

Canibalismo socialmente aceitável

Marcos trabalha em uma espécie de açougue abatendo animais até que uma epidemia estoura e torna impróprio o consumo de sua carne, sob o risco de morte. Por esse motivo o governo decide liberar o consumo de carne humana de uma forma ‘aceitável e organizada’. É claro que a população mais atingida não seriam os ricos, assim os miseráveis e marginalizados se tornaram alvo da medida polêmica

Saboroso Cadáver é uma distopia provocativa que a todo momento provoca uma reflexão sobre a condição humana e como o status social importa. Além disso, talvez a questão que mais chama atenção é colocar luz a um problema que já vivemos: em tempos de crise os mais afetados sempre serão os mais pobres. Toda essa ponderação levantada é feita através de uma narrativa simples, mas que é impossível de não se incomodar com algumas descrições.

Outra questão bastante interessante é como o protagonista não é alguém que conseguimos torcer, pelo contrário. A todo momento questionamos a sua humildade, o sentimos vazio e até um pouco alheio a tudo que está acontecendo. Isso seria um problema, se ele não casasse perfeitamente com a narrativa. É provavelmente por isso que em determinados pontos da trama nos sentimos tão incomodados e precisamos parar, mas logo queremos retornar.

“Enquanto tira a camiseta encharcada, ele tenta dissipar a ideia persistente de que eles são apenas isso, humanos, criados para serem animais de comida”.

Saboroso Cadáver, pág. 15

Distopias

Um dos papéis centrais das distopias é provocar especulações sobre algo esdrúxulo, mas que, caso fosse real, seria no mínimo bizarro. Vemos isso principalmente no caso de O Conto da Aia (1985), que deixa até os mais céticos com a pulga atrás da orelha e acabamos por questionar os então valores vigentes na sociedade e até onde é realmente aceitável o que convencionamos como normal.

Talvez o grande responsável pela popularização do gênero seja George Orwell com a popular obra livro 1984. Lançado em 1949, o livro nunca saiu de moda, principalmente por trazer uma reflexão política de uma forma menos elitizada.

O fato é que esse subgênero, no caso de Saboroso Cadáver, vem ganhando muito espaço na literatura atualmente e dessa vez ele veio acompanhado do horror. Por isso, nem sempre ele irá agradar, mas seu principal papel segue sendo provocar a reflexão do leitor. Não deixando ele passar apático pela narrativa. 

“Às vezes é preciso carregar o peso do mundo”.

Saboroso Cadáver, pág. 28

Veredito

Saboroso Cadáver é um excelente livro de horror. Consegue ser sinestésico e, na medida certa, provocar as sensações de repulsa e indignação necessárias. Além disso, por mais que estejamos ‘agoniados’ com os fatos, não queremos parar de ler.

A cada virada de página nos apegamos mais à leitura e ficamos mais imersos. A trama é fluida, sem fazer voltas desnecessárias e todas as informações dadas ao longo do texto são extremamente importantes. Outro fato que chama atenção é como a linguagem é simples e acaba sendo um atrativo.

É preciso ressaltar que esse é um livro com um conteúdo pesado e de censura +18. Além disso, se você é sensível a algum assunto relacionado à violência, talvez seja melhor passar e escolher uma outra leitura, já que a narrativa é bem pesada nesse aspecto.

O único ponto negativo que quero destacar é que poderia ter dedicado um pouco mais de tempo ao personagem principal.

Pontos positivos:

  • Trama fluida
  • Narrativa interessante 
  • Curiosidade gerada

Ponto negativo:

  • Pouco tempo do protagonista 

NOTA: 10/10