Veredito de Cidade da Lua Crescente

04/03/2021 - POSTADO POR EM HQs/Livros

A Cidade da Lua Crescente é a mais recente obra da autora Sarah J. Maas, que chega ao Brasil pela Editora Galera, do Grupo Editorial Record. O romance de fantasia voltado para o público adulto é o primeiro volume do que virá a se tornar uma trilogia, sendo o título da série Casa de Terra e Sangue

Nós recebemos uma edição do livro pela editora e viemos contar aqui todas as nossas impressões dessa excitante nova obra de fantasia.

Ajude o Roteiro Nerd e contribua com até R$ 1.

A caça aos demônios

O livro é uma distopia e mostra uma realidade que os seres humanos precisam conviver entre seres fantásticos (Vanir), impostos dentro de uma hierarquia dividida pelas, e dentro, das quatro casas de Midgard que aqueles seres representam.

Dentro desse mundo temos nossa protagonista, Bryce Quinlan, uma mestiça meio-humana e meio-feérica (seres próximos a fadas e já populares nos livros da autora), que vive como uma cidadã convidada da Casa do Céu e Sopro, dentro da Cidade da Lua Crescente. A garota trabalha como assistente de uma galeria, e é constantemente alvo de zombaria pela falta de poderes, encontrando conforto apenas em sua melhor amiga.

Danika Fendyr não é apenas o completo oposto de Bryce, mesmo sendo sua melhor amiga, ela também é a alfa mais cotada como herdeira do Bosque da Lua, superando sua própria mãe na linhagem, além de líder da Matilha dos Demônios, a mais poderosa da guarda (Auxilia). As duas são inseparáveis desde que se conheceram no primeiro dia da faculdade, baladeiras, colegas de quarto… Até uma noite fatídica.

Dois anos se passam, e a mestiça se vê obrigada a reviver o trauma que foi aquela noite quando o governador da cidade, o arcanjo Micah, solicita à poderosa chefe de Bryce, Jesiba Roga, a cooperação da garota na reabertura do caso como consultora. Ela também ganha como parceiro o anjo escravo conhecido como Sombra da Morte, Hunt Athalar.

“- Porque emputeço muita gente e não dou a mínima.”

Cidade da Lua Crescente, pág. 354

A hierarquia Vanir

As obras de Sarah J Maas são conhecidas pela sua riqueza de detalhes nas construções sociais também, além dos personagens, e essa não foi exceção. Dentro do mundo de Midgard, foram unidas todos os tipos de criaturas fantásticas possíveis e divididas de formas organizadas nas seguintes Casas:

Casa de Terra e Sangue: Humanos, metaformos e criaturas comuns.
Casa de Céu e Sopro: Malakins (anjos), Feéricos, Elementais.
Casa das Muitas Águas: Sereias, Ninfas, e seres aquáticos.
Casa de Chama e Sombra: Ceifadores, Vampiros, dragões e criaturas perversas.

As Casas se conversam e vários seres já aparecem nesse primeiro livro, com foco nos feéricos, e seu Rei Outonal, pai de Bryce, e nos anjos. A quantidade de detalhes que são postos é impressionante, desde como funciona a cidade, localizações de ruas e avenidas e principais trabalhos, até a problemática hierarquia social Vanir, com reis, governadores, e escravos.

Mesmo que no começo possa parecer um tanto confusa essa relação, e até arcaica dependendo da Casa a qual ela está associada, você passa a perceber que a trama da história está ligada diretamente à problemática da hierarquia. Nos deparamos com vários tipos de rebeliões e revoltas, por conta da falta de liberdade e preconceitos a que “classes inferiores” são subjugadas, e ao fato de que poder nunca é o suficiente na política, ainda mais quando não é centralizado.

“- Seu fascínio por Athalar está beirando o assédio.
Lehabah suspirou.
– Sabe o que Hunt Athalar parece?
– Considerando que ele está morando no telhado em frente ao meu apartamento, eu diria que sim.
– Ele parece um sonho.
– Sim, experimente falar com ele.”

Cidade da Lua Crescente, pág. 248

Por amor tudo é possível

Bryce não é a primeira protagonista forte da autora, mas é sempre incrível destacar as qualidades das suas personagens femininas. A garota é original, dona de uma personalidade honesta e com opiniões muito bem formadas. E tais características se arrastam para todas as demais que vão aparecendo. Cheias de defeitos também, mesmo sendo uma criatura fantástica, Sarah nos faz ter empatia com Bryce em vários momentos de dores dela e ainda mais em como ela lida com a situação.

Os papéis masculinos também são muito bem trabalhados, e a autora deixa claro que ela quer evitar ao máximo a narrativa de “machos alfas babacas”, mesmo que consiga apenas naquele limiar que fãs da autora e do gênero vão reconhecer. A narrativa traz relações bem fluidas também, com personagens LGBTQ, e outras formas de relacionamento além da monogamia, mesmo que ainda não em destaque, porém tratadas de forma natural.

Esses pontos de relação podem ser vistos perante os melhores amigos feéricos do irmão de Bryce, o Príncipe Estrelado, Ruhn Danaan. Enquanto o lorde Tristan Flynn é um auxiliar da guarda, que tem como principal meta aparentar estar sóbrio e não engravidar ninguém em Midgard, Declan Emmet é um excelente e inteligente hacker, que nesse livro estava com um draki macho alisando seus cabelos. Ambos adoram flertar com a protagonista. E mesmo Hunt põe em dúvida, de uma forma bem natural, a origem do relacionamento entre Bryce e Danika.

“ Hunt se virou para Bryce.
– Antes de mais nada – sibilou o anjo – Vá se foder pela surpresa.”

Cidade da Lua Crescente, pág. 536

Veredito

A obra é dividida em quatro partes, de quase 900 páginas, e traz longos trechos, por vezes desnecessários. A classificação +18 ficou perante não só a linguagem, mas também ao conteúdo, que pode ser bastante influenciável a um público mais jovem, por tratar de seres fantásticos e até mesmo ocultismo a partir de certa parte.

O foco do livro é a resolução de uma série de crimes que estão acontecendo paralelamente enquanto se busca um artefato sagrado, e em momento nenhum você se esquece disso. Vale ser ressaltada essa questão porque são adicionadas diversas novas peças à trama, o que vai deixando-a mais complicada, até que há um desembaraço gigante, que particularmente consegue trazer um ar inovador à obra.

As falas no ponto certo, coerentes, misturando o sarcasmo, romance e assuntos sérios, já conhecidos na escrita da autora. Mas mesmo um novato não consegue abrir mão do comprometimento que Cidade da Lua Crescente trás, com uma atmosfera incrível e uma dinâmica de personagens fluida.

O final deixa muitas pontas soltas, e com seu epílogo arrasador, não há sombra de dúvidas de que devemos aguardar ansiosos por sua continuação (espero que em breve). Por isso, acompanhem a Editora Galera e a Record para saber mais informações a respeito do segundo livro.

Pontos positivos

  • Personagens originais e fortes
  • Narrativa coerente
  • Construção detalhada de um novo mundo
  • Inclusão

Pontos negativos

  • Longos trechos

NOTA: 9,5