A quarta temporada de The Handmaid’s Tale (2017 -) estreou em junho, e para comemorar o lançamento, a Rocco trouxe novas versões dos livros de O Conto da Aia (1985), que inspirou a série. Nós recebemos essas edições e hoje viemos aqui contar para vocês algumas das diferenças entre a icônica obra e sua adaptação.
O Conto da Aia é adaptado sumariamente para a primeira temporada da série, mas algumas passagens foram usadas também nos anos posteriores. Como adaptação, o seriado é bastante feliz, mas lendo o livro você percebe uma nítida diferença na personalidade da protagonista.
A obra é uma distopia da consagrada autora Margaret Atwood e retrata um mundo que sofreu uma grave queda na taxa de natalidade. Para resolver isso, foi criada a República de Gilead. Fundada sobre alguns preceitos religiosos, ela aposta em uma sociedade na qual muitas mulheres foram forçadas a se tornar barrigas de aluguel.
ATENÇÃO! O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS DA SÉRIE THE HANDMAID’S TALE.
1. Sem nome
Logo na primeira temporada da série, descobrimos que o nome da nossa protagonista é June, porém no livro isso nunca é falado. Os outros, e até ela mesma, só a referem como Offred. Esse nome significa “de Fred”, pois “of” é “de” em inglês e Fred o nome do seu Comandante, ou seja, eles estão afirmando que a aia agora é uma propriedade.
Durante a leitura do livro, o nome June é mencionado em um dos flashbacks de Offred, mas não existe a confirmação de que ele pertença à protagonista. Fica a cargo do leitor escolher usar esse ou não.
2. Personalidade de Offred
Ao contrário do que acontece no seriado, no qual June se torna uma força ativa de resistência quase que desde o começo, no livro a personagem de Offred é bem mais passiva. Não que ela esteja “ok” com tudo que acontece, mas ela parece resistir bem menos ao regime.
Como a obra é narrada em primeira pessoa, nós acompanhamos todos os pensamentos da protagonista e o que ela acha daqueles que estão à sua volta. Parece uma trama bem mais introspectiva e contemplativa do que no seriado, mas talvez isso não ficasse bom na adaptação tendo em vista o que era planejado para as futuras temporadas.
3. Relações exteriores
Na série, pudemos ver algumas relações diplomáticas estabelecidas por Gilead, que, mesmo sendo um regime ditatorial, não é autossuficiente. Vimos cenas como a visita da federação mexicana à casa em que June estava e também o casal Waterford indo até o Canadá.
No livro não temos esse vislumbre, pois as aias quase nada ficam sabendo do que acontece no mundo exterior. Na TV é falado sobre a guerra com outros países, mas Offred acredita que é tudo manipulação. Existe também outro momento em que a aia vê turistas japoneses visitando a cidade.
4. Personagens da casa
A composição da casa onde Offred fica muda um pouco pela presença de outra Martha, Cora, que tende a ser mais gentil com a aia do que Rita, que no livro é mais velha do que no seriado. De funcionários também temos Nick, que se envolve da mesma maneira com a protagonista.
Serena Joy e o Comandante também tem uma aparência mais velha, o que só acentua a questão da infertilidade. Offred fica mais próxima do chefe da casa ao ser chamada em seu escritório, assim como acontece na série, mas no livro ele parece mais gentil e menos maniqueísta aos olhos dela, apesar de ela ainda ter noção do quão errada essa pessoa é.
5. Mayday
No livro, o grupo de resistência Mayday acaba tendo uma participação menos ativa do que na série. Offred é muito perceptiva, então ela vê alguns elementos pela casa que podem ter saído de um mercado clandestino, e com isso acaba imaginando que também deve existir algum tipo de associação lutando contra o regime.
Em determinado momento, descobrimos que Ofglen, que é companheira de compras de Offred e na série foi identificada como Emily, também faz parte da resistência. Ela fornece algumas informações e tenta convencer a outra aia a participar do grupo, mas como dissemos antes, a personalidade da protagonista não pende para esse lado.
6. Onde estão Luke e os outros?
Uma das principais vantagens oferecidas pela série de TV em relação à obra literária é a possibilidade de explorar os caminhos de outros personagens. Como é tudo narrado por Offred, não temos como saber o que aconteceu com Luke, Moira e os outros, a não ser que ela mesmo presencie ou seja informada.
Offred divaga muito sobre os destinos dessas pessoas, ela imagina várias histórias para Luke e sempre que pode vai ao Muro, onde são postos alguns mortos para servirem de exemplo, para ver se ele está lá. A aia ainda consegue um vislumbre de informação sobre sua filha e sobre Moira, mas é tudo bem limitado.
7. O futuro de Gilead
Talvez uma das partes mais interessantes do livro seja o seu epílogo. Nele, presenciamos um simpósio acadêmico vários anos no futuro e que acontece bem depois da queda de Gilead. Ele é dedicado a discutir alguns fatos sobre o país, incluindo o relato que acabamos de ler.
Neste capítulo temos acesso a várias informações do surgimento de Gilead, como estava o mundo naquela época e como foram construídos os seus fundamentos. Para os fãs que gostam de teorizar isso é um prato chato, principalmente porque serve para apontar alguns rumos que a série de TV ainda pode tomar.
Bônus – As construções narrativas
O Conto da Aia é estritamente paralelo e diferente de sua adaptação televisiva ao mesmo tempo. Enquanto o seriado nos coloca no centro de uma história revoltante, mas ainda assim emocionante, o livro acaba levando a uma jornada bastante pessoal.
É difícil julgar Offred por não ser como a nossa June, porém basta se colocar no lugar dela por um minuto. Não temos como exigir de todas as pessoas que eles sejam heróis; alguns só buscam pela sobrevivência, o que em muitos casos já é difícil o suficiente.
Uma vantagem da edição nova da Rocco é que ela traz um posfácio escrito pela própria autora no ano de estreia da série. Nessas páginas, Margaret comenta um pouco sobre o processo de escrita do livro, assim como algumas perguntas comuns trazidas pelos fãs. Essa parte nos ajuda a refletir ainda mais sobre a história que acabamos de ler.
Se você é fã da série e ainda não leu o livro, aqui está a sua chance. Essa ainda é uma história que merece ser lida e apreciada por conta de todos os seus temas: maternidade compulsória, o papel da mulher na sociedade, sobrevivência em tempos de crise e resistência.