Veredito de Wolfwalkers

02/02/2021 - POSTADO POR EM Filmes

Em qualquer que seja a área, a máxima “menos é mais”, quando bem aplicada, rende grandes trabalhos. Wolfwalkers é um exemplo disso. A animação em 2D desenvolvida pelo estúdio irlandês Cartoon Saloon promete bater de frente com Soul, da Pixar, na temporada de premiações 2021.

Disponível na Apple TV+, a obra explora mitologia nórdica com traços manuais que esbanjam qualidade visual e alavancam a história. Veja nosso veredito de um dos melhores filmes de 2020.

A boa e velha história

A jovem Robyn (Honor Kneafsey) é filha do caçador de lobos Bill (Sean Bean), que é encarregado pelo Lorde Protetor da cidade de Kilkenny – local real na Irlanda -, durante o século XVII, com a tarefa de matar os caninos da floresta onde a expansão das plantações é planejada.

A alcateia não se intimida com a presença do inimigo e reage contra moradores que tentam combatê-los. Porém, o mais curioso aparece em forma humana: uma garota faz parte do grupo animal, levantando, a partir daí, o folclore local acerca da magia dos wolfwalkers – caminhantes lobos, em tradução literal -, elemento presente na cultura irlandesa.

Robyn esbarra com Mebh (Eva Whittaker), a jovem líder da alcateia, e passa a questionar as próprias atitudes de seu povo contra a natureza, uma mistura de Avatar (2009) com Princesa Mononoke (1997) tão repetida nos cinemas, mas com o singular toque celta do mesmo estúdio que explorou tão bem a mitologia local em Uma Viagem ao Mundo das Fábulas (2009) e A Canção do Oceano (2014), indicados ao Oscar de Melhor Animação.

Imagem: Divulgação

Estética deslumbrante

O diretor Tomm Moore, responsável pelas duas obras supracitadas, ganhou a ajuda do co-diretor Ross Stewart para unir dois elementos fundamentais no fechamento dessa trilogia informal do estúdio: o respeito ao folclore celta e o uso de uma animação 2-D fluida e impactante. 

Apesar do previsível desfecho, Wolfwalkers não se destaca apenas pela sua simples mas funcional trama de redenção e de combate ao avanço do capital contra a natureza. Seus elementos formais dialogam a todo momento com esse embate de interesses através do traço manual firme em 2-D, evoluindo para um 3-D em cenas-chave que alargam o belíssimo cenário, principalmente dentro da floresta.

O senso de liberdade vs prisão alinha quadros aos sentimentos dos personagens perfeitamente, usufruindo da animação para contrastar as cores e espaços de maneira dinâmica. O espectador ainda é fisgado pela magia da trama e pela habilidade visual da animação no processo de imersão do filme – difícil de executar e muito satisfatório quando bem sucedido.

Imagem: Divulgação

Veredito

É cedo para dizer se Wolfwalkers deve bater Soul – o famoso amigo rico – nas premiações de 2021, mas o alto nível da obra é inegável. Inserir elementos pessoais de seus criadores, como antigos contos folclóricos, aproxima o filme do público e conforta pelo cuidado com os detalhes que somente quem ouviu as mesmas histórias vai sentir.

Ambos os longas carregam mensagens através de uma aventura espiritual em busca do seu “verdadeiro eu”. Wolfwalkers é menos autêntico dramaticamente e mais rudimentar visualmente, entretanto, esbanja carinho e beleza dentro do que se propõe, o suficiente para se tornar, até agora, uma das melhores animações da década.

Pontos negativos

  • Nenhum

Pontos positivos

  • Animação em 2-D dinâmica e chamativa
  • Elementos formais bem alinhados ao enredo visual

Nota: 9,5