Parte da seleção do Festival de Cannes 2020, Verão de 85 chega aos cinemas nesta quinta (3) e promete trazer uma história de amor juvenil, mas com uma pitada de mistério. O longa é livremente inspirado no livro Dance on My Grave (1982) do autor britânico Aidan Chambers. Nós conferimos o filme e vamos contar a vocês as nossas impressões.
Seis semanas
O filme começa com a narração do jovem Alexis (Félix Lefebvre) falando sobre a sua obsessão com a morte, mas como aquilo em nada ajudou quando ele viu uma pessoa morta pela primeira vez. Depois disso, a imagem corta para algumas semanas antes, quando o rapaz se envolve em um acidente de barco e é salvo por David (Benjamin Voisin), o dito cujo “futuro cadáver”.
A partir daí os dois se tornam muito próximos, desenvolvendo um romance quase que imediatamente. Arrebatado por aquele sentimento, Alexis acredita que encontrou em David o amigo dos sonhos. Em contraponto a isso vemos o rapaz abatido no futuro, em cenas que demoram a nos revelar quais as circunstâncias que envolveram a morte do seu parceiro e o que ele tem a ver com o acontecido.
Romance vs Mistério
Iniciando já com uma revelação importante, o filme toma a escolha de não tentar “enganar” o seu público, mas também com isso tira todo o choque que a morte prematura de uma parte do casal poderia causar no espectador. A cena em si tem um gosto previsível, abolindo qualquer emoção ou tristeza súbita que poderia acarretar.
Esse vai e vem que o longa faz entre os acontecimentos do passado e do presente me parece um tanto prejudicial à narrativa. Ver o desenrolar do romance entre Alexis e David é satisfatório, bonito e emocionante, mas essas partes são intercaladas com cenas curtas envolvendo o mistério sobre a tal morte.
Narrativamente faz sentido ter esses acontecimentos intercalados, o que não funciona aqui é o roteiro em si. O filme tomou a decisão de ser mais sobre os fatos pós-morte do que sobre o romance em si. Dessa maneira ele parece tirar tempo de tela do relacionamento, fazendo com que o luto e todas as ações envolvendo o Alexis do presente pareçam pouco mais que um delírio juvenil.
Relação jovem
A níveis de comparação podemos dizer que Verão de 85 lembra muito Me Chame Pelo Seu Nome (2017) na questão do romance, de ser algo muito fugaz e rápido, ou até por se passar em um bonito cenário europeu. Mas o longa de 2017 é mais feliz em desenvolver a relação do casal para que a separação seja melhor sentida.
Porém, para não ser injusta com o longa, apesar desses problemas de roteiro, ele consegue desenvolver um romance cativante entre os protagonistas. As cenas são todas esteticamente bonitas, com diálogos bem pensados e situações divertidas. O que fica é a sensação de que gostaríamos de ver mais disso.
Veredito
Verão de 85 tinha tudo para ser um bom romance juvenil, contando ainda com o plus de retratar com bastante naturalidade um relacionamento homoafetivo. Ele consegue mostrar esse lado, mas quando se envereda para as cenas de mistério e com o público já tendo uma boa ideia do que acontece no futuro, se torna mais difícil de apreciar essa leveza da relação.
Esteticamente compete, o filme consegue nos mostrar de maneira visual a transição das cenas do passado e do presente, inclusive até pela aparência abatida de Alexis. Mas poderia ser mais sucinto ao mostrar os acontecimentos pós-morte, deixando para o público mais da boa sensação do romance e trazendo mais impacto aos acontecimentos posteriores.
Pontos positivos
- Boa estética nas cenas
- Diálogos interessantes
- Romance jovem
Pontos negativos
- Revelação prematura do plot
- Muito tempo dedicado aos acontecimentos pós-morte
- Pouco tempo de tela para o romance
NOTA: 7,5