Em 2024, Luca Guadagnino retorna pela segunda vez aos cinemas, agora com Queer. Após lançar Rivais no início do ano, o diretor apresenta uma obra mais ousada e artística. Já conferimos o longa e vamos contar nossas impressões.
Enredo
Após deixar os Estados Unidos, Lee (Daniel Craig) se estabelece em uma pequena cidade universitária e boêmia no México. O local, simples e vibrante, é habitado por pessoas que trabalham em empregos temporários ou dependem do benefício GI Bill, destinado a veteranos de guerra.
Nesse cenário, Lee se envolve em um intenso relacionamento com um jovem local, dedicando-se completamente para manter o romance.
Construção lenta
Baseado no livro homônimo de William S. Burroughs e inspirado em fatos reais sobre Aldebert e Lewis Marker, o roteiro de Queer é sólido e apresenta uma narrativa deliberadamente lenta. Com diálogos carregados de ironia e metáforas, o enredo aborda temas como a solidão, o autoconhecimento, desejo e a sexualidade como parte da identidade humana.
A construção dos personagens é muito bem feita, em especial o protagonista. Lee apresenta muitas camadas e nos desperta vários sentimentos durante as pouco mais de duas horas de duração do filme, que vão desde curiosidade até pena, passando por momentos de admiração. Grande parte disso é mérito de Daniel Craig que consegue se entregar completamente ao papel, deixando de lado seu pudor e julgamento para abraçar o personagem.
A sexualidade humana por Guadagnino
A grande temática das obras do diretor italiano é a complexidade do ser humano, passando pela sexualidade e o erotismo. Ele sempre busca utilizar várias formas diferentes de abordar esses temas, como em Me Chame Pelo Seu Nome (2017), que oscila entre o sutil e o direto para desenvolver o romance dos personagens.
E isso acontece até mesmo em longas que não tenham uma cena sequer se sexo, como no caso de Rivais, que apesar de ser extremamente sensual, apenas sugere e não mostra de forma explícita. Queer consegue ser mais direto em alguns momentos, mas mantendo a exploração estética e emocional que marca o trabalho de Guadagnino.
Dessa forma, ficamos aguardando como os temas serão abordados no próximo trabalho do diretor. Ele foi escalado para dirigir o remake de Psicopata Americano (2000) que ainda não tem data definida para o começo de sua produção, mas que contará com Austin Butler no papel principal.
Veredito
Queer é um daqueles filmes que pode dividir opiniões, mas com certeza será lembrado por sua ousadia e originalidade em explorar o indivíduo e suas diversas camadas. Seu roteiro é muito bem feito, servindo para convidar o espectador a conhecer o livro que serviu como inspiração.
A direção se destaca por sua precisão, com decisões acertadas sobre enquadramentos e o uso narrativo das cores. A escolha da paleta de cores é genial. Tons saturados de vermelho marcam momentos de intensidade; o preto destaca cenas de delírios, enquanto os tons sépia evocam saudade e a boemia do ambiente mexicano.
Daniel Craig brilha no papel principal. Desprendido de pudor, ele abraça Lee e toda sua complexidade, intercalando sua desinibição para conseguir viver tudo aquilo que ele deseja com a solidão de alguém que já viveu bastante, mas talvez nunca tenha experienciado um amor tão avassalador quanto aquele.
Pontos positivos:
- Direção
- Atuação de Daniel Craig
- Bom roteiro adaptado
- Excelente escolha de cores
Pontos negativos:
- Não tem
NOTA: 10/10