O nascimento do primeiro filho é sinônimo de um novo ciclo e do início de uma família, um sonho para muitos que desejam mudar os caminhos de suas vidas, para melhor ou para pior.
Pieces of a Woman expõe o choque e a tensão antes, durante e depois do parto de um casal de primeira viagem. Porém, uma tragédia surpreende ambos e altera o que seria o começo de um capítulo tão aguardado para eles.
O longa chegou ao catálogo da Netflix no dia 7 de janeiro e tem repercutido bastante na comunidade. Confira nosso veredito!
Demolição inesperada
Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf) estão prestes a receber um presente muito aguardado: sua primeira filha. Os 30 minutos iniciais de Pieces of a Woman exibem o castelo familiar construído com tanto cuidado para receber a nova vida, para logo ser demolido da pior forma possível.
A morte da recém-nascida nos braços da mãe com o desespero cobrindo o ambiente é o cartão de visitas de uma história com um declínio dramático escancarado. Um golpe que reverbera pelos 90 minutos restantes com intensidade cada vez maior.
Inspirado na vida dos criadores
O casal húngaro Kata Wéber (roteirista) e Kornél Mundruczó (diretor) adaptaram em forma de ficção um momento delicado de suas vidas: um aborto espontâneo de Wéber, que gerou traumas impulsionados pela opinião de terceiros sobre o corpo da esposa.
“Queria falar sobre um tabu. Mulheres que perdem seus bebês são muito isoladas. As pessoas ao redor simplesmente não sabem como lidar com essas perdas e tragédias, tanto na sociedade quanto na família. Essa foi a origem”.
– A roteirista Kata Wéber para a Variety.
O filme também se baseou em um caso parecido de uma parteira acusada de homicídio após o falecimento de um bebê durante um parto natural em 2010, segundo contou Mundruczó ao Hollywood Reporter.
Veredito
A melhor qualidade de Pieces of a Woman não está em sua trama, mas na forma como o ocorrido, já nos minutos iniciais, espalha a tristeza canalizada pelos meses de luto durante o resto do filme.
O peso está no processo de superação de Martha, através da excelente interpretação de Kirby, vencedora do prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza por esse papel; e não das dificuldades de Sean, que recebe mais tempo de tela do que o necessário em núcleos que não levam a lugar nenhum. O holofote deveria ser total na situação da mãe, sem hesitar, ainda mais pelo nível de atuação da protagonista ao demonstrar toda a sua decepção pelos olhares.
A forma na qual Mundruczó maneja a filmagem contribui para esses momentos de contemplação, que podem parecer demorados, mas são necessários em um cenário em que rapidez não se aplica. Não se esquece a perda de um filho em dois ou três meses e o diretor é paciente nesse sentido, acompanhando Martha antes de longe, dando o espaço que ela precisa, e aos poucos aproximando a câmera da personagem.
Quem também se destaca é a veterana Ellen Burstyn como Elizabeth, mãe de Martha, dupla de Kirby no diálogo mais explosivo e delicado do longa. Um embate entre o orgulho e o desespero internalizado que soma muito ao tom melancólico da obra.
A resolução do “problema” principal foge um tanto do tom seguido até então pela forma como foi feita, mas termina de maneira satisfatória uma luta forçada tanto para Martha quanto para o público.
Pontos negativos
- Foco em núcleos dramáticos descartáveis
- Forma da conclusão fora do tom seguido
Pontos positivos
- Interpretação de alto nível de Vanessa Kirby
- Paciência na abordagem do processo de luto
NOTA: 7,5