Veredito de Pânico 5

20/01/2022 - POSTADO POR EM Filmes

11 anos depois de Pânico 4 (2011), a onda de reboots/sequels não poderia deixar de atingir uma das maiores franquias de terror do cinema.

Dessa vez, sem a mente de Wes Craven (R.I.P.) no projeto, os jovens diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett tinham a complicada missão de honrar o legado dos filmes anteriores enquanto continuam a história do trio maravilha (Sidney, Gale e Dewey), ainda adicionando novos personagens à trama. Será que Pânico 5 deu certo?

ATENÇÃO! O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS DE PÂNICO 5.

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Déjà vu

Como esperado, a trama do quinto capítulo de Pânico repete a mesma das outras quatro obras: uma nova pessoa assume a fantasia do icônico Ghostface e ameaça os cidadãos de Woodsboro. Agora, um outro grupo de jovens é o foco dos ataques, encabeçado por Sam Carpenter (Melissa Barrera), após o assassino quase matar sua irmã mais nova.

Essa insistência em reproduzir o modus operandi da franquia traz vantagens e desvantagens ao longa. O bom é que sempre reinventam cenas marcantes do original – normalmente a de abertura -, agradando aos fãs, digamos, mais “raízes” de slashers. O ruim é que essa remodelagem é curta e termina da mesma maneira, mais previsível impossível.

O roteiro de James Vanderbilt e de Guy Busick faz questão de pedir a benção de Craven para tirar Sidney (Neve Campbell) dos holofotes como o ímã de psicopatas e trabalhar em uma história que recorre ao trio clássico apenas quando é muito necessário. Essa independência inicial dá uma impressão de refresco para a franquia, mas logo é deixada de lado.

Imagem: Divulgação

Filha de peixe, peixinho é

Importante destacar que entramos agora em território de spoilers. Então, leitor, caso ainda não tenha visto o filme, retorne aqui somente depois de descobrir que Sam Carpenter, a nova “heroína”, é simplesmente a filha perdida de Billy Loomis, o Ghostface do Pânico original.

A partir daqui, o filme parece inclinar para um A Ascensão Skywalker (2019), em que um personagem central precisa obrigatoriamente ter laços familiares com outra figura marcante de um filme passado para que seu papel faça sentido

Por que não deixar Sam como a protagonista outsider, que somente quer proteger a irmã? Essa conexão serve só para uma frase de efeito no clímax e pronto. De resto, não justifica as repentinas visões do seu pai em situações aleatórias.

Aliás, Barrera canta muito, como mostrou em Em um Bairro de Nova York (2021), e quebra bem o galho em cenas de ação, mas dramaticamente é muito limitada. O sofrimento para a atriz conseguir derramar uma lágrima parece maior do que a tristeza sentida pela personagem.

Imagem: Divulgação

Veredito

Em uma época em que forçam uma vaca a entregar o mesmo leite por anos em vez de procurar uma nova, Pânico 5 se autointitula como um sequel totalmente desnecessário. Um estranho no parque, que hoje tem como referências de qualidade um terror mais paciente e menos seriado.

Esses momentos, inclusive, são parte da consciência da franquia desde Pânico 3 (2000), como diversão pela metalinguagem e pelas jogadas manjadas apontando para os fãs chatos- que a própria obra alfineta -, satisfeitos apenas com a replicação automática de uma fórmula pouco atualizada. Pânico, hoje, tende mais para a comédia do que para o terror.

O lance não está mais em como vão assustar o espectador, mas em qual dos cortes isso vai ocorrer. A cena com o personagem de Dylan Minnette – uma das melhores do filme – é o exemplo perfeito disso: brinca pela elipse do plano e pelo tom da trilha sonora. 

Por esses momentos, Pânico 5 cresce brevemente e respira como um dos sobreviventes de uma quase velha guarda da geração de slashers. A obra de Craven nunca atingiu o nível do original de 1996 e provavelmente nenhuma outra nesse estilo irá. 

E tudo bem. Afinal, são outros tempos. Resta torcer para deixarem Sidney Prescott em paz e passarem o bastão e a faca manchados de sangue.

Pontos negativos

  • Exagero na metalinguagem e brincadeiras aos filmes anteriores
  • Protagonismo frágil de Melissa Barrera

Pontos positivos

  • Reinvenção de cenas marcantes da franquia

NOTA: 6