Veredito de O Esquadrão Suicida

05/08/2021 - POSTADO POR EM Filmes

Cinco anos após o lançamento do primeiro Esquadrão Suicida (2016) nos cinemas, chega às telonas a continuação dessa franquia que reúne os mais estrambólicos vilões da DC Comics

Não numerado, mas precedido de artigo, O Esquadrão Suicida destaca um comprometimento maior com tramas absurdas e tiroteio frenético, como foi mostrado em seus trailers. Tudo isso sob a direção de James Gunn, conhecido por emplacar blockbusters na concorrente Marvel

Mas será que nesse novo filme Gunn repete na DC a fórmula “marvelesca” dos bem-sucedidos Guardiões da Galáxia (2014) e Vingadores: Ultimato (2019)? Ou será que “O” novo Esquadrão Suicida é flopado como seu antecessor? Acompanhe a seguir.

Belle Reve Blues

Uma nova ameaça à segurança dos Estados Unidos está para ocorrer na ilha sul-americana de Corto Maltese, onde o General Presidente Silvio Luna (Juan Diego Botto) assume o poder após dar um golpe de estado. 

É para lá que Amanda Waller (Viola Davis), fundadora e chefe da Força Tarefa X (nome oficial do Esquadrão Suicida), manda um grupo de 13 prisioneiros da Penitenciária Belle Reve. Entre meta-humanos e criminosos com habilidades especiais, eles devem destruir Jötunheim, um misto de laboratório e prisão para dissidentes políticos da ilha. 

Caso desistam ou não completem a missão, cada membro irá morrer nas mãos de Waller. O que o esquadrão não sabe, porém, é o que está no contido em Jötunheim: um ser alienígena que pode controlar mentes humanas, colocando a vida da equipe em risco.

Imagem: Divulgação

Esqueça o drama: atire para matar!

É difícil olhar para a produção atual e não fazer comparativos ao primeiro filme, dirigido por David Ayer. A partir desse exercício de comparação, podemos analisar os acertos e falhas da atual versão de James Gunn

Na primeira adaptação, havia uma excessiva preocupação moral em criar uma trama onde os protagonistas não fossem “100% vilões”; apenas anti-heróis dotados de carisma e dramas que gerassem empatia pelos seus atos. Isso prejudicava não só o desenvolvimento dos personagens, como também enfraquecia a trama com tanta autopiedade.

O que pode ser visto hoje é “A” história que Esquadrão Suicida realmente necessita. Estética neon sombria? Dramas familiares? Apresentações desnecessárias? Zonas seguras de violência? Will Smith? Nada disso. Nos 20 minutos iniciais do filme já temos explicações bem objetivas, humor orgulhosamente ridículo, anti-heróis realmente egoístas e, claro, muito sangue e violência ao ritmo de tiro, porrada e bomba (que estão lá para matar e fazer estrago).

Tudo isso é fruto de uma direção que não teve medo de ousar. A força criativa de James Gunn, tanto na direção como no roteiro, está em transformar toda a irreverência de vilões com nomes e poderes esdrúxulos em um carnaval de violência festiva. É basicamente Deadpool no terreno da concorrência. 

A criatividade do diretor está também em ter entendido o propósito do Esquadrão Suicida, saga que está nos quadrinhos desde 1987. Se o grupo leva “suicida” no nome, é óbvio que muitas mortes na equipe podem acontecer. E elas acontecem sem dó, causando sentimentos de surpresa ou humor involuntário. 

Imagem: Divulgação

Pancadaria estranha com gente esquisita

As jóias do filme anterior não são esquecidas nessa nova produção: novamente temos Arlequina (Margot Robbie) sendo o grande valor cômico da trama; só que desta vez, mais agressiva nos combates. Viola Davis encarna uma Amanda Waller mais experiente em comandar a Força Tarefa X, e sem medo algum de ser maquiavélica. Rick Flag (Joel Kinnaman) ainda é o membro institucional do esquadrão, um elo entre a equipe e os interesses de Waller.

Os novos reforços são um show à parte, pois finalmente temos as mais caricatas criações oriundas da DC Comics em ação: Pacificador (John Cena), Bolinha (David Dastmalchian), Tubarão-Rei (Sylvester Stallone), Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior), Doninha (Sean Gunn) e Sábio (Michael Rooker), só para citar alguns. O mais sério entre eles é Sanguinário (Idris Elba), pistoleiro individualista que é o líder entre os anti-heróis.

Com tais personagens e seus poderes incomuns, o novo filme não tem vergonha alguma de soar ridículo. A comédia é descontraída ao mesmo tempo que propositalmente sacana, sabendo fluir junto com a aventura. Uma atitude muito melhor para a humanização dos personagens do que os flashbacks dramáticos e autoexplicativos usados anteriormente.

O drama ainda está presente e sabe como funcionar para alguns dos novos personagens, como Caça-Ratos (em tom mais sério) e Bolinha (em tom de deboche). O anti-herói engomadinho Pacificador, conhecido pela amoralidade no uso da violência em busca da paz, é uma das grandes surpresas do filme, graças à atuação do wrestler John Cena. E o Tubarão-Rei, com seu jeito bobão e linguagem limitada, é o Groot da equipe. Só que ele come gente.

No caso do Sanguinário, vemos um arco dramático que replica a mesma história já utilizada em Pistoleiro (Will Smith) no primeiro filme. Mesmo inovando na tensão entre pai e filha, essa subtrama poderia ser trocada por algo mais original.

Já em Corto Maltese temos as conspirações políticas que o filme precisa para não focar apenas em tiroteio sem rumo. De um lado, generais inescrupulosos e tiranos. Do outro, uma guerrilha de resistência popular, tendo Sol Soria (Alice Braga) como líder. Entre o conflito dessas duas forças, críticas veladas à política externa americana em países latinos.

Imagem: Divulgação

DNA pop

O Esquadrão Suicida tem, em certos momentos, o ar desencanado que existe em Guardiões da Galáxia. Não apenas no quesito enredo, mas em questões técnicas. O diretor de fotografia Henry Braham (Guardiões da Galáxia Vol. 2) opta por trazer imagens muito mais claras e coloridas e que não pesam em tons sombrios. 

A movimentação da câmera evidencia cada momento onde a violência pode ser explícita (fazendo o filme ser bem gore em certas partes). No quesito musical, a escolha das músicas não apela para opções manjadas e muito menos faz com que a trama trabalhe em função delas, como se emulasse um videoclipe

A estética do filme aposta em um tom mais setentista, bem típico das produções da época. O figurino contribui para subir o apelo risível em certos trajes, como o do Bolinha e Pacificador.

Imagem: Divulgação

Veredito

O Esquadrão Suicida mostra um avanço dentro das produções da DC que pode marcar uma nova fase em seus filmes. Eliminando grande parte das suas zonas de segurança, que pesam toneladas em obras anteriores, o longa soa muito mais leve, descontraído e polido. Sendo direto no seu propósito, não perde tempo em ser explicativo demais. Aventura, ação, comédia e drama conseguem coexistir adequadamente.

Pode-se dizer que “agora tá valendo” o novo filme do Esquadrão Suicida, que oferece um gancho para continuação. Se for progredir, precisa se desprender do que ainda resta das inserções feitas para “civilizar” personagens e confiar mais no potencial controverso já mostrado antes nas HQs. Comparado ao que já foi lançado tanto no cinema como em vídeo, temos aqui um grande avanço.

Pontos positivos

  • Narrativa mais direta na condução da trama e dos personagens
  • Humor que sabe ser irreverente e perverso
  • Repertório musical bem definido
  • Inovação dentro da abordagem DC de fazer filmes

Pontos negativos

  • Falta de originalidade na construção do personagem de Idris Elba
  • Tentativas óbvias de não “vilanizar” demais os anti-heróis principais
  • Morte de um personagem que poderia ser importante para os próximos filmes

Nota: 8.5