Veredito de Maligno

10/09/2021 - POSTADO POR EM Filmes

Considerado um dos grandes nomes do terror moderno, graças a obras como Jogos Mortais (2004) e Invocação do Mal (2013), o diretor James Wan retorna ao gênero com Maligno

O filme é considerado pelo diretor como um retorno às suas origens no horror, depois de atuar por anos como produtor executivo e na direção de filmes fora do gênero, como Aquaman (2018) e Velozes e Furiosos 7 (2015).

Assumidamente inspirada nos suspenses policiais dos anos 80 e 90, a nova empreitada de James Wan vem cheia de mistérios sobre seu enredo e uma possível continuação. Mas será que Maligno é “benigno” para a filmografia de Wan? É o que descobriremos a seguir.

Passado inconsciente

Madison Mitchell (Annabelle Wallis) passa a ter visões de assassinatos em tempo real. Esses crimes são cometidos por uma figura sombria, que parece ter um vínculo com as vítimas.

Apoiada pela irmã Sydney (Maddie Hasson), ela busca ajuda dos detetives Kekoa Shaw (George Young) e Regina Moss (Michole Briana White) para investigar o paradeiro do assassino. Enquanto as investigações avançam, Madison vai descobrindo que sua relação com o criminoso é mais próxima do que ela imagina.

Imagem: Divulgação

Rápido e letal

Se tem algo que Maligno se diferencia comparado a outros filmes de James Wan é na sua precisão. Extremamente concisa, a produção não perde tempo em oferecer cenas turbulentas, mortais e explicativas para o espectador, o que pode ser visto já no primeiro ato. 

Em poucos minutos, somos apresentados a história, seus personagens e vítimas. Os mistérios a respeito do assassino e seu possível vínculo com a protagonista são gradualmente apresentados, sendo este um dos momentos de desenvolvimento mais delicado do longa.

As cenas de maior tensão são as mortes das vítimas. Seguindo a cartilha do slasher tradicional, o vilão persegue seus alvos com uma destreza silenciosa e força sobre-humana. Nesse quesito, Wan investe em ambientação com maior uso de sombras que servem de refúgio para o assassino, e maior horror climático para o desenrolar das mortes.

Imagem: Divulgação

Influências analógicas

Durante a divulgação de Maligno, o diretor afirmou ser esta produção um retorno às suas origens no horror, com conteúdo diferente do que já havia feito antes. É visível no longa uma forte influência noventista, que pega emprestado o filtro de VHS, chiados de aparelhos analógicos, trilha sonora com sintetizadores e uma introdução dos créditos iniciais com cara de série dos anos 90.

Na construção do roteiro, vemos uma forte referência aos filmes giallo, gênero de suspense policial presente na literatura e no cinema italiano. Exemplos são os filmes de cineastas como Mario Bava e Dario Argento, como Banho de Sangue (1971), Prelúdio para Matar (1975) e Suspiria (1977). 

Mas não só coisas boas que Maligno aproveita. O roteiro, escrito por Wan junto com Akela Cooper (de Luke Cage) e Ingrid Bisu ( de A Freira), reaproveita alguns clichês já utilizados em demasia em produções anteriores do horror. Uns diluídos, outros bem evidentes. Felizmente, o filme não apela para o jumpscare barato; porém, se apoia em emoções baratas. 

Para tentar (ênfase neste verbo) equilibrar os litros de sangue e gritos de horror com um drama comovente, a equipe de roteiristas apela para diálogos forçados, artificiais e sem muita carga dramática que nos faça gerar empatia pela protagonista. 

A atuação de Annabelle Wallis (que já protagonizou o spin-off Annabelle) como  Madison convence em situações bastante pontuais, como a cena em que discute com o personagem Derek Mitchel (Jake Abel), seu marido violento. Fora disso, seu papel na trama é tão enjoativo que temos mais simpatia pela performance carismática de Maddie Hasson, sua irmã.

Imagem: Divulgação

Real ou Sobrenatural?

Com uma trajetória bem alinhada com o horror exibido no multiverso de Invocação do Mal, James Wan insere em Maligno uma dúvida na cabeça do espectador: se o que estamos vendo é um terror sobrenatural ou psicológico. 

Um assassino que mata as vítimas com força bruta e armas brancas soa real. Mas a névoa densa ao redor de ambientes sombrios e visões aterrorizantes apelam ao sobrenatural.

Ao fim da trama, temos a resposta. Mas ela não está imune a furos de roteiro apresentados anteriormente e que não estão bem ordenados com a explicação final. Uma atitude que não se sabe se é um descuido ou uma brecha para explicações em futuras continuações. 

Imagem: Divulgação

Veredito

Alardeado como “uma nova experiência do horror”, Maligno está longe de oferecer algo novo tanto para o gênero como um todo, como para a filmografia de James Wan. Os bons momentos que oferece são tão pontuais que beiram ao esquecível em meio ao dramalhão, à cafonice de trilhas e pouca inspiração na criação de conteúdo impactante no roteiro.

Algumas boas ideias tornam-se insuficientes durante o processo, como a movimentação de câmera pelo teto da casa, o chiado aterrorizante do vilão e a reviravolta sobre a ligação entre a protagonista e o assassino. No fim, o que resta é um resultado tão farofa que ficamos na dúvida da intencionalidade dos envolvidos.

Pontos positivos

  • Exposição mais direta à história
  • Uso dos recursos analógicos como ferramenta de terror

Pontos negativos

  • Diálogos forçados e com pouco valor dramático
  • Utilização de recursos datados dentro do horror
  • Trilha sonora repetitiva e nada marcante
  • Furos de roteiro na solução final
  • Protagonista enjoativa

NOTA: 4