Depois de 5 anos de espera desde Homem-Aranha no Aranhaverso (2018), longa animado do herói aracnídeo que fez um imenso sucesso e ainda abocanhou o Oscar de Melhor Animação, sua continuação, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, fez sua estreia nos cinemas mundiais. Será que toda essa demora valeu a pena? Confira o que achamos do filme.

Enredo

Depois dos acontecimentos do primeiro longa, Miles Morales está se habituando à sua vida como Homem-Aranha no Brooklyn.. Porém, entre os deveres da escola, sua vida pessoal e as ocupações como super-herói, o adolescente enfrenta cada vez mais complicações na relação com os pais. Isso o faz duvidar sobre quanto tempo mais irá guardar esse segredo. 

Enquanto isso, em um outro universo, Gwen Stacy também enfrenta dificuldades como Mulher-Aranha, principalmente por não conseguir lidar com o fato de seu pai policial estar em uma caçada à heroína sem saber que ela é sua própria filha. Nesse meio tempo a jovem acaba esbarrando em um grupo de pessoas-aranha de diversas dimensões que buscam proteger o equilíbrio do multiverso.

Acertaram de novo?

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso tem tudo aquilo pelo qual os fãs aguardaram por tanto tempo: seu roteiro continua primoroso, o humor vem na dose certa e o visual segue com aquela identidade única. Além disso, o texto permite um bom desenvolvimento dos personagens inéditos, contando suas histórias de forma rápida, mas totalmente coerente. Assim, cada um deles tem o tempo de tela necessário para sua contribuição à história.

O visual do filme já é algo intrínseco à história, já que as cores, texturas e composição complementam os fatos a serem narrados. Pequenos detalhes, como a bandeira de Porto Rico aparecer no estalar dos dedos da mãe de Miles, ou a variação de tonalidades que acompanham os sentimentos de Gwen nas cenas em seu universo, conduzem o espectador mais atento a uma reflexão semiótica do filme. 

Outro aspecto interessante de observar no cenário são os easter eggs. Existem diversas cenas que trazem uma piadinha ou piscadela para os fãs mais atentos do tedioso, referenciando fatos de sua história nos quadrinhos e cinema. Um dos mais divertidos de notar se você for um gamer é uma cena do jogo, ainda inédito, Marvel’s Spider-Man 2, que aparece enquanto o amigo de Miles está jogando videogame no quarto deles — o fato já foi confirmado pela Insomniac.

Nem tudo são flores

Apesar de todos esses pontos negativos, não podemos deixar de destacar algumas perdas que o filme teve em relação ao anterior. A mais gritante provavelmente é a mudança na direção do longa e como isso se traduziu nas cenas.

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso é maior do que o seu antecessor em todos os sentidos: temos mais pessoas-aranhas, mais cenas de luta, mais universos. Só que tudo isso em algum momento fica demais. Tem tanta coisa pipocando em tela em certas cenas que o espectador pode ter dificuldade para acompanhar o que está acontecendo. Isso causa a sensação que não foi possível ter uma experiência completa com o filme, que perdemos certos detalhes. Não é algo que irá impedir você de entender a história, mas deve incomodar.

Junto a isso está outro ponto que pode prejudicar a experiência do público. Os balões de pensamento de Miles, que emulam o formato dos quadrinhos, não foram traduzidos na versão dublada do longa. Então, para o público que não entende inglês, em especial pessoas mais novas, já que o filme tem apelo infantil, algumas coisas podem se perder.

E o que virá depois?

Sim, esse é um capítulo dividido da franquia Aranhaverso, então ele termina com um baita gancho. É possível até que esse fato frustre certos espectadores, já que o próximo filme — Homem-Aranha: Além do Aranhaverso — só chegará em março de 2024 aos cinemas. Enquanto isso, só nos resta esperar (e até mesmo especular) o que poderá vir por aí. 

Apesar de Através do Aranhaverso abordar mais a história de Gwen, ainda assim ficam inúmeras dúvidas sobre sua personalidade e motivações. Além disso, seria interessante explorar melhor a tensão amorosa entre a garota e Miles, para vermos como isso afetaria todo o multiverso e, até mesmo, o amadurecimento dos dois.

Enquanto isso, o segundo capítulo dessa saga trouxe uma série de pessoas-aranha cujas motivações podem ser questionadas, abrindo dúvidas sobre seus futuros como heróis ou vilões, além de todo um debate sobre livre-arbítrio, destino e regras multidimensionais.

Veredito

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso conseguiu ir na contramão da ideia que sequências não são tão boas como as originais. Aqui temos uma reunião de diversos elementos positivos, combinadas a uma história cativante e que se preocupa de verdade em estabelecer uma conexão entre os personagens e o público.

A direção de arte fez uso de inúmeros aspectos que abusam das referências a diferentes técnicas de ilustrações, dando um toque autoral ao filme e aproximando o espectador do longa.

A direção do filme é a única que perde em qualidade em relação ao original, pois mesmo que ainda visualmente espetacular o filme pode soar confuso. Felizmente isso não ofusca o que de melhor o longa tem, que é a sua história de amadurecimento desses personagens já tão queridos para nós.

Pontos positivos:

• Roteiro
• Direção de arte

Pontos negativos:

• Direção confusa nas cenas de ação
• Falta de tradução dos balões para português

NOTA: 9,5