Firme na promessa de estrear um filme por semana, a Netflix apostou em um suspense já popular em outros mercados para colocar em sua plataforma. Até agora a jogada parece ter sido certa, pois o thriller Fuja figura no top 10 do streaming desde o seu lançamento. Mas será que o longa merece toda essa boa fama? Confira no veredito abaixo.

Uma vida controlada

Originalmente lançado em 2020 pela Hulu, streaming americano que não atua no Brasil, o longa teve êxito na plataforma e garantiu sua distribuição internacional pelas mãos da Netflix. A direção é do ainda pouco experiente Aneesh Chaganty, responsável pelo excelente Buscando…(2018).

Na trama, acompanhamos Chloe (Kiera Allen), uma adolescente educada em casa por sua mãe Diane (Sarah Paulson). As duas vivem um tanto isoladas por conta dos problemas de saúde da jovem, que acumula doenças como asma, diabetes, paralisia muscular nas pernas, entre outras. 

Tudo parece correr bem e Chloe está ansiosa aguardando por sua carta de admissão na faculdade, até que ela nota um medicamento incomum no nome de sua mãe. A partir daí, a garota começa a investigar sobre o remédio e passa a desconfiar que Diane guarda segredos sobre sua condição.

Inspiração real

Se a trama de Fuja lhe parece familiar deve ser porque você provavelmente conhece a trágica história de Gypsy e Dee Dee, que recentemente deu origem a série The Act (2019), também pelas mãos da Hulu. O seriado mostra uma conturbada relação de mãe e filha permeada pela Síndrome de Münchhausen por procuração.

A fim de não dar spoilers àqueles que não estão familiarizados com essa trama da vida real, vamos parar com as explicações por aqui. Mas é certo afirmar que o filme vem com essa inspiração para sua narrativa, sendo um dos motivos para que soe previsível.

Tensão no talo

Elementos como a utilização de uma história relativamente conhecida (principalmente pelo público americano) como base e um roteiro com reviravoltas simplórias contribuem para a previsibilidade do longa. É como se houvesse (enormes) setas apontando a direção da narrativa durante vários momentos dos seus 99 minutos de duração. 

Ainda sim, essa característica não torna Fuja um filme ruim, pois ele tem muito sucesso em construir o suspense ao ser recheado de cenas tensas, além de ter diálogos muito breves e espaçados. Isso também dispensa um momento exagerado de explicações, que muitos filmes desse gênero procuram oferecer no seu desfecho ou em cenas pontuais. Aqui temos algo mais simples, que vai direto ao ponto.

Veredito

Fuja oferece uma trama simples, com um roteiro previsível, mas bem executado. As cenas de tensão são o ponto alto do longa, levando o espectador até a ponta da cadeira, ficando tão ansioso quanto a protagonista ao descobrir todo o circo armado em torno da sua vida. 

Refletindo sobre os rumos da trama, é difícil acreditar que uma pessoa guardaria provas incriminatórias contra si por puro capricho. Por mais que a garota não fosse ter fácil acesso, o fato ainda parece muito conveniente para se chegar ao ponto pretendido durante o desfecho. Mas isso acaba caindo na questão da previsibilidade do roteiro.

Por fim, as atuações também conseguem se sobressair. Em Sarah Paulson temos a mãe obsessiva perfeitamente encarnada: é fácil acreditar que a personagem faria de tudo para proteger aquilo que criou. Na estreante Kiera Allen vemos uma performance muito centrada, trazendo maneirismos para Chloe que passam muita verdade no seu terror ao descobrir as reais intenções de sua progenitora. Também podemos destacar aqui que a atriz é realmente cadeirante, o que contribui para a veracidade em suas cenas.

Pontos positivos

• Boas atuações
• Suspense bem-construído

Pontos negativos

• Roteiro previsível
• Conveniências na trama

Nota: 7,5