Todos nós já vimos no cinema inúmeras variantes do conto de fadas A Bela e a Fera, seja a versão em preto e branco de 1946 La Belle et La Bête, o clássico da Disney de 1991 ou até mesmo o live-action de 2017 estrelado por Emma Watson.
Mas aposto que você nunca viu essa história sendo contada no Japão em um ambiente de realidade virtual. Esse é um dos pontos de partida da trama de Belle, filme nipo-francês de Mamoru Hosoda, que participou da produção de séries de animação como Digimon Adventure.
O longa estreou mundialmente em 15 de julho de 2021 durante o Festival de Cannes, onde foi bem recebido pela crítica. E nesta quinta-feira (27) ele finalmente chega aos cinemas brasileiros.
Conferimos o filme com antecedência à convite da Paris Filmes e iremos contar a vocês quais foram as nossas impressões.
Realidade virtual
Suzu é uma estudante de ensino médio que mora em uma pequena cidade rural com o pai. Assombrada por uma tragédia de seu passado, a jovem se fechou para o mundo. Ela não consegue mais cantar e nem mesmo manter uma conversa com o garoto que gosta.
Tudo muda quando Suzu recebe um convite para participar de “U”, um ambiente de realidade virtual na qual ela recebe o avatar de Belle. Longe do mundo real ela agora se sente livre para soltar sua voz, conseguindo uma legião de fãs em pouco tempo, mas também chamando a atenção de um misterioso “monstro” lutador.
Traumas e música
A princípio Belle parece ser totalmente independente do conto no qual se baseia, porém aos poucos começa a introduzir alguns elementos conhecidos: a protagonista órfã de mãe, o ser misterioso e monstruoso com a qual começa a conviver, o castelo mágico com ajudantes a postos, etc.
Mesmo assim, o filme é muito feliz em pegar todos esses componentes para criar uma história original e que até usa a questão do romance de uma forma diferente. Na verdade, o anime se coloca em uma posição de explorar muitas formas de amor, como o familiar, entre amigos, entre namorados e até com uma figura do passado.
O trauma carregado por Suzu com a morte da mãe só começa a ser curado quando ela reencontra a sua voz através de um mundo virtual. Isso a encoraja a rever a sua relação com a pessoa que partiu, retirando um pouco da tristeza profunda e culpa que carregava, não só com ela, mas com as pessoas à sua volta.
Através da música, a personagem vai evoluindo. Por isso, também muitos momentos-chave da história são transmitidos para nós através de uma canção, deixando eles ainda mais poderosos e emocionantes.
Construção de mundo
A animação de Belle é também bastante marcante. O visual da personagem no mundo de “U” é vibrante, colorido e cheio de vida, um óbvio contraste do modo mais soturno de Suzu em seu dia a dia.
Porém, todo o ambiente virtual se constrói da mesma maneira, como algo bastante distante e não muito palpável. Acredito que, assim como as duas imagens da protagonista, essa construção se deu para afastar ambas as realidades. Até o modo de imergir no local é meio simplista, nunca deixando claro o seu funcionamento pleno.
Essa última parte pode gerar certo incômodo no espectador, sendo que o filme se foca mais nos acontecimentos e menos na mecânica da coisa. Em certas cenas é possível sentir falta de maiores explicações sobre como aquele mundo funciona, fazendo com que momentos confusos na narrativa aconteçam.
Veredito
Para além de um simples romance, Belle consegue nos trazer uma história bastante tocante sobre superação de traumas e formas diferentes de amor. O filme faz um bom papel em conseguir aprofundar seus temas sem nunca ser piegas.
A trilha sonora, como já falado antes, é fundamental para que esse desenvolvimento aconteça. Não estranhe se você ficar com as músicas na cabeça por muito tempo, mesmo sendo em outra língua elas são bastante tocantes.
A animação tem diversos elementos belíssimos, mesmo que possa soar “travada” em certas ocasiões, mas isso não prejudica a sua fluidez. Um ponto que o roteiro deveria se atentar mais talvez seria a construção de mundo, pois várias dúvidas surgem sobre “U” e nem todas são respondidas.
Mesmo assim, é um fato que Belle merece toda a aclamação da crítica, por trazer uma visão diferente a uma história clássica, conseguindo usar elementos conhecidos para nos oferecer algo novo e cheio de inspiração.
Pontos positivos
- Roteiro bem construído
- Personagens relacionáveis
- Boa abordagem sobre trauma e amor
Pontos negativos
- Construção de mundo um pouco confusa
- Animação “travada” em algumas cenas
NOTA: 9