Veredito de Belle

27/01/2022 - POSTADO POR EM Animes / Mangás E Filmes

Todos nós já vimos no cinema inúmeras variantes do conto de fadas A Bela e a Fera, seja a versão em preto e branco de 1946 La Belle et La Bête, o clássico da Disney de 1991 ou até mesmo o live-action de 2017 estrelado por Emma Watson.

Mas aposto que você nunca viu essa história sendo contada no Japão em um ambiente de realidade virtual. Esse é um dos pontos de partida da trama de Belle, filme nipo-francês de Mamoru Hosoda, que participou da produção de séries de animação como Digimon Adventure

O longa estreou mundialmente em 15 de julho de 2021 durante o Festival de Cannes, onde foi bem recebido pela crítica. E nesta quinta-feira (27) ele finalmente chega aos cinemas brasileiros. 

Conferimos o filme com antecedência à convite da Paris Filmes e iremos contar a vocês quais foram as nossas impressões

Realidade virtual

Suzu é uma estudante de ensino médio que mora em uma pequena cidade rural com o pai. Assombrada por uma tragédia de seu passado, a jovem se fechou para o mundo. Ela não consegue mais cantar e nem mesmo manter uma conversa com o garoto que gosta.

Tudo muda quando Suzu recebe um convite para participar de “U”, um ambiente de realidade virtual na qual ela recebe o avatar de Belle. Longe do mundo real ela agora se sente livre para soltar sua voz, conseguindo uma legião de fãs em pouco tempo, mas também chamando a atenção de um misterioso “monstro” lutador. 

Imagem: Divulgação

Traumas e música

A princípio Belle parece ser totalmente independente do conto no qual se baseia, porém aos poucos começa a introduzir alguns elementos conhecidos: a protagonista órfã de mãe, o ser misterioso e monstruoso com a qual começa a conviver, o castelo mágico com ajudantes a postos, etc.

Mesmo assim, o filme é muito feliz em pegar todos esses componentes para criar uma história original e que até usa a questão do romance de uma forma diferente. Na verdade, o anime se coloca em uma posição de explorar muitas formas de amor, como o familiar, entre amigos, entre namorados e até com uma figura do passado.

O trauma carregado por Suzu com a morte da mãe só começa a ser curado quando ela reencontra a sua voz através de um mundo virtual. Isso a encoraja a rever a sua relação com a pessoa que partiu, retirando um pouco da tristeza profunda e culpa que carregava, não só com ela, mas com as pessoas à sua volta.

Através da música, a personagem vai evoluindo. Por isso, também muitos momentos-chave da história são transmitidos para nós através de uma canção, deixando eles ainda mais poderosos e emocionantes.

Imagem: Divulgação

Construção de mundo

A animação de Belle é também bastante marcante. O visual da personagem no mundo de “U” é vibrante, colorido e cheio de vida, um óbvio contraste do modo mais soturno de Suzu em seu dia a dia.

Porém, todo o ambiente virtual se constrói da mesma maneira, como algo bastante distante e não muito palpável. Acredito que, assim como as duas imagens da protagonista, essa construção se deu para afastar ambas as realidades. Até o modo de imergir no local é meio simplista, nunca deixando claro o seu funcionamento pleno.

Essa última parte pode gerar certo incômodo no espectador, sendo que o filme se foca mais nos acontecimentos e menos na mecânica da coisa. Em certas cenas é possível sentir falta de maiores explicações sobre como aquele mundo funciona, fazendo com que momentos confusos na narrativa aconteçam. 

Imagem: Divulgação

Veredito

Para além de um simples romance, Belle consegue nos trazer uma história bastante tocante sobre superação de traumas e formas diferentes de amor. O filme faz um bom papel em conseguir aprofundar seus temas sem nunca ser piegas.

A trilha sonora, como já falado antes, é fundamental para que esse desenvolvimento aconteça. Não estranhe se você ficar com as músicas na cabeça por muito tempo, mesmo sendo em outra língua elas são bastante tocantes

A animação tem diversos elementos belíssimos, mesmo que possa soar “travada” em certas ocasiões, mas isso não prejudica a sua fluidez. Um ponto que o roteiro deveria se atentar mais talvez seria a construção de mundo, pois várias dúvidas surgem sobre “U” e nem todas são respondidas.

Mesmo assim, é um fato que Belle merece toda a aclamação da crítica, por trazer uma visão diferente a uma história clássica, conseguindo usar elementos conhecidos para nos oferecer algo novo e cheio de inspiração

Pontos positivos

  • Roteiro bem construído
  • Personagens relacionáveis
  • Boa abordagem sobre trauma e amor

Pontos negativos

  • Construção de mundo um pouco confusa
  • Animação “travada” em algumas cenas

NOTA: 9