Veredito de Beco do Pesadelo

11/02/2022 - POSTADO POR EM Filmes

A Forma da Água, de 2017, trouxe ao mexicano Guillermo del Toro o prestígio da Academia com dois Oscars pelo drama/fantasia que mais divergia, até então, da ligação do diretor com o gênero de terror.

Em O Beco do Pesadelo, seu retorno à direção após as estatuetas, del Toro se distancia ainda mais dos elementos de horror para focar em um suspense adaptado do livro homônimo de William Lindsay Gresham, publicado em 1946.

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Chance de ouro

Stan (Bradley Cooper) arranja emprego em um circo administrado por Clem (Willem Dafoe). Lá ele aprende métodos de “mentalismo” com a taróloga Zeena (Toni Colette) e seu companheiro Pete (David Strathairn), a fim de enganar o público e lucrar em cima disso. 

Após investir nesse arriscado estilo de vida com a namorada Molly (Rooney Mara), o charlatão arranja outros métodos para faturar com a ajuda da psicóloga Lilith (Cate Blanchett).

Dá para sentir o peso do elenco lendo esses dois últimos parágrafos, não é? Pois bem, fica só na leitura mesmo. Bradley assume de fato o tom de seu personagem apenas na metade do longa, enquanto Rooney e Cate recebem menos destaque do que deveriam. 

Aliás, que começo enfadonho de filme. Mais de uma hora para riscar o fósforo que enfim ia dar luz à história principal. A brusca mudança de tom é necessária, mas demora demais.

Imagem: Divulgação

Em migração

O Beco do Pesadelo já havia virado filme em 1947, em um estilo mais noir, que del Toro homenageou aqui. 

Vindo de um cineasta marcante pelo seu trato com a fantasia e elementos de terror, surpreende a total mudança de eixo, já demonstrada em A Forma da Água. Não é ruim, mas naturalmente espera-se do diretor um piscar de olhos para suas origens que o alçaram ao lugar atual, coisa que não ocorre aqui. 

A obra permanece ao redor somente do protagonista desinteressante, aguardando sua inevitável perda de sucesso enquanto as coadjuvantes buscam o devido espaço para brilhar e mal o encontram. 

Esteticamente é um primor, sem dúvidas. As indicações ao Oscar de Figurino, Direção de Arte e Fotografia reafirmam isso. O trato emocional com o personagem de Bradley, todavia, arrasta esses artifícios para baixo do tapete durante os 150 minutos do longa.

Imagem: Divulgação

Veredito

O Beco de Pesadelo toma sua verdadeira forma depois de mais de uma hora, o suficiente, a princípio, para entendermos a função de cada personagem na trama. 

Entretanto, somente após esse tempo é que o palco enfim é montado e assistimos à obra real: um golpista cheio de questões internalizadas, que passa por terapia enquanto atua como ponte para o além para ricos.

Fosse esse o foco desde o início, todo o alicerce do passado dos dois únicos personagens que vieram do circo poderia ser explicado facilmente. O filme poderia explorar com mais afinco seu lado investigação/suspense psicológico com maior presença da magnética Cate Blanchett

A cena final é excelente por quebrar um ritmo cansativo que o longa tomou no último terço, mas ainda parece uma desculpa para conectar aos primeiros atos no circo a fim de “fechar o arco” do desolado protagonista.

Pontos negativos

  • Início maçante
  • Coadjuvantes subaproveitadas 

Pontos positivos

  • Estética que homenageia o estilo noir
  • Bom fechamento do “arco de redenção” do protagonista

NOTA: 6