Veredito de Bandida – A Número Um

25/06/2024 - POSTADO POR EM Filmes

O cinema brasileiro costuma trabalhar muito com adaptações de casos reais e dessa vez não podia ser diferente. Bandida – A Número Um (2024) faz um retrato do Rio de Janeiro do final dos anos 80 e início dos anos 90, contando a história de uma das maiores chefes do tráfico. Conferimos o longa e contamos nossas impressões a seguir.

Enredo

Rebeca (Maria Bomani) era uma criança criada apenas por sua mãe, uma empregada doméstica que vivia na favela da Rocinha na década de 80. A garota sempre acompanhava a mãe no trabalho na Zona Sul do Rio de Janeiro, até que a patroa proíbe a entrada de Rebeca em sua casa. Por conta disso, a menina acaba passando os dias sozinha em casa e sua avó acaba vendendo a menina para um bicheiro e chefe da favela. A partir daí, ela passa a ter contato com o tráfico em primeira mão.

O roteiro do filme é uma adaptação de uma autobiografia A Número Um, lançada em 2015 pela autora Raquel de Oliveira. Vale ressaltar que alguns dos fatos narrados e o nome dos personagens no livro foram alterados no longa. A narrativa do filme é bem construída, mesmo com a presença de um primeiro ato um pouco lento. Apesar disso, o filme cresce e consegue envolver o espectador. 

A direção do filme é bastante arrojada e toma decisões corajosas, o que contribui para cenas de ação de tirar o fôlego. Por sua vez, a fotografia do longa se inspirou em Cidade de Deus (2000) mas não a copiou, tomando decisões polêmicas que poderiam ter um resultado negativo, mas felizmente esse não foi o caso. O inteligente uso das cores e do preto e branco não só demarca o tempo, mas também o estado de espírito da protagonista.

Imagem: Divulgação

Sobre o Livro 

Raquel de Oliveira nasceu na Rocinha e teve uma infância muito difícil. Assim como Rebeca, Raquel foi vendida a um bicheiro quando criança e depois de um casamento ruim e dois filhos, tornou-se namorada do traficante Ednaldo de Souza, um dos maiores traficantes dos anos 1980.

Durante o relacionamento, ela começou a ter contato mais próximo com o tráfico na favela, cuidando da contabilidade. Com a morte de Naldo em 1988, Raquel passou a comandar as operações, tendo 17 homens sob seu comando. Atualmente, Raquel de Oliveira é uma pedagoga e escritora de 63 anos. Ela não romantiza o tráfico, e em entrevista à BBC em 2017, contou que a desenvolver a escrita foi uma forma de reabilitação.

Imagem: Divulgação

Veredito

Bandida é um filme ousado e honesto ao fazer um retrato do Rio de Janeiro da década de 1980 do ponto de vista da favela. Sem romantização, o longa chega a ser cruel em algumas cenas e causa repulsa em quem assiste, acertando exatamente onde queria. O roteiro é uma adaptação interessante que dá uma leve platinada no primeiro ato mas logo se recupera. Alguns diálogos também são problemáticos ao serem expositivos demais e serem muito literais em algumas cenas. 

A direção é corajosa ao tomar decisões nas cenas de ação e de introspecção da protagonista. A fotografia se inspira em uma obra consagrada do cinema nacional, mas não a copia e deixa o filme mais interessante.

Pontos positivos:

  • Direção corajosa
  • Fotografia ousada
  • Roteiro bem construído

Pontos Negativos:

  • Diálogos expositivos 
  • Primeiro ato lento

Nota: 8