Veredito de Aves de Rapina

09/02/2020 - POSTADO POR EM Filmes

Depois do estrondoso sucesso de “Coringa”(2019) e em meio a muita expectativa e desconfiança, chegou aos cinemas o novo filme da DC: “Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa”. Margot Robbie e a sua extravagante Arlequina estão de volta às telonas para trazer muita desordem pelas ruas de Gotham. 

A gente já assistiu e você confere agora o que achamos.

Arlequina, a dona do caos

Fazendo jus à personalidade da protagonista, o filme em si tem uma narrativa bastante caótica. Apresentado pela ótica da própria Arlequina, o enredo leva em consideração o tempo psicológico da personagem. Ou seja, os acontecimentos, narrados por ela mesma, não seguem uma linearidade e o presente, passado e futuro se misturam, com as lacunas sendo preenchidas aos poucos. Isso pode causar um estranhamento inicial deixando os espectadores confusos mas, assim que tudo vai se encaixando, fica mais tranquilo entender o desenvolvimento dos fatos.

Outro artifício utilizado no longa, que já é bem conhecida dos filmes do Deadpool, é a quebra da quarta parede. Ele ajuda a complementar a dinâmica do filme, sem você sentir que ele quer copiar o anti-herói da Marvel. Além disso, o carisma e atuação de Margot Robbie deixa a experiência ainda mais divertida de se acompanhar.

No decorrer da trama, é possível enxergar a anti-heroína de forma mais humanizada, mostrando seu ambiente seguro, onde ela pode fazer coisas corriqueiras como sentar no sofá na frente da televisão. Há outros momentos, em que Harley Quinzel, pós-graduada em Psicologia, parece retomar o controle do corpo, mostrando que ela não é só uma inconsequente em um corpinho bonito.

Aves de Rapina

O filme se passa logo após os acontecimentos de “Esquadrão Suicida” (2016) e Arlequina acabou de romper com o “Sr. C.”, perdendo sua “imunidade” e ficando totalmente a mercê de muita gente em Gotham que deseja se vingar dela. É a partir dessa premissa que a história se desenvolve.

Em paralelo, as vida das outras personagens são apresentadas: Renee Montoya (Rosie Perez), uma detetive que segue tentando manter seu emprego; Dinah Lance/Canário Negro (Jurnee Smollett Bell), que trabalha para o vilão Roman Sionis/Máscara Negra (Ewan McGregor); a menina Cassandra Cain (Ella Jay Basco), com sua arte de bater carteira de quem passar por perto e acaba roubando de quem não devia. Por fim, Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), que acabou de chegar na cidade em busca de vingança, como toda vigilante que se preze.

As situações conflitantes das mulheres vão se cruzando durante o longa, no meio da aleatoriedade da narrativa, até culminar na reunião das cinco para combater o Máscara Negra, em prol de um bem maior: saírem vivas dessa história. Sim, o filme não trata de salvar o mundo da destruição, mas não deixa de ser o pontapé inicial de um grupo de mulheres fortes que se unem para buscar justiça: As Aves de Rapina

Em um filme com muitas protagonistas, sempre fica alguém mais apagada no meio de tudo. É o que acontece com a Caçadora. Por mais que ela seja o elemento de suspense do filme, poderia ter havido um melhor aproveitamento da personagem, tanto em tempo de tela quanto em aprofundamento, para que o espectador se envolvesse de fato com ela.

Gotham e seu novo vilão #1

Apresentado de forma caricatural e praticamente como um menino mimado e afetado, Roman Sionis aproveita a ausência do Coringa na cidade para tomar de conta e ser o criminoso número 1 de Gotham. Se não fosse pela boa atuação de McGregor, talvez o personagem não tivesse tanta força em cena, pois perante a desordem criada pela protagonista, ele não traz muita ação para o filme e suas motivações não geram um grande impacto.

Por outro lado, vale ressaltar os momentos em que Sionis, junto do seu lacaio Victor Zsasz (Chris Messina), traz os momentos sombrios, cruéis e insanos necessários para a trama. Características típicas de um vilão que se preze, o Máscara Negra coloca suas vítimas em situações vexatórias seja em particular ou em público.

Veredito

“Aves de Rapina” dá um passo além da versão fetichista da Arlequina que vimos em “Esquadrão Suicida”, ou seja, a emancipação da anti-heroína é maior do que apenas se livrar de uma relação abusiva com o seu ex. Não só Margot Robbie consegue entregar uma atuação impecável, as outras atrizes dão um show e a química entre elas dá muito certo.

O filme passa uma mensagem forte de sororidade, enquanto os homens se juntam para fazer a pose de mau.

O filme traz para o universo DC nos cinemas ainda mais confiança por acertar mais do que errar e não parece forçar a barra. No quesito diversão, o filme entrega o que se propõe com várias situações cômicas e acertando o tom. Para quem gosta de ação, o filme também é um prato cheio. As perseguições e lutas muito bem coreografadas tem o tempo certo, tornando a experiência nada entediante e muito menos cansativa.

Por outro lado, ele se mantém em uma estrutura narrativa praticamente fixa. Quer dizer, não é possível notar um crescimento de ação até o clímax e, ao chegar no momento de desfecho, quando a ação vai descendo. A prova se dá quando a Arlequina deve enfrentar o vilão frente a frente e tudo termina em um piscar de olhos e da forma mais boba possível, fazendo o espectador se perguntar se era aquele homem que queria ser o cara mais perigoso de Gotham.

Pontos positivos

– Elenco com atuação caprichada

– Roteiro dinâmico e não-linear

– Direção de arte e fotografia agregando valor

Pontos negativos

– Vilão não tão bem trabalhado

– Estrutura narrativa sem curva de crescimento

Nota: 8