O interesse do público geek/nerd pelas tartarugas mais descoladas da cultura pop segue mais vivo que nunca. Exemplo disso é As Tartarugas Ninja: Caos Mutante, novo filme animado da franquia. Com direção de Jeff Rowe (A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas), o longa chega aos cinemas no dia 31 de agosto.
A obra segue o já consagrado estilo de animação que mescla o 2D e 3D, abordagem vista na saga Aranhaverso e na série Arcane (2021 – ). Porém, será que Caos Mutante pode dar um novo ar juvenil à franquia, após tantas adaptações no cinema e TV? Veremos isso a seguir.
Tartarugas, mutantes, adolescentes… e ninjas
Um grupo de tartarugas mutantes adolescentes vivem no esgoto para se esconder dos humanos. Michelangelo (Shamon Brown Jr.), Leonardo (Nicolas Cantu), Rafael (Brady Noon) e Donatello (Micah Abbey) são criados por Mestre Splinter (Jackie Chan), uma ratazana igualmente antropomórfica que odeia a humanidade e seu comportamento preconceituoso contra os animais mutantes.
Longe da supervisão de Splinter, o quarteto conhece April O’Neil (Ayo Edebiri), uma aspirante a jornalista que quer desvendar uma série de roubos estranhos acontecendo em Nova Iorque. As tartarugas decidem ajudar April a investigar o caso para, assim, se tornarem heróis entre os humanos. Porém, a coisa muda quando eles descobrem que um outro grupo de mutantes está envolvido nos assaltos.
Cowabanga!… mais uma vez
Caos Mutante não é só mais o novo filme das Tartarugas Ninja. É também o mais novo reboot da saga. Vale lembrar que esta franquia de aventura e ação começou em 1984, nas HQs criadas por Kevin Eastman e Peter Laird. Só no audiovisual, os heróis adolescentes já deram as caras anteriormente em sete filmes (cinco produções live-action e duas animações), cinco séries animadas e uma live-action.
Então, sim, vemos novamente a mesma história de como surgiram as Tartarugas Ninja. Mas a equipe de roteiristas formada por Seth Rogen (Pam & Tommy), Evan Goldberg (Superbad – É Hoje), Dan Hernandez (Detetive Pikachu), Benji Samit (A Família Addams 2: Pé na Estrada) e Jeff Rowe (também o diretor) não se prendeu ao básico nesse ponto e construiu uma narrativa engraçada e que subverte a mitologia das tartarugas.
Outra mudança vista para este novo formato é a inserção de dubladores jovens dando voz aos protagonistas. É muito mais eficiente do que ter homens adultos fazendo esse serviço, algo já visto nas produções anteriores. Isso torna mais fácil se conectar em momentos onde o apelo juvenil fala mais alto, tanto em cenas de comédia como de drama.
Falando em drama, há um lado comovente na história que é o desejo dos personagens (sejam eles heróis ou vilões) em obter aceitação. A aversão da humanidade contra o que é diferente coloca-os em situações dramáticas pouco antes exploradas em outros títulos da franquia. O que não parece ser muito inovador é novamente o plano final do vilão Superfly (Ice Cube), que soa tão genérico por ter sido utilizado tantas vezes no cinema – e não me refiro apenas aos filmes dos Tartarugas Ninja.
Aranhaverso fazendo escola
Desde o lançamento de Homem-Aranha no Aranhaverso em 2018, o estilo de animação que mescla o 2D e 3D tem ganhado destaque no meio audiovisual. A animação relembra seu passado nos quadrinhos soando menos infantilizada, como visto na animação recente em 3D da Nickelodeon.
Enquanto os filmes de Miles Morales apelam para a explosão de referências artísticas, e Gato de Botas 2 (2022) e Arcane usam de um visual mais erudito, Caos Mutante cria sua identidade voltando ao grafite e os quadrinhos underground dos anos 1980, com muito rabiscado e traços mais grossos de desenho.
A técnica de animação serve apenas ao propósito estético do filme e não flui em sintonia com a história, como já foi visto nos exemplos citados anteriormente. Por outro lado, diferente de Através do Aranhaveso (2023), a fluidez da ação não foi prejudicada e podemos ver claramente o que está acontecendo nos momentos mais frenéticos.
Um retorno para a nova e antiga geração
Reboots em franquias antigas tem o propósito de apresentar a marca para um novo público. Por ter em sua história piadas e referências facilmente perceptíveis entre a geração Z, o filme cumpre seu papel. Mas nem por isso se esquece da velha guarda que acompanha as tartarugas desde os anos 1980, abrindo espaço para momentos um pouco mais maduros e nem tão infantilizados.
O grande problema em tentar equilibrar as duas coisas é que, para agradar aos mais novos, o enredo tende a ficar mais simples. O que tem mais força em As Tartarugas Ninja: Caos Mutante são as piadas juvenis e apenas isso. A reviravolta final em torno da aceitação dos heróis mutantes em relação aos humanos foi jogada no filme, ao invés de ser melhor construída para dar maior impacto emocional.
O próprio vilão tem pouco tempo para desenvolver seu lado ameaçador, pois divide espaço com outros oito mutantes. E justamente o seu plano ameaçador é previsível demais para ser levado a sério. O TCRI, instituto obscuro por trás da criação dos animais mutantes, promete ser lembrado com mais atenção num futuro filme (conforme anunciado numa cena pós-créditos), pois aqui pouco oferece algo de memorável – com exceção de uma piada construída por Splinter.
Veredito
As Tartarugas Ninja: Caos Mutante é apenas mais um lançamento da franquia. Ainda que tenha elementos louváveis na construção cômica e dramática do seu enredo, o conjunto final da obra pouco traz de inovador para uma marca que já teve sua história contada e recontada tantas e tantas vezes no cinema e na TV.
Isso não impede o filme de divertir o público e, quem sabe, angariar novos fãs para a marca. A produção contém elementos que dialogam com crianças e adolescentes, ao mesmo tempo que traz aquela nostalgia com sabor de pizza para quem assistiu, leu e jogou as histórias de Donatello, Michelangelo, Rafael e Leonardo. Se de fato houver um segundo filme (ou até mesmo uma série derivada), espera-se que as próximas histórias sejam mais inventivas.
Pontos positivos:
- Protagonistas com uma dublagem cativante
- Animação arrojada e que dialoga com a origem da franquia
- Elementos cômicos bem trabalhados pela equipe de roteiristas
Pontos negativos:
- Poucas inovações narrativas na história
- Lado vilanesco com parco desenvolvimento
NOTA: 7,5/10