Três Anúncios Para um Crime: Um filme sobre amor e ódio

19/02/2018 - POSTADO POR EM Filmes

Após conquistar a estatueta de “Melhor Curta” por “Six Shooter” (2006), Martin McDonagh volta ao Oscar com o longa “Três Anúncios Para Um Crime”, que estreia nesta quinta-feira, 15, nos cinemas. Indicado em sete categorias da premiação, o filme apresenta um humor singular e uma história comovente sobre luto, justiça e redenção. Acumulando prêmios, como o Globo de Ouro e a premiação do Sindicato dos Diretores, a produção é um dos favoritos da temporada.

Um enredo comovente

Após o assassinato trágico de sua filha, Mildred Haynes (Frances McDormand) é uma mãe desolada que, diante da ineficiência e do descaso da polícia local, decide alugar três outdoors em Ebbing, cidade onde mora, para exigir uma resolução do ocorrido. Neles, temos frases bastante objetivas, mas com questionamentos cheios de poder. A protagonista causa alvoroço com a polícia e os moradores da região, precisando lidar com os desdobramentos de tal atitude.

Uma combinação que funciona

Um dos pontos fortes de Três Anúncios Para Um Crime” está em seu roteiro, que consegue mesclar muito bem o drama e o humor não convencional, fazendo com que funcionem em um timing primoroso. O alívio cômico vem no momento certo, sem estragar o valor dramático das cenas. Essa combinação lembra bastante o estilo do seriado “Fargo” (2014), que além das semelhanças narrativas, também tem Frances McDormand no seu elenco.

Aqui Frances se prova como uma excelente atriz, nos apresentando uma atuação marcante como a protagonista Mildred, uma mulher amarga e rancorosa, que se fecha para os outros na tentativa de mascarar seu sofrimento e arrependimento. É uma personagem forte, com caráter e determinação, que, desacreditada nas pessoas, luta até o fim para conquistar a justiça que tanto almeja. Suas motivações são compreensíveis, mas suas atitudes são questionáveis, o que a compõe como uma personagem controversa, mas não menos digna de simpatia.

Outra atuação memorável é a de Sam Rockwell, que interpreta o policial ignorante e racista Jason Dixon. Ele, na minha opinião, tem um arco de extrema relevância na história, conseguindo moldar um personagem problemático e desprezível, em um indivíduo capaz de causar empatia e compreensão, em uma ótima jornada de redenção.

O desenvolvimento dos personagens foi imprescindível para o resultado final do filme, o que foi reiterado pelas atuações brilhantes do elenco. Assim, além dos já citados, com Woody Harrelson, Peter Dinklage, e outros, a equipe de atores faz por merecer o prêmio de “Melhor Elenco” no Critics’ Choice Awards e em outras premiações deste ano.

Foto: Divulgação

Nada de Vilões ou Mocinhos

Nada na produção parece se encaixar na definição de “preto no branco”. Há uma linha tênue entre as justificativas e atitudes de cada personagem, algo que os torna mais humanos. Nem todas suas ações são boas, nem todas são más. Eles se constroem de uma forma que é impossível prever o caminho que percorrerão durante a narrativa.

Essa última monta uma narrativa coesa e distribui e apresenta elementos que, a princípio, parecem não ter importância, mas que são retomados de forma cuidadosa para que se façam links durante o enredo. São detalhes, como uma frase em uma carta, ou um personagem que julgamos não ter importância, que nos surpreendem durante o enredo.

“Toda essa raiva, cara, isso gera mais raiva.”

– Charlie (John Hawkes)

Por fim, “Três Anúncios Para Um Crime” é, principalmente, uma história sobre como o ódio e a violência que alimentamos podem nos corromper. Ele apresenta o melhor e o pior do homem, nos mostrando a fúria, a tristeza, e o percurso que cada indivíduo toma para encontrar a redenção. É um filme que nos surpreende com as atitudes humanas de seus personagens, levanta questões sobre elas e, finalmente, nos emociona com o desfecho que tomam. Assim, a obra de Martin McDonagh traz uma história profunda, sombria e poderosa, digna do reconhecimento que recebeu.

Foto: Divulgação