Tomb Raider: A origem de uma lenda

18/03/2018 - POSTADO POR EM Filmes

Quando a franquia de jogos da lendária heroína Lara Croft foi relançada com o reboot da série (simplesmente intitulado “Tomb Raider”), em 2013, ninguém estava verdadeiramente preparado para ver a arqueóloga sofrendo tanto em meio aos desastres da natureza e perigos das florestas. Até porque a britânica milionária ainda nem sequer era uma arqueóloga… nem milionária.

Lara ainda se identificava como uma mera estudante de arqueologia, e na verdade não estava sequer familiarizada com o termo “aventura”. Longe disso; na sequência de abertura do jogo, ela mesma diz que finalmente havia saído ao mundo para deixar sua marca e encontrar aventuras, mas ao invés disso, a aventura a encontrou antes.

ALERTA DE SPOILER

Nós assistimos “Tomb Raider: A Origem”, que estreou nesta quinta-feira, 15, nos cinemas, e você confere aqui o que achamos do novo filme da saqueadora de tumbas mais famosa do mundo. Pode entrar, senhorita Croft.

Que tipo de Croft você é?

Bem distante de suas responsabilidades como única herdeira da fortuna Croft, seja lá quais forem elas, nesse filme conhecemos uma jovem Lara “ganhando a vida” com um emprego nada ambicioso e nas horas vagas lutando kickboxing. Ela é querida por todos por onde passa e já revela, logo de cara, uma atração pela adrenalina, que é talvez o traço mais marcante daquela que conhecemos desde o primeiro jogo para Playstation, de 1996.

Numa das sequências mais empolgantes do início, vemos a garota se voluntariando numa “caça ao tesouro” de corrida de bicicleta em alta velocidade pelas agitadas ruas de Londres, onde o tesouro, no caso, é ela mesma. Essa introdução, a primeira grande diferença entre longa e jogo no qual é baseado, é um dos elementos que melhor funcionam na narrativa, pois mostra muito bem a construção da personalidade de Lara.

Outro momento a se lembrar é quando a protagonista é confundida, na recepção da empresa que leva seu próprio nome, com uma entregadora, e então é mandada para a porta dos fundos. Até que ela vai em direção ao balcão mesmo assim e se identifica como Lara… Croft, deixando o funcionário embasbacado.

Foto: Divulgação

Em busca da lenda

A partir daí, Lara é praticamente impelida pela madrasta, Ana (Kristin Scott Thomas), a assinar os contratos que concederão à moça o legado do grande explorador, Richard Croft, seu pai. Na ocasião em que está prestes a assinar os papéis, uma das testemunhas da cena lhe entrega um curioso artefato, algo parecido com uma versão japonesa do cubo mágico de Rubik.

A pedido do pai (que aparece em flashbacks interpretado por Dominic West), a jovem curiosa vai atrás das pistas deixadas por ele e acaba encontrando uma pesquisa extremamente rica sobre uma ilha no leste do Japão, onde habitava a Rainha do Sol, Himiko. Os fãs do jogo choram de emoção e se abraçam nesse ponto. Enquanto isso, Lara procura ajuda em Hong Kong de um rapaz (estrelado por Daniel Wu) que também perdeu seu pai naquele mesmo lugar.

Os dois partem em uma viagem bastante perigosa, e então somos apresentados a uma cena quase idêntica à de abertura do jogo: o naufrágio em Yamatai. Lá, ela conhece Mathias Vogel (Walton Goggins), um homem obcecado pela lenda de Himiko que se diz preso à ilha até que descubra a localização da tumba da soberana.

Foto: Divulgação

Prelúdio da origem

Embora o filme tenha sido apresentado como uma releitura do jogo de 2013, há quem acredite (eu mesmo, #Gabriel) que na realidade ele pode contar um episódio ainda anterior. É que a história é tão diferente daquela contada pela reinicialização, que se considerarmos esta a segunda visita de Lara à ilha amaldiçoada, uma ou outra coisa acaba fazendo mais sentido.

Vale ressaltar que entre os dois jogos lançados pela Crystal Dinamics e Square Enix, foram publicadas algumas histórias em quadrinhos, com selo da Dark Horse Comics, e um livro, intitulado “Tomb Raider e os Dez Mil Imortais” (Nemo). Nestas estórias, Lara revisita toda essa trama de Yamatai outras tantas vezes, inclusive questionando sua própria sanidade mental sobre o que viveu na “primeira vez” ser real ou não.

Com algumas ressalvas aqui e acolá, especialmente a respeito do destino de dois personagens em particular, é possível encaixar a trajetória deste filme da linha do tempo conhecida como “Sobrevivente”. Se analisado isolado e independentemente do jogo, o roteiro acaba se tornando deveras raso, genérico até. Resta saber se os produtores vão dar continuidade à sucessão do segundo game, lançado cerca de três anos atrás. Muito provavelmente o percurso vai ser parecido, tendo em vista o gancho que o filme toma ao final.

Foto: Divulgação

Jogo x filme

A Square Enix já anunciou que pelo menos esta nova franquia de jogos será composta por uma trilogia. No mesmo dia da estreia mundial do filme, foi publicado pela editora um breve teaser mostrando cenas de “Shadow of the Tomb Raider”, o terceiro da série, que terá divulgação mais ampla no dia 27 de abril e lançamento para Playstation 4, Xbox One e PC em 14 de setembro deste ano.

Para quem é fã dos novos jogos, nos quais podemos acompanhar uma Lara Croft muito mais humana e realista e menos curvilínea e durona, certamente o filme será como um presente. Os grandes lances de ação parecem que são feitos justamente para agradar aos entusiastas gamers. A uma determinada altura do enredo, nós assistimos a uma cadeia de eventos radicais que no videogame ocorrem em momentos espaçados.

Em termos, a história do jogo torna-se mais interessante do que a do filme, mas superar esse ponto de vista da origem da corsária de catacumbas também não podia ser tão simples. Daí vem a escolha de abordar justamente o relato sobre o desaparecimento de Richard Croft, um tema significativo na saga de Tomb Raider.

Treinamento pesado

Provavelmente a melhor virtude da produção esteja na atuação de Alicia Vikander. A atriz, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “A Garota Dinamarquesa” (2015), tinha uma missão nada fácil: substituir o lugar de Angelina Jolie, que se transformou no ícone indissociável da poderosa personagem. Embora Jolie tivesse apenas 24 anos quando filmou o primeiro longa, é bom lembrar que aquela adaptação retratava uma Lara mais velha um pouco, por volta de seus trinta e tantos anos.

Já a sueca, hoje aos 29, interpreta Lara ainda mais jovem, com aproximadamente 25 anos. A ex-dançarina de balé ganhou cinco quilos de massa muscular para encarar o papel e praticamente não fez uso de dublês nas cenas de ação. Sua performance é tão honesta e consistente quanto a de Camilla Luddington (a Joe de “Grey’s Anatomy”). A colega britânica deu não somente sua voz à Lara dos dois últimos jogos, mas também os gestos e expressões faciais para a captura de movimentos da construção de uma nova Croft. Luddington já é reverenciada pelos fãs das modelos anteriores e de Angelina.

Vikander, por sua vez, mistura o carisma que transita entre a ingenuidade brincalhona do começo do filme com a fibra determinada e necessária para tornar-se uma verdadeira sobrevivente. Ao término deste capítulo, é possível espiar o vislumbre da mulher confiante e poderosa a qual estamos acostumados em uma fresta larga apenas o suficiente para testemunhar o prenúncio do nascimento da detentora das pistolas duplas prateadas.

Foto: Divulgação