O Primeiro Homem – A escuridão da corrida espacial

09/10/2018 - POSTADO POR EM Filmes

Quando um filme sobre a corrida espacial é lançado, imaginamos uma representação heróica e quase épica da jornada da NASA. “O Primeiro Homem” (2018), o novo longa do jovem diretor, Damien Chazelle, trouxe um novo lado dessas missões pelo ponto de vista do astronauta norte-americano Neil Armstrong e sua jornada para se tornar o primeiro homem a andar na Lua. O filme estreia nos cinemas amanhã, 10 de outubro, mas o veredito você já encontra aqui.

A Corrida Espacial

Após ser aterrado devido um problema em sua última missão e sofrer uma tragédia familiar, Neil Armstrong (Ryan Gosling) se inscreve no programa GEMINI, da NASA, que tinha como objetivo mandar o primeiro homem a andar livremente no espaço. Porém, ao sofrerem múltiplos acidentes incluindo a morte de astronautas, eles se questionam se os riscos valem a pena.

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Conflito Familiar

Apesar de ter como objetivo de mostrar as dificuldades enfrentadas para a NASA e a humanidade para alcançarem a lua, Chazelle traz toda essa jornada com um olhar mais humano, por meio da história de Neil Armstrong. Ryan Gosling brilha no papel do protagonista, demonstrando todo o peso que o astronauta segurava para continuar a sua missão, fazendo-o cada vez mais distante de sua família.

Claire Foy também leva destaque, trazendo uma atuação fantástica como Janet Shearon, esposa de Neil. Durante todo o longa vemos esse contraste de alguém que quer esconder seu luto através de missões quase suicidas e alguém que não aguenta mais essa vida e está sempre com medo. Chazelle cria bem esse conflito, sabendo usar bem o silêncio quando necessário.

Além da própria família, vemos também a interação entre Neil e seus colegas astronautas e suas famílias – Kyle Chandler (Deke Slayton), Lukas Haas (Mike Collins), Jason Clarke (Edward Higgins White), Corey Stoll (Buzz Aldrin), Patrick Fugit (Elliott See). É a partir daí que sabemos mais de como as várias falhas antes do inevitável sucesso alteraram a psique do protagonista.

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Claustrofobia em todas as sensações

Chazelle brinca ao utilizar uma película granulada e muitas vezes o uso da câmera na mão, deixando a estética do longa mais condizente com a realidade retratada. Vale destaque para a sequência onde a família de Armstrong é apresentada, onde essas técnicas permitiram uma ilusão de estarmos vendo um vídeo das memórias da família.

Mas o grande destaque do longa são os momentos onde estamos dentro dos “grandes” foguetes. Nos primeiros minutos do filme, já temos uma demonstração do quão claustrofóbico é estar dentro dessas cabines. Há milhares de closes e planos detalhe subexpostos que apenas causam um sentimento agoniante, representando muito bem a impressão de estarmos junto com os astronautas.

Para imergir mais ainda o espectador, o uso dos pequenos sons causados pelo metal da nave tornam perfeita a sensação de precariedade e insegurança das naves. Há um belo contraste do terror que é o lançamento dos foguetes através de uma filmagem completamente borrada e sons ensurdecedores com a calmaria que é o espaço, onde quando não é utilizado o silêncio absoluto, há apenas a trilha sonora fantástica de Justin Hurwitz( La La Land e Whiplash) que apesar de se tornar repetitiva, mescla bem com as cenas do longa, principalmente durante o eventual pouso na lua, onde a trilha cria bem a tensão.

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Veredito

O Primeiro Homem surpreende apresentando uma visão menos patriota do programa espacial, focando mais nas consequências familiares que foram geradas durante o programa. Não há aqui heróis perfeitos em um filme épico, mas sim pessoas complexas lutando para não se perderem após diversas tragédias. Dessa forma, Ryan Gosling realmente incorpora a pele de Neil Armstrong, trazendo um homem em luto, mas muito determinado para terminar a missão que lhe foi concedida.

Chazelle se preocupou bem em mostrar sequências imersivas, fazendo com que mesmo sabendo qual será o resultado final, o espectador ainda fique apreensivo até o momento em que os astronautas retornam para casa. Tudo desde a fotografia aos efeitos sonoros ajudam nessa imersão. Este é um filme que deve ser assistido em IMAX para o maior proveito possível.

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