Ilha dos Cachorros: Animação que Encanta e Instiga

07/08/2018 - POSTADO POR EM Filmes

Nove anos após o lançamento de “O Fantástico Sr. Raposo” (2009), o diretor Wes Anderson volta a dirigir uma animação com o filme “Ilha dos Cachorros”, que chegou recentemente aos cinemas brasileiros. O longa, que faz uso da técnica de stop-motion, traz consigo a marcante direção artística de Anderson, resultando em um deleite para os olhos e para o coração, além de conter uma ótima reflexão social.

A Jornada do Herói

Após um surto de doença que afetou todos os cachorros, o prefeito da cidade distópica de Megasaki exilou todos os animais em uma ilha repleta de itens que são descartados da cidade. Esses cachorros, então, passaram a viver marginalizados nesse ambiente precário e sujo, organizando-se para sobreviver, sem qualquer esperança de retorno para seus antigos donos.

Certo dia, um menino japonês de 12 anos, Atari Kobayashi, chega a ilha em busca de Spots, seu cachorro de estimação. Partindo na jornada em busca de seu amigo canino, o menino conta com a ajuda de um grupo de outros cães que vivem na ilha.

Imagem: Divulgação

A Animação que Encanta

Wes Anderson é um diretor conhecido por seus filmes excêntricos com grande preocupação estética e visual – e aqui não é diferente. A animação, que é feita em stop motion, isso é, quadro-a-quadro, mostra certo cuidado na hora de animar os personagens e os ambientes, resultando em ações cheias de vida e movimento. Dessa forma, há uma atenção especial aos detalhes, desde os planos de fundo ao mexer dos pêlos dos cachorros.

Outro aspecto que se destaca é a direção de arte, pois dá ao longa um tom fantástico e lúdico, criando personagens e cenários que além de remeterem a elementos da cultura japonesa, transmitem uma história singular e cheia de sensibilidade. São claras as peculiaridades da direção de Anderson, que foca em enquadramentos simétricos, montagens dinâmicas e cuidadosas, diálogos pontuais e uma estética bastante única. É como assistir à uma pintura ganhar vida.

Os cachorros, foco da narrativa, têm uma ótima construção durante o filme, além de contarem com a voz de grandes nomes do cinema, como Bill Murray, Edward Norton, Jeff Goldblum, Scarlett Johansson, entre outros. Fato que faz diferença na hora dar personalidade aos protagonistas e envolver quem os assiste.

Imagem: Divulgação

E vai além…

Não é só a animação singular que se destaca no longa. O ótimo roteiro da produção aborda, por meio de analogias, questões como a marginalização, o abandono, o racismo e até temas políticos de abuso de poder e totalitarismo. Tudo isso, de forma sútil e intrínseca em uma narrativa bastante original. O mundo distópico de Megasaki pode facilmente se referir à sociedades reais, o que dá um peso de reflexão sobre a obra.

Além disso, a ambientação e a língua usadas pelos humanos no filme é inteiramente advinda do Japão, sendo pontual constatar a forma como o diretor traduz e transmite o que é falado por meios variados (às vezes por tradução simultânea, às vezes por legenda), sem atrapalhar a compreensão de quem assiste. E, apesar de algumas críticas acusando o filme de xenofobia, Anderson mostra sua própria forma de abordar a cultura oriental, sem perder sua própria identidade, fazendo uso de músicas clássicas de filmes do Akira Kurosawa, outras vezes usando músicas indies ocidentais como “I Won’t Hurt You”, do West Coast Pop Art.

Imagem: Divulgação

Veredito

Finalmente, “Ilha dos Cachorros” é uma animação de identidade forte, que reflete pontualmente o trabalho ascendente de Wes Anderson e sua estética primorosa. É um filme que alcança o público da forma mais democrática e emocionante possível, concebendo uma obra bem executada, com história e visual encantadores. Além das questões que aborda e da direção meticulosa, é, acima de tudo, uma obra atual, expressiva e necessária.

Imagem: Divulgação