A Favorita: as nuances entre paixão e poder

31/01/2019 - POSTADO POR EM Filmes E Oscar

“A Favorita”, o mais recente filme do diretor Yorgos Lanthimos, chega como um dos fortes concorrentes ao Oscar de 2019. Indicado em dez categorias da premiação, incluindo as de Melhor Filme e Melhor Direção, o longa ambientado na Inglaterra do século 18 foi consagrado no Critics Choice Awards e recentemente no Golden Globes, provando categoricamente o valor de sua trama de época, cheia de intrigas e paixões. Além de consagrar um primoroso trio de protagonistas femininas.

O Poder por trás da Sedução

Com a Inglaterra em guerra, vemos a relação de controle e privilégio entre a Rainha Anne (Olívia Colman) e a Duquesa Sarah (Rachel Weisz) ser abalada com a chegada de uma prima da duquesa. Com seu senso de humor e esperteza, a jovem Abigail (Emma Stone)  começa a competir com sua parente pela confiança da monarca. Diante da relação intimidadora entre duas, começa-se a desenrolar uma luta de egos não só pela posição de predileção na corte, como pelos títulos e poder que dela decorrem.

Foto: Divulgação

Lanthimos e o Seu Olhar Atraente

O diretor grego, que tem em seu currículo filmes como “O Lagosta” (2015) e “O Sacrifício do Servo Sagrado” (2017), conta com uma filmografia mais introvertida, de tons secos, poucos diálogos, e narrativas incomuns, que mesclam entre um drama fechado e um humor deslocado. Em “A Favorita” isso não é diferente. Aqui, Lanthimos se arrisca entre uma história séria e densa de intrigas, fazendo cortes para cenas jocosas bastante originais. É uma combinação arriscada que dá bons frutos no material final.

Assim, além de ser uma experiência divertida, os atos do filme, divididos em capítulos, têm seu próprio tempo, o que não prejudica a narrativa, nem a torna enfadonha. O longa tem seu próprio ritmo para contar a história, que traz uma nova exploração dos romances de época. Também tem algumas excentricidades artísticas, tanto na ambientação, como no comportamento dos personagens, que são originais e instigantes à sua própria maneira.

O diretor, ainda, com o posicionamento e movimento da câmera dentro do majestoso palácio, dá a impressão proposital de gigantismo, servindo para refletir toda a imponência que se estende naquele lugar. As roupas suntuosas reafirmam a importância das posições sociais e criam o vislumbre do ideal ali proposto. Os homens com suas perucas exageradas, as mulheres com seus vestidos armados, tudo se mostra como uma grande combinação de elementos que remetem à busca por poder e afirmação das protagonistas.

Foto: Divulgação

O protagonismo e a força feminina

É inquestionável o peso do elenco de “A Favorita”, que conta com as suas três atrizes principais na corrida do Oscar. Olívia Colman faz um trabalho excepcional ao representar a inconstante rainha Anne, que flerta entre a loucura e a depressão, em uma personagem imprevisível e, às vezes, galhofeira. Rachel Weisz, é a duquesa controladora e insensível, que faz de tudo para alcançar o poder. E Emma Stone, como a inconsequente Abigail, uma anti heroína sagaz e divertida, que não mede esforços para concluir seus objetivos.

A complexidade das protagonistas e suas personalidades distintas são o que dá liga ao desenrolar da trama, que conta com paixões, traições e conflitos políticos. Tudo funciona ao redor da relação que se estabelece entre as três mulheres, e a sincronia que exibem em tela é primordial para que o filme funcione integralmente.

Foto: Divulgação

Veredito

Desse modo, é possível detectar as marcas singulares da direção de Lathimos, mas isso não prende o longa à uma fórmula pré concebida. O ascendente diretor se prova mais uma vez como um cineasta multifacetado e inovador, que coloca sua originalidade em cada novo trabalho, e por isso vem ganhando merecido reconhecimento por ele.

Finalmente, “A Favorita” é um filme de época que se adapta muito bem a contemporaneidade. Ele dá um ar leve a uma narrativa densa e acrescenta pontualmente momentos de excentricidade estética com um exótico senso de humor. Além disso, tem um forte enredo, que conta com três personagens femininas bem construídas, que mostram complexidade e independência distintas da maioria das obras desse gênero. Aqui, os homens são meros coadjuvantes na frente das excepcionais Olivia, Rachel e Emma.

Este é, portanto, um forte concorrente ao Oscar de 2019, mas, principalmente, uma nova porta aberta para o ótimo diretor fora do eixo hollywoodiano, que, a partir de agora, finalmente será reconhecido pelo cinema mundial.

Foto: Divulgação