Veredito: Cavaleiros do Zodíaco da Netflix

30/07/2019 - POSTADO POR EM Animes / Mangás

Quando a Netflix anunciou que produziria, juntamente com o estúdio de animação japonês Toei Animation, um remake para “Os Cavaleiros do Zodíaco”, os fãs ficaram animados e, ao mesmo tempo, apreensivos com o que poderia sair dessa parceria. Afinal, a obra de Masami Kuramada, que estreou na televisão no final dos anos 1980, foi um dos principais responsáveis por dar visibilidade aos desenhos japoneses no Brasil, marcando toda uma geração. Recentemente, a plataforma de streaming liberou 6 episódios referente ao que seria a parte 1 da primeira temporada da série animada. A gente já assistiu e você confere agora o que achamos.

Recomeço

“Quando as forças do mal ameaçam a terra, os cavaleiros de Athena surgem para proteger a humanidade”: É com essa frase que cada episódio é iniciado. Em seguida, a abertura, (recriada praticamente idêntica à original), juntamente com o clássico tema “Pegasus Fantasy” (cantado em inglês pela banda britânica, The Struts), pega os fãs de jeito e de cara. Apesar de não ser a versão em português, é impossível não acompanhar toda a sequência cantando e/ou ouvindo a voz de Edu Falaschi no pensamento.

Buscando alcançar um público ainda mais jovem, o novo estilo da série conta com animação em computação gráfica, com uma cara mais infantil, parecendo o gameplay de um jogo de videogame. Apesar de algumas pessoas já terem manifestado certo desgosto, não encaro isso como um grande problema, pois antes um visual mais limpo que algo tão poluído quanto no longa de 2014, “A Lenda do Santuário”, que por vezes cansava a vista e parecia mais um filme dos “Transformers”.

Imagem: Divulgação

Novo enredo

Toda adaptação traz uma forma diferente de contar uma história, logo, já era de se esperar algumas mudanças no enredo já conhecido do público. Ainda que não tenham havido tantas alterações se comparado ao anime original, elas podem ter consequências significativas, para o bem ou para o mal. A seguir, listamos três mudanças no roteiro que consideramos serem mais relevantes.

A primeira delas já ficou conhecida desde o anúncio do remake: Shun de Andrômeda passaria a ser uma mulher e se chamaria Shaun (na versão brasileira o nome Shun foi mantido). Com bastante sinceridade, isso não trouxe nada de novo pra série até agora. Quer dizer, não houve motivo relevante para essa decisão, nem mesmo a questão de representatividade, pois outras personagens mulheres já apresentadas na franquia como um todo parecem ter um lugar mais expressivo que a Shun atual, mesmo esta sendo protagonista.

Além disso, sua aparência continua andrógina e até alguém usar as palavras no feminino, o espectador enxerga o Shun da série clássica. A dublagem brasileira não ficou legal e ajudou a criar essa confusão, pois é difícil reconhecer a voz como masculina ou feminina. Outro ponto discutível e não explicado ainda é o fato de ela não usar máscara, enquanto a Marin de Águia segue com seu rosto coberto.

Imagem: Divulgação

Uma alteração importantíssima, talvez a principal, é sobre o cosmo. Em todo o universo de Cavaleiros do Zodíaco, essa energia é obtida a partir de bastante treino, concentração e auto-superação para ficar cada vez mais forte. Na verdade, esse é um fator comum a qualquer desenho japonês, refletindo a própria cultura do país.

A versão americanizada traz a velha mecânica de qualquer outra história de herói dos Estados Unidos. Ou seja, um Cavaleiro é um ser escolhido, que nasceu sob alguma constelação, recebendo o dom do cosmo sem saber, até enfrentar uma situação em que tal força é despertada. A partir daí, é preciso apenas aprender a controlá-lo. Vamos combinar que essa nova forma de lidar com o cosmo tirou boa parte do brilho da coisa.

Por falar em americanizar, outra diferença foi a introdução de um grande clichê da cultura norte-americana: a figura de Vander Guraad, ex-sócio de Mitsumasa Kido e o mais novo vilão da trama. Guraad é um militar que, juntamente com o avô de Saori, encontrou Aioros, Cavaleiro de Ouro de Sagitário, descobrindo o segredo dos Cavaleiros. Então, decidiu usar tanto esse conhecimento quanto a tecnologia atual para montar um exército de cavaleiros desenvolvido a partir das tecnologias bélicas e o conhecimento obtido ao estudar a armadura de Sagitário. A sua motivação é acreditar que os humanos comuns devem se preparar para enfrentar as forças que podem ameaçar a Terra.

Seguindo outro caminho já conhecido do anime original, o Sr. Kido vai em busca dos jovens escolhidos para serem Cavaleiros de verdade. Fica a dúvida se o militar continuará tendo a mesma importância nos eventos que estão por vir, como uma possível ligação com o mestre do Santuário durante a batalha das doze casas.

Imagens: Divulgação

Irmãos ou não?

Os eventos ocorridos já no primeiro episódio trouxeram de volta um dos maiores rumores da série que só foi desvendado depois de muitos anos, no filme “Prólogo do Céu” (2004): Seika, irmã desaparecida de Seiya, e Marin de Águia são ou não a mesma pessoa? Será que eles mudariam essa resposta? Bem, tudo é possível e eu acho que seria incrível. Só resta esperar o desenrolar dessa história.

Imagem: Divulgação

Veredito

Comparações são inevitáveis. Ainda mais quando trata-se de um marco geracional como “Os Cavaleiros do Zodíaco”, cuja base de fãs que consomem a marca até hoje pode ser bastante exigente. A série foi modernizada, trazendo as personagens para os tempos atuais e isso ajudou a aproximar mais o espectador. Ainda, para o deleite dos fãs, o anime também conta com as vozes dos dubladores originais dos personagens centrais (exceto Shun).

Por outro lado, as mudanças no roteiro e a pressa para contar as coisas tornou a experiência um tanto superficial. Para se ter uma ideia, o conteúdo de 15 capítulos da versão clássica, que contavam da Guerra Galáctica até a batalha contra Ikki de Fênix e os Cavaleiros Negros, foram condensados em apenas 6 episódios. Ou seja, houve uma redução de mais da metade, logo, fica difícil envolver os novos espectadores e os antigos ficam com a sensação de que falta algo.

Como a faixa etária do público-alvo caiu, a violência também foi abrandada. Por isso, não se vê mais sangue ou orelhas decepadas, e as batalhas estão menos sofridas, incluindo a icônica luta entre Pégaso e Dragão – que perde toda a sua emoção. Além disso, ninguém quer ver os heróis lutando contra tanques e helicópteros. Outro aspecto que deixou tudo ainda mais infantil e não funcionou tão bem foi a tentativa de fazer humor. Nisso, transformaram Jabu de Unicórnio na personificação do Tiozão do Pavê, chegando a ser deprimente.

Ainda que houvesse o interesse de alcançar novos admiradores, sem deixar de lado os antigos, a impressão que fica é de que nenhum dos grupos pode ter se convencido de verdade. Essa não é a primeira vez que tentam trazer a franquia de volta, então, só esperamos que essa nova tentativa tenha mais êxito que suas antecessoras: “Ômega” (2012), “Alma de Ouro” (2015) e “Saintia Shô” (2019). A única certeza que temos é que a série está longe de ser o desastre que foi o longa “A Lenda do Santuário” (2014). Então, o segredo, principalmente para os mais aficionados, é segurar a emoção, desapegar, baixar as expectativas e apertar o play.

Pontos positivos

  • Tempos atuais
  • Novos personagens e novas tramas
  • A personalidade, no geral, dos protagonistas é mantida

 

Pontos negativos

  • Ritmo acelerado demais
  • Menos emoção nas batalhas
  • Alívio cômico que não funciona

 

Nota: 5,5