Representatividade LGBTQIA+ em Sailor Moon

18/06/2020 - POSTADO POR EM Animes / Mangás

“Sailor Moon” (também conhecido como “Pretty Guardian Sailor Moon”) é um mangá escrito e ilustrado pela mangaká Naoko Takeuchi. Foi lançado no Japão durante o período de fevereiro de 1992 à abril de 1997, nas revistas Nakayoshi pela editora Kodansha, conhecida por publicar shoujos famosos como “Sakura Card Captors” e “Love Hina”.

A história também teve sua primeira adaptação para anime lançada no mesmo ano, poucas semanas depois, em março de 1992, pelo estúdio da Toei Animation, responsável por títulos como “Digimon” e “Dragon Ball”. Outra curiosidade bastante inusitada é Takeuchi fazia parte da produção do anime de Sailor Moon, então ela roteirizou ambos os trabalhos, além de ficar responsável pela arte final do mangá.

O enredo de “Sailor Moon” é bastante inovador para a época já em sua base de referências. Ele mistura elementos mitológicos, astronômicos, astrológicos, moda e super sentai, além do romance e da comédia do shoujo habitual. Utilizando como base outro mangá já publicado, intitulado “Codinome: Sailor V”, a mangaká o adaptou incrementando os demais itens, para criar uma história que deveria acabar em seis meses, mas que virou um sucesso de cinco anos.

Um coelho perdido

A história de “Sailor Moon” se inicia com Usagi Tsukino, uma garota de 14 anos destrambelhada, chorona, comum e bastante inocente. Um dia ela encontra uma fraca gatinha sendo maltratada por um grupo de crianças e a salva.

Porque o animal tem um formato de lua na testa, ela decide a nomeá-la assim, Luna. Porém eis a surpresa quando a gata começa a, não apenas a falar com a garota, mas informar que está ali em uma missão: encontrar as guerreiras protetoras do Reino da Lua, e sua Princesa, antes que Reino Sombrio invada a Terra e a destrua.

Usagi então se torna Sailor Moon, e com a ajuda de Luna e do misterioso Tuxedo Kamen, ela começa a sua busca pelas demais Sailors e sua Princesa Serenity.

Imagem: Divulgação

Representação LGBTQIA+ no Reino da Lua

No decorrer da história, você vai criando verdadeiro apego pelos personagens, e com o início da terceira onda do feminismo na época, é possível ver várias influências no roteiro de Takeuchi. Além do espaço que a comunidade LGBTQIA+ passava a ocupar na mente dos jovens.

Os personagens de “Sailor Moon” são, em sua maioria, femininos, mesmo sendo guerreiras, isso em uma época que luta era sinônimo de “Cavaleiros do Zodíaco” e outros títulos voltados para um público quase que exclusivamente masculino (shounen). O que fez a audiência feminina prestar atenção, não apenas no romance, mas aos diálogos das cenas de luta e no que elas estavam defendendo.

As Sailors se tornaram símbolos do feminismo pelo sua personalidade forte, carismática e independente, que estavam lá para salvar o dia ao invés de serem salvas (Tuxedo Kamen, o interesse amoroso da protagonista, é, na verdade, o personagem mais sequestrado da franquia toda), e isso trouxe uma imagem a se espelhar. Assuntos como sexualidade, liberdade e autonomia chegava ao estilo garotas mágicas nos mangás.

A heteronormatividade em “Sailor Moon” também foi algo que caiu em desuso, e isso é visível em ambos os meios, mangá e anime. 

O primeiro caso, é o da Sailor Júpiter. Makoto é uma garota que não tem sorte com homens, tida como hétero, ela está sempre sofrendo por um amor do passado, buscando superá-lo de alguma forma, mas que por algum motivo está sempre derretendo o coração das GAROTAS que a conhecem, chegando a receber declarações de algumas no decorrer da história. E é muito interessante ver que, para a época, isso não sofreu qualquer tipo de censura.

Imagem: Divulgação

Um arco do anime possui também um personagem tido como transgênero. O vilão, que ficou conhecido no Brasil como Olho de Peixe (Fish Eye), teve uma relativa curta participação no quarto arco do anime, mas sua personalidade não foi de forma alguma censurada. Mostrado como homem, sua forma de falar era totalmente feminina, e quando se apresentava, deixava muitos na dúvida a respeito do seu gênero, mas logo era esquecido, mesmo que sua sexualidade fosse explicitamente gay.

Quanto aos casais, “Sailor Moon” também não deixou de lado na representatividade, mesmo que tenha sofrido censura quando chegou em outros países, inclusive no Brasil. Kunshite e Zoishite eram um casal de vilões homens gays, mas que para nossa tristeza, se tornou um casal hétero na dublagem brasileira. O outro casal confirmado, tanto no mangá quanto no anime, são das Sailors Urano e Netuno, que nunca tiveram seu relacionamento explícito aqui, devido a censura, posando muitas vezes como amigas ou parentes, apesar de deixar claro terem um namoro lésbico.

No anime há também toda uma saga no qual há Sailors de outra galáxia que, quando não estão na sua forma de guerreira, são homens, e sua sexualidade não é de forma alguma questionada, mas apenas aceita. O que nos faz ver que, para a história não importa sua sexualidade ou gênero, na hora de salvar o mundo, o que conta é sua força de vontade. Apesar de não tratar de identidade de gênero como um tema em si, “Sailor Moon”, um título japonês da década de 1990, acaba introduzindo o assunto de forma sutil e cotidiana.

Imagem: Divulgação

A espiã no planeta Urano

Alguns devem saber que personagens costumavam mudar o nome do seu original japonês devido a dificuldade de pronuncia, seu significado ou a terceirização que o estúdio de dublagem fazia com o original. É o caso de “Sailor Moon”.

Personagens tiveram seus nomes adaptados, como a protagonista Usagi Tsukino que passou a se chamar Serena no Brasil. Isso porque o estúdio norte-americano fez a troca, e era mais fácil explicar que “Selene” (ou Serena) significa Lua em grego, do que toda a mitologia do coelho (usagi em japonês) na lua. Haruka Tenou, a Sailor Urano, no entanto se manteve com seu original, e ela tem uma curiosidade muito legal para ser contada, que influenciou bastante na criação de sua personagem.

A Sailor tem várias similaridades com a famosa espiã Yoshiko Kawashima. Devido a aparência andrógina, a sexualidade aberta e a uma educação de primeira qualidade, a espiã conseguia executar suas ações se vestindo tanto como homem ou mulher, de forma a ter total sucesso em suas missões. Haruka utiliza esse mesmo subterfúgio logo no início em que é apresentada na história, deixando que todos se enganem quanto a seu gênero.

Não que o anime ou mangá deixe isso fácil ou explícito. No japonês, é possível se dirigir a alguém de forma neutra, ou seja, sem a utilização de pronomes masculinos ou femininos. Pensando justamente nessa questão, as falas de Haruka são propositais para causar abalo e testar o relacionamento de Usagi, conseguindo roubar três beijos da protagonista nesse processo no decorrer da história.

“Sailor Moon” é um título que deve ser apreciado pela diversidade de enredos em seus personagens, que claramente foram criados pensando não apenas em um público japonês da época, mas para o seu futuro, deixando espaço para aceitação e amor.

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