Veredito de Pequenos Incêndios por Toda Parte

01/06/2020 - POSTADO POR EM Séries

Baseado em um livro de mesmo título, a série “Pequenos Incêndios por Toda Parte” é uma produção original da Hulu, streaming americano, e chegou aqui pela Amazon Prime Video. Ao todo são oito episódios que focam nos problemas de duas famílias e como isso levou a um misterioso incêndio. Confira agora o que achamos da produção.

Basta uma faísca

Logo no primeiro episódio vemos uma casa em chamas, enquanto seus moradores a observam desolados e a polícia começa a questionar sobre o ocorrido. Depois voltamos alguns meses no passado para ver os acontecimentos que levaram até aquele ponto da história.

Quem encabeça a série são Kerry Washington e Reese Witherspoon. A primeira vive a misteriosa Mia Warren, uma artista e mãe solteira que está sempre indo de cidade em cidade com a filha Pearl (Lexi Underwood). Já Reese é Elena Richardson, uma jornalista que é o estereótipo da mulher perfeita e maternal dos subúrbios dos EUA. Ambas se envolvem quando Mia se torna inquilina de Elena na pacata comunidade de Shaker Heights.

Mia é apresentada como uma pessoa antipática e fechada, que esconde segredos de seu passado. Ela tem uma boa relação com Pearl, até esta se deslumbrar com o estilo de vida dos Richardson e questionar as escolhas da mãe. Para Elena os filhos são a coisa mais importante do mundo, menos quando se trata da caçula Izzie (Megan Stott), que faz o estilo rebelde e não consegue lidar com o bullying que vem sofrendo na escola.

Foto: Divulgação

Cidade pequena

Toda a composição da comunidade de Shaker Heights quer passar uma impressão de beleza, pacificidade e inclusão. Conforme os episódios avançam nós descobrimos que isso é uma fachada para o seu passado controverso, permeado de racismo. Uma questão que se torna um dos pontos principais da história, já que Mia é uma mulher negra de poucos recursos, enquanto Elena é uma matriarca branca e cheia de privilégios.

As ações de Elena, mesmo que negue, são repletas de racismo velado e de até um certo preconceito com seu próprio gênero, além de uma visão muito conservadora sobre maternidade. Mas não se engane, mesmo que Mia seja uma vítima desse comportamento vindo de sua vizinha, ela também tem atitudes erradas na história, se mostra constantemente arrogante e com mania de perseguição.

O fato é que em “Pequenos Incêndios” nenhum personagem está a salvo, todos eles em algum momento tomam atitudes extremamente condenáveis. Essa não é uma narrativa para se tomar lados, mas de compreensão, mesmo que todos estejam errados, são atitudes humanas e o público é levado a entender os motivos daqueles comportamentos.

Foto: Divulgação

A visão de uma mãe

“Pequenos Incêndios” também é extremamente focada em laços maternos e maternidade. Apesar da visão conservadora de Elena, ela é uma das facetas exploradas pela narrativa, a da mãe que tenta ser perfeita. Como jornalista, Elena priorizou os filhos no lugar da carreira e com quatro crianças em casa era mais difícil ter tempo para isso. Então, se contentou com um lugar na imprensa local, dedicando-se ao máximo à família, mas se martirizando por não compreender a caçula, ao mesmo tempo em que tentava “consertá-la”.

Mia representa a mãe solteira que se esforça em dar uma vida melhor à filha. Ela é bem próxima a Pearl, até que a garota começa a questionar as inúmeras mudanças e o fato de nunca poderem ter tido um lar fixo, além de não ter ideia de quem é o seu pai. Os segredos da artista só se acumulam, até que a revelação de seu passado traz à tona um novo debate sobre o seu papel.

Há também duas personagens secundárias que se envolvem em uma briga judicial sobre a guarda de uma criança. Sem spoilers aqui, mas esse é um dos questionamentos mais profundos em relação à maternidade da trama. Mesmo que você saiba que apenas uma delas pode ficar com o bebê, dá para entender os dois lados e o sofrimento que as rodam só de pensar em ficar sem o filho.

Foto: Divulgação

Veredito

“Pequenos Incêndios” é uma série que sabe se construir com base no suspense em volta de seus personagens e no drama familiar. Ela tem algumas cenas muito boas que focam no uso do fogo, um lembrete para o espectador não esquecer o que vai acontecer no final, mesmo que ele não saiba como.

Os debates levantados são bastante relevantes, e os protagonistas são construídos para que você entenda os seus lados, mas jamais queira passar a mão em suas cabeças se as atitudes forem erradas. Algumas das subtramas dos adolescentes não são bem exploradas e há momentos em que a narrativa fica mais lenta, porém nada que prejudique a experiência.

É importante saber que o final deixa várias questões em aberto, talvez até demais, porém ainda não há notícia sobre uma segunda temporada. Mas, mesmo com isso em mente, a narrativa vale a pena e consegue ser boa o suficiente para te prender do início ao fim.

Pontos positivos

  • Narrativa intrigante
  • Debates pertinentes
  • Boa trilha sonora

Pontos negativos

  • Lentidão em algumas cenas
  • Subtramas pouco exploradas
  • Final com muitas questões abertas

NOTA: 8,5