Veredito de O Agente Secreto

06/11/2025 - POSTADO POR EM Filmes
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Recebemos o sucessor espiritual de Ainda Estou Aqui (2024) pelas mãos do diretor Kleber Mendonça Filho (Aquarius, Bacurau). O Agente Secreto estreou já aclamado no exterior, conquistando atenção internacional e sendo escolhido para representar o Brasil no Oscar 2026 na categoria de Melhor Filme Internacional.

Nós conferimos a produção e vamos contar pra vocês o porquê de todo esse burburinho em torno do filme.

Enredo

Nos anos 1970, o enigmático Marcelo (Wagner Moura) se muda para Recife em busca de um novo começo e para preencher as lacunas do próprio passado. Com a ajuda de amigos e vizinhos, tenta viver discretamente e evitar as autoridades locais, mas a tensão ao seu redor cresce a cada dia.

Imagem: Divulgação

A tensão que se sente

Talvez O Agente Secreto não seja o filme que você espera, e isso não é necessariamente ruim. Assim como Bacurau (2019), ele começa de um jeito e vai se revelando aos poucos, desafiando as expectativas e surpreendendo pela forma como conduz a narrativa.

Situada em plena Ditadura Militar, aqui o período histórico tem uma abordagem diferente do que foi visto no nosso último concorrente ao Oscar. A repressão está presente, mas não de forma tão direta com o personagem principal, deixando aquele clima de tensão que permeia os fatos principais da trama.

Aliás, você consegue ver o valor de produção em tela facilmente. Toda a recriação histórica dos anos 70, com as ambientações, os carros, as roupas, tudo foi feito com muito cuidado. Por conta disso fica mais fácil imergir na trama e ser fisgado pelos desenrolar dos acontecimentos.

Imagem: Divulgação

Texto oscilante

Outra coisa que surpreende no decorrer do filme é como o texto é inesperadamente bem-humorado. A cena inicial tem um peso absurdo, uma angústia do não entender o que está acontecendo, mas sentir um perigo rondando o protagonista. Porém, após isso, temos uma quebra total com uma cena bem mais leve.

É muito interessante ver com O Agente Secreto oscila muito bem entre esses dois extremos, um mérito tanto do roteiro e da direção como dos atores. Wagner Moura está excepcional, entregando uma atuação cheia de nuances. Tânia Maria (que havia sido figurante em Bacurau), rouba a cena como o alívio cômico mais carismático do longa, enquanto Maria Fernanda Cândido brilha em um momento particularmente intenso.

Mas apesar do texto forte, que entrega ótimos comentários socioculturais, principalmente no que diz respeito à xenofobia contra os nordestinos, acredito que o filme se enfraquece pelo excesso de tramas paralelas. Sua longa duração permite que várias subtramas sejam exploradas, porém, elas contribuem para que no final pareça que ficaram pontas soltas demais.

Obviamente o filme não tem a necessidade de nos entregar tudo de mão beijada, mas para uma produção de longa duração eu senti que seu fim chegou de forma repentina e que não teve um fechamento tão redondo quando poderia.

Imagem: Divulgação

Veredito

Uma produção de alto nível do cinema nacional e que merece ser vista em tela grande, O Agente Secreto merece sim o hype que gerou, contanto que o público adeque as suas expectativas com o projeto. Não vá esperando uma trama de espionagem super complexa, o filme oferece sim muita tensão, mas não exatamente dessa forma.

Assim como em Bacurau (2019), aqui temos o uso do lúdico e do bom-humor para quebrar alguns pontos da narrativa, pegando o expectador desprevenido, mas sem parecer deslocado. Pelo contrário, só torna a história mais rica.

Uma pena que ficaram tantas lacunas abertas no final, acredito que o filme se beneficiaria de um fechamento mais claro para muitas de suas subtramas. Mesmo assim, o saldo que fica é positivo, e a nossa torcida para o longa na corrida do Oscar também!

Pontos positivos:

  • Direção
  • Elenco
  • Recriação história
  • Oscilação entre humor e tensão

Pontos negativos:

  • Excesso de subtramas
  • Final muito aberto

NOTA: 9,5