Baba Yaga está de volta do exílio, com raiva e sem sequelas. É entusiasmante ver a admiração de Chad Stahelski, antes dublê de Keanu Reeves e agora diretor, pela figura do seu ator-personagem símbolo no que é hoje uma das maiores sagas de filmes de ação do século XXI.
O quarto capítulo de John Wick, de quase 3 horas de duração (!) chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (23), prometendo e entregando o que seu público-alvo mais deseja: porrada. Vamos discutir.
Dōmo arigatō
Ao retornar do purgatório, John (Reeves) procura um modo de se libertar do contrato com a Alta Cúpula, que continua aumentando o preço por sua cabeça. Sem a opção do Hotel Continental de Nova York, o cerco se fecha.
Durante a busca por alternativas, velhos amigos – uns agora inimigos – cruzam o caminho do exército de um homem só. Dessa vez, o Continental de Tóquio recebe a comitiva do Marquês de Gramont (Bill Skarsgård), que investe alto pelo obituário do assassino.
Além disso, o elemento surpresa que o filme precisava se encaixou perfeitamente: trazer Caine, um assassino de aluguel cego e “aposentado”, para caçar Wick, e dar o papel ao lendário Donnie Yen (Ip Man, Era uma Vez na China 2, Herói) é uma baita homenagem ao cinema de artes marciais.
Técnica de alto nível
É fácil dividir a estrutura dos longas da saga: primeiro combate > cena conectora > combate maior > outra conexão > luta final. Neste capítulo, não havia melhor escolha visual para abrir os trabalhos do que um prédio em Tóquio durante a noite.
Acompanhar uma matança ao lado de uma cerejeira florida é uma contradição temática que só faz sentido em John Wick. A beleza dentro do conflito físico. A harmonia visual diante de mortes grotescas.
O trabalho de Dan Laustsen, fotógrafo desde John Wick 2 (2017), respeita a beleza do ambiente ao fundo das ousadas coreografias que Reeves executa em primeiro plano. Aliada à edição segura de Evan Schiff, que não tem dedo nervoso para cortes e deixa a ação rolar, John Wick 4 nos presenteia com as cenas de ação de maior escala da franquia.
A identidade estilística só cresce pela manutenção da equipe técnica e a química da câmera de Stahelski com Reeves contribui para sequências que só ficariam tão naturais em um casamento entre os dois.
Praticamente tudo no 1° ato funciona, com a sub-trama de Shimazu (Hiroyuki Sanada) e Akira (Rina Sawayama) servindo de propulsor para Wick e como apresentação do potencial mortal de Caine.
Nem tudo são flores
Apesar do início avassalador, o longa rapidamente se incha quando parte para Berlim e pula para Paris. São os 45 minutos além do necessário que cansam o público, antes de gerar aquele suspiro de preparação para o ato final.
Claro, não podiam faltar sequências de troca de tiros de tirar o fôlego, com destaque para o longo plano zenital (filmado de cima) na casa. É esse tipo de experimentalismo que garante ao espectador a confiança para pagar por um filme que se propõe a arriscar no quesito ação.
Uma pena que, dessa vez, esses recursos de movimento e de planos longos sejam tão repetidos que perdem um pouco da mágica. O que era surpreendente satura pelo abuso autoindulgente.
Veredito
John Wick 4 exagera no fim pela metragem de 2h50min, quando poderia se amarrar em 2h com a mesma proposta e com seus principais momentos, assim como o terceiro conseguiu.
De qualquer forma, são quase 10 anos de Reeves segurando a série de filmes sem vendê-la como uma franquia de vários spin-offs, o que seria o mais fácil, lucrativo e preguiçoso. Um salve para Stahelski por essa fé. É claro que existe um derivado em desenvolvimento, que será estrelado por Ana de Armas, mas ele vem em um momento posterior à finalização da franquia principal.
Por fim, não chega perto de Missão Impossível (1996 – ) pelo carisma que Tom Cruise mantém por mais de 20 anos e que continua se atualizando, mas marca sua história pelo estilo único e pela lenda do Baba Yaga (quase) imortal.
Pontos negativos:
- Pelo menos 45 minutos de inchaço na metragem
- Propostas de cenas de ação repetidas
Pontos positivos:
- Manutenção da abordagem estilística dos filmes passados
- Sequências de combate cada vez mais ousadas
NOTA: 7,5/10