Veredito de A Maldição da Mansão Bly

18/10/2020 - POSTADO POR EM Séries

O sucesso de A Maldição da Residência Hill (2018) garantiu à Netflix uma nova temporada da antologia de terror, situada dessa vez em outra mansão, na Inglaterra, na década de 1980. A Maldição da Mansão Bly foi lançada no começo de outubro, o “mês do terror”, e se mantém entre os títulos mais vistos da plataforma. Confira agora nosso veredito da série.

Ares sinistros

Presenças ou visões sobrenaturais não são novidade para Dani Clayton (Victoria Pedretti), nova au pair do casal de irmãos Flora (Amelie Bea Smith) e Miles (Benjamin Evan Ainsworth) – pequeno que rouba a cena -, de 8 e 10 anos, respectivamente. Os pais das crianças morreram anos antes e a casa de veraneio virou o lar dos irmãos sob os cuidados da governanta Hannah Grose (T’Nia Miller), do cozinheiro Owen Sharma (Rahul Kohli) e da jardineira Jamie (Amelia Eve).

Enquanto se adapta ao enorme espaço, Dani percebe comportamentos diferentes nos irmãos se comparados às crianças da mesma faixa etária. Somam-se às dúvidas quanto ao passado da família e, principalmente, à última babá, morta no local, e o cenário começa a abrir para uma história sombria.

Imagem: Divulgação

Entre o Inferno e o Paraíso

“Alma criada para amar ardente,

A tudo corre, que lhe dá contento,

Se despertada do prazer se sente”

Canto XVIII Purgatório, Divina Comédia

No trecho acima, Virgílio explica a essência do amor verdadeiro para Dante no 4° compartimento do Purgatório. O local é de purificação de quem se arrependeu de seus pecados enquanto vivo, segundo a doutrina católica, e é a segunda parte da longa caminhada da “Divina Comédia“.

A Mansão Bly é, de certa forma, um purgatório para as almas que não só pecaram, mas para aquelas que não aproveitaram as oportunidades da vida, por não poderem amar como gostariam e ainda tem esperanças de fazê-lo.

E o terror?

Se você esperar de A Maldição da Mansão Bly um terror estilo jumpscare com constantes espíritos pulando na tela, vai se decepcionar. Porém, a intenção aqui é ir além do terror: é de construir um ambiente misterioso através de personagens com ainda mais segredos, em um mergulho profundo no passado daquela terra.

Os 9 episódios vão numa crescente de revelações que nos explicam como os fatos foram estruturados, sempre com flashbacks que adicionam muito –  ao mesmo tempo que atrasam o ritmo da trama do presente.

O diretor Mike Flanagan já demonstrava ótimo uso da sugestão com o fundo desfocado em Hush, auxiliado pelo diretor de fotografia James Kniest, que trabalhou em quatro episódios da série. Os vastos espaços da mansão permitem um ângulo maior de visão sobre os personagens, embora pareçam ser engolidos pelo ar sombrio e carregado de Bly, dentro ou fora de casa.

Imagem: Divulgação

Veredito

A ideia que vai se intensificando à medida que a conclusão da série se aproxima é a de que o tormento pelo seu passado, pelas angústias do presente e pela ansiedade do futuro podem ser acalentados por um elemento que Virgílio já defendia: o amor.

Os três últimos episódios – os melhores – explicam como a estrutura antes alegre da mansão se tornou melancólica ao longo das gerações. Porém, a paixão entre certos personagens passou a ser também sua maldição e o motor para tristezas que reverberam em todos.

A variação de foco da série, do terror ao drama romântico, pode não agradar quem desejava uma abordagem mais dark e menos “melosa”, mas não decepciona pelo modo como caminha até seu fim esperançoso.

Pontos positivos

  • Uso do espaço da mansão como acréscimo sugestivo através da fotografia
  • Surpresa na qualidade de atuação das crianças

Pontos negativos

  • Quebra de expectativa quanto ao terror
  • Primeiros episódios com ritmo lento

Nota: 8