Veredito da 1ª temporada de His Dark Materials

06/01/2020 - POSTADO POR EM Séries

Adaptar uma obra literária para o audiovisual é sempre um grande desafio, pois é preciso entender pontos cruciais da história para que ela não se perca, além de considerar uma multidão de fãs com suas expectativas. É importante que a versão adaptada seja coerente com a original mesmo que ela não, necessariamente, siga os mesmos passos, afinal são linguagens diferentes.

A nova aposta da HBO em parceria com a BBC, “His Dark Materials”, baseada na trilogia de livros de Philip Pullman, concluiu sua primeira temporada e vamos contar para vocês o que achamos dessa aventura.

Adaptações e seus dissabores

Sendo inevitável comparar com o longa adaptado anteriormente, a série deu um passo além nas discussões filosóficas contidas na obra original de Pullman, mostrando a opressão que o governo teológico do Magistério aplicava sobre a sociedade daquela realidade, além das atrocidades cometidas em nome da Autoridade (entidade que faz analogia a Deus, no nosso mundo). Ainda assim, as explicações sobre o Pó, elemento em volta do qual o enredo se desenvolve, ficaram ainda muito superficiais ou até mesmo didáticas, com diálogos breves.

Os daemons, outro elemento essencial desse universo, tiveram relevância abaixo do que eles realmente representam: a personificação da alma dos humanos na forma de animais. No fim das contas, há a impressão de que eles foram tratados, talvez, como meros bichos de estimação. Em vários momentos, ou você pode ficar se perguntando onde estão os daemons ou simplesmente esquecer de sua existência, seja pela falta de interação entre eles e seus humanos ou simplesmente porque eles não aparecem, mesmo em planos de cena distantes, com muita gente.

Apesar da importância reconhecida dentro da série, personagens de muita relevância pareceram ter sido um tanto menosprezadas, com participações breves e/ou cenas rasas. A narrativa em torno de batalhas decisivas e tão esperadas criaram toda uma atmosfera de grande expectativa e suspense, mas que na “hora H”, tudo acabou sendo resolvido de forma muito rápida.

Uma boa e inesperada escolha da série foi já introduzir um pouco do que só é mostrado no segundo livro “A Faca Sutil” , que, pela lógica, deveria aparecer apenas na temporada seguinte. Dessa forma, permitiu-se que a história dos dois primeiros livros se diluíssem gradualmente. Com isso, não haverá uma quebra brusca no desenrolar do enredo como acontece na obra literária.

Foto: Divulgação

Atuações brilhantes são o ponto máximo

A performance de Dafne Keen é de uma Lyra Belacqua simpática e ingênua, mas bastante determinada e corajosa ao sair na busca de seu melhor amigo e de descobrir os segredos do Norte, tal como ela é nos livros. Citamos também as participações admiráveis de James McAvoy, com o misterioso Lorde Asriel e suas experiências, e de Lin-Manuel Miranda, como o aeróstata Lee Scoresby e, sendo este conhecido pelo aclamado musical “Hamilton”, ficamos esperando ele começar a cantar uma música a qualquer momento.

Mas, quem dá um show mesmo, como já era de se esperar, é Ruth Wilson e sua vilã Sra. Coulter. A forte personalidade da personagem e desempenho da atriz são dois ingredientes que deixam tudo mais interessante e bastante imprevisível. O espectador pode chegar a ficar confuso e questionar se sua maldade é verdadeira ou se ela tem motivações que tornam suas atitudes um pouco mais compreensíveis, ainda que injustificáveis.

Foto: Divulgação

Veredito

Ainda que a atuação do elenco esteja muito boa, a série entregou um enredo um pouco monótono, principalmente em pontos cruciais, que deveriam ser o clímax. Além disso, personagens icônicos também são apresentados de uma forma bem abaixo de sua verdadeira magnitude. Contudo, a série apresenta um universo coerente, agradando aqueles que já conhecem os livros. Também obtém sucesso em entreter o suficiente para segurar a atenção da audiência e seus momentos finais alcançam a dinâmica necessária para empolgar o espectador.

“His Dark Materials” já está com a sua segunda temporada em produção, tendo sido planejada para apenas três, uma para cada livro. Nos resta torcer para que Jack Thorne consiga se aproximar ainda mais do potencial que a obra de Pullman tem, nos trazendo uma trama mais madura, envolvente, emocionante e mágica. Esperamos também que o Pó, seja abordado de forma consistente, pois ele é o elemento principal do desenvolvimento da história como um todo.

Pontos positivos

– Faz jus à obra original de Philip Pullman;
– Efeitos visuais de qualidade;
– Elenco carismático e ótimas atuações.

Pontos negativos

– Daemons subestimados;
– Batalhas decisivas mal elaboradas;
– Faltou mais magia.

Nota: 7,5