Assim como “13 Reasons Why”, “Insatiable” já chegou repleta de polêmica e confusão na Netflix. Apenas com o lançamento do primeiro trailer, a produção conseguiu 220 mil assinaturas numa petição online contra a mesma, com acusações de que estaria promovendo a gordofobia. Porém, a mensagem que fica após os 12 episódios é da tentativa de subverter essa impressão, ainda que de maneira falha.
Confira agora o que achamos dessa nova aposta do serviço de streaming.
Bullying, humilhação e fat-shaming
“Insatiable” nos apresenta a história de Patty Bladel (Debby Ryan) , uma adolescente alvo de todo tipo de ridicularização por parte de seus colegas de escola apenas pelo fato de estar acima do peso. Porém, após envolver-se numa briga com um morador de rua, Patty machuca sua mandíbula e acaba emagrecendo. Com seu novo visual, ela recebe a oportunidade de começar a competir em concursos de misses e usará isso para se vingar de todos aqueles que desdenharam dela.
A série baseia toda a sua comédia em humor negro, portanto o que não faltam são piadas duvidosas com assuntos delicados, o que pode desagradar grande parte dos espectadores. Já na questão da gordofobia vemos várias tentativas de mostrar que mesmo que agora esteja com o corpo considerado ideal, Patty ainda não se sente bem consigo mesma.
A produção consegue colocar cenas e diálogos que demonstram momentos frágeis bem realistas da personagem, nos quais ela se questiona sobre a sua insegurança que supostamente deveria ter desaparecido com o novo visual. Todo o bullying sofrido prejudicou o psicológico da garota de tal maneira que não poderia ser resolvido com uma simples mudança em seu corpo. Infelizmente, essa mensagem se perde na bagunça que a série se torna depois de quatro ou cinco episódios.
Foto: Divulgação
Tiaras, concursos e um pouco de insanidade
Além de Patty acompanhamos de perto a vida do advogado/preparador de miss Bob Armstrong (Dallas Roberts), que vê na garota sua chance de um retorno triunfal aos concursos de beleza. Bob teve a carreira arruinada por falsas acusações de assédio e agora precisa se reerguer. Ao seu lado temos Coralee (Alyssa Milano), a típica esposa socialite que quer sempre se provar e Bob Barnard (Christopher Gorham), seu maior rival na advocacia e nas competições.
A relação que se estabelece entre Bob e Patty é basicamente pautada no fato do advogado ter que tirá-la de inúmeras confusões, sendo a primeira a briga com o morador de rua. A partir daí é quase inacreditável o número de vezes que a garota consegue arrumar problemas, o que torna difícil para o público criar empatia. Patty ficou presa em um ciclo vicioso de errar e tentar consertar, ela não consegue manter um relacionamento saudável com a mãe já problemática, a melhor amiga que a acompanha há anos, os garotos que gosta ou o próprio Bob, que segundo a mesma foi a primeira pessoa a acreditar em seu potencial.
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Construção fraca e piadas ruins
O roteiro do seriado é fraco, ele faz uso de diversos estereótipos, tendo como principais alvos pessoas acima do peso e o público LGBTQI. Apesar de tocar em assuntos tão em pauta, a forma como são abordados é rasa, o que acaba provocando falta de interesse ainda no primeiro episódio. (#Rebeca)
A série ainda falha em um ponto crucial que é no humor. Apresentada como uma produção de comédia, “Insatiable” vale-se de cenas absurdas para tentar arrancar risadas do espectador, porém o conteúdo confuso e de mal gosto das situações provoca mais revolta com os personagens do que qualquer outra coisa.
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Veredito
Das apostas recentes da Netflix, “Insatiable” provavelmente é uma das mais infelizes. Construída para chocar o espectador com suas piadas de humor negro e momentos incoerentes, mas também com o intuito de mostrar uma história de redenção, quebrando ideais pré-concebidos de beleza e imagem, ela consegue falhar em grande parte desses pontos.
É visível o esforço da produção em subverter o conceito de que pessoas dentro do padrão de beleza são as ideais, visto que elas são mostradas como repletas de falhas. Porém isso não é bem explorado, perdendo-se no meio de tramas secundárias que surgem e que substituem a história principal inúmeras vezes. No final, a série fica presa na sua própria tentativa de trazer algo positivo pela falta de um roteiro bem construído e devido à um humor ineficiente.
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