Os Anéis de Poder: racismo e machismo de um público que não conhece a obra

18/09/2022 - POSTADO POR EM Séries

Não existe isso de elfos negros. Nem elfos brancos. Porque elfos não existem. Sereias também não. O que existe muito é gente racista e machista que defende que obras de ficção/fantasia devem seguir apenas um padrão pois sempre o viram replicado na cultura geek. 

Isso resume as polêmicas recentes envolvendo a série O Senhor dos Anéis:  Os Anéis de Poder, do Prime Video, com um movimento de avaliações negativas por parte do público em plataformas como Rotten Tomatoes e IMDb, apenas por ter representatividade racial no vasto elenco.

É sobre essas questões que iremos debater a seguir. Acompanhe.

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A polêmica do elfo negro

Desde o lançamento dos trailers há discussões nas redes sociais quanto a Arondir (Ismael Cruz Córdova), um elfo da floresta, interpretado por um ator negro e latino. Imaginava-se que, como em nenhum dos seis filmes feitos sobre a Terra-Média havia elfos negros, eles não poderiam existir. Ingenuidade, no mínimo.

As características físicas dos elfos criados por Tolkien, autor de Senhor dos Anéis, e adaptados para o cinema por Peter Jackson, são daqueles descendentes dos Noldor, um dos três clãs dos Elfos de Valinor. A pele clara e os cabelos dourados ganharam fama, mas de nenhuma forma deveriam restringir a raça somente à isso.

Em uma matéria postada pelo canal Projeto Tolkien, temos argumentos de que Tolkien nunca descartou descrever um elfo como tendo pele escura. Definir apenas um perfil para as várias raças do Legendarium porque não houve mais citações a elas é errado. 

E mesmo se isso ocorresse, os criadores da série não são obrigados a seguir exatamente o que foi escrito. Afinal, desenvolver um universo tão grande em cinco temporadas requer muito estudo, organização e coragem para marcar história no gênero da fantasia.

Imagem de divulgação de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder

E essa Galadriel guerreira?

Não bastasse todo esse debate, também questionaram o fato de Galadriel (Morfydd Clark) possuir um espírito de luta tão ostensivo nos primeiros episódios de Anéis de Poder. Ora, quem reclama disso imaginava que ela seria um dos seres mais poderosos da Terra-Média somente pela beleza? Novamente: a ignorância e preguiça de ler.

Galadriel tem tanta força física quanto mental, aliadas com um senso de liderança que a tornam uma guerreira formidável, como estamos vendo na série. 

Especialista na obra de Tolkien e editor do livro “A Natureza da Terra-média”, Carl F. Hostetter, confirmou em conversa com o canal Tolkien Talk que a elfa nunca perdeu sua bravura, sendo retratada como uma amazona pelo autor.

Em trechos desse livro e do Silmarillion (1977), há vários momentos destacando a valentia de Galadriel no campo de batalha. No último filme da Trilogia do Hobbit, A Batalha dos Cinco Exércitos (2014), a própria elfa expõe seu poder contra Sauron, forçando o vilão a recuar. 

Enfim, argumentos não faltam de que parte do público está disfarçando racismo e machismo como “defesa da obra original”. Muitos não entendem que os produtores e diretores audiovisuais estão trabalhando, antes de tudo, para expor suas visões artísticas e criar um estilo visual para uma história, não para agradar uma parcela específica de fãs dos livros.

Imagem de divulgação de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder