Veredito de Digimon Story: Time Stranger

10/10/2025 - POSTADO POR EM Jogos

Em um cenário onde a indústria de grandes produções se preocupa mais com fotorrealismo e mundos cheios de partículas do que com alma e identidade, Digimon Story: Time Stranger surge como uma lembrança do que faz um bom RPG ser inesquecível. Ele entende a importância de unir sistemas envolventes com emoção genuína, e entrega uma experiência que conversa diretamente com o coração de quem cresceu com a franquia, mas também surpreende quem nunca colocou os pés no Digimundo.

Time Stranger é um jogo que resgata o espírito de aventura, amizade e transformação que sempre definiu Digimon. Ele não tenta competir com os gigantes do gênero, como Persona ou Final Fantasy, mas escolhe outro caminho: o de oferecer uma experiência acolhedora e recompensadora, equilibrando nostalgia e modernidade com uma naturalidade rara.

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História

A trama começa de forma misteriosa. O jogador assume o papel de um Agente da organização Adamas, encarregado de investigar fenômenos conhecidos como “Anomalias”, que ameaçam tanto o mundo humano quanto o digital. Essa premissa rapidamente se transforma em algo muito maior, envolvendo viagens no tempo e uma guerra que atravessa eras e dimensões.

A viagem temporal não é apenas um recurso narrativo, mas o coração da experiência. A cada salto entre passado e futuro, o jogador reencontra personagens em momentos diferentes de suas vidas, o que cria laços emocionais genuínos. Essa estrutura narrativa, além de criativa, faz com que as missões secundárias tenham peso real. Ajudar um personagem no passado, por exemplo, pode alterar completamente a forma como ele aparece no futuro, e isso dá ao jogo uma sensação constante de impacto e progressão.

O elenco é um dos pontos mais fortes. Humanos e Digimon têm personalidades bem definidas, com destaque para Inori Misono e seu parceiro Aegiomon, que dão à história um eixo emocional firme. Mesmo os personagens coadjuvantes têm momentos de brilho, e é fácil se apegar a eles com o passar das horas. O único tropeço está no protagonista silencioso, cuja falta de expressividade às vezes quebra o peso emocional de certas cenas. Ainda assim, o roteiro se mantém envolvente do início ao fim.

Jogabilidade

A estrutura de Time Stranger combina o melhor dos RPGs por turno tradicionais com sistemas modernos de progressão e personalização. O combate é fluido, visualmente impactante e cheio de nuances. Cada Digimon possui fraquezas e resistências específicas, e entender essas dinâmicas é essencial para montar uma equipe eficiente. Há distinções entre ataques físicos e mágicos, o que força o jogador a pensar estrategicamente antes de agir.

O verdadeiro coração da jogabilidade, porém, está na digievolução. Cada criatura possui um nível máximo de “Talento”, que aumenta a cada nova evolução e permite que ela alcance níveis mais altos no futuro. A possibilidade de digievoluir e de-digievoluir adiciona uma camada viciante ao progresso. O sistema de personalidades, dividido em categorias como Coragem, Sabedoria, Filantropia e Amigabilidade, influencia diretamente os atributos e as habilidades dos Digimon, tornando cada um único.

A Digi Fazenda, onde é possível treinar até trinta Digimon ao mesmo tempo, é outro ponto central. Lá, o jogador aprimora atributos, muda personalidades e prepara seus monstrinhos para desafios maiores. O processo, contudo, sofre com certa lentidão: os menus poderiam ser mais ágeis e intuitivos. Mesmo assim, há um prazer quase terapêutico em ver seus Digimon evoluírem, alcançarem novas formas e conquistarem poder. É um sistema de progressão que recompensa o esforço e a paciência.

Imagem de DIGIMON STORY TIME STRANGER

Gráficos

Visualmente, Digimon Story: Time Stranger adota um estilo artístico vibrante e estilizado. Longe do realismo de outros RPGs contemporâneos, o jogo aposta em cores vivas e cenários cheios de personalidade. As regiões do Digimundo são temáticas e visualmente distintas: zonas vulcânicas, florestas digitais, desertos corrompidos e templos sagrados criam uma sensação de diversidade constante.

Os modelos dos Digimon estão entre os melhores já vistos na franquia, e as animações de ataque e vitória são um espetáculo à parte. Ver cada criatura se mover com tanta energia e carisma reforça a sensação de cuidado e carinho que a equipe de desenvolvimento teve com o material original.

Apesar da beleza visual, o jogo não é tecnicamente perfeito. A taxa de quadros nem sempre é estável, mesmo em consoles mais potentes, e há pequenos problemas de performance em áreas mais densas. Ainda assim, o impacto artístico supera qualquer limitação técnica.

Trilha sonora

A trilha sonora de Time Stranger é emocionante e variada. As faixas de combate são intensas, enquanto os temas das cidades e fazendas transmitem calma e melancolia. Há um equilíbrio muito bom entre músicas orquestradas e composições eletrônicas que evocam o ambiente digital do mundo dos Digimon.

No entanto, há uma decisão questionável: músicas clássicas do anime, como “Butterfly”, estão presentes, mas trancadas atrás de um pacote pago. É uma escolha que certamente decepcionará fãs de longa data, especialmente considerando o quanto essas canções fazem parte da identidade emocional da franquia. Ainda assim, a trilha original cumpre seu papel com competência, dando ritmo e emoção à jornada.

Veredito

Digimon Story: Time Stranger é um lembrete de que grandes jogos não precisam de gráficos ultrarrealistas ou mundos infinitos para encantar. Basta ter propósito, emoção e sistemas que valorizem o tempo do jogador. É um RPG que entende suas raízes, mas também olha para frente, entregando uma aventura profunda, divertida e moderna.

Pontos positivos:

  • Sistema de digievolução e personalização viciante
  • Elenco carismático e história envolvente
  • Combate estratégico e recompensador
  • Direção de arte vibrante e cheia de vida

Pontos negativos:

  • Menus lentos e repetitivos na Digi Fazenda
  • Ausência de dublagem e personalização mais ampla do protagonista
  • Conteúdo musical adicional bloqueado por DLC

Nota: 9/10